sexta-feira, 18 de abril de 2014

Lula, o filho do Brasil - Lembranças duras da infância



Vendo a história de vida e de família deste homem, 
vemos a história de vida de nossas famílias brasileiras.

A leitura do livro de Denise Paraná é uma delícia, é esclarecedora e nos faz sentir algo de nostalgia, e também nos traz recordações de um contexto histórico coletivo. 

Ela faz a história de Lula e sua família ser algo comum a todos nós que temos família da mesma geração do Presidente. Lula nasceu em 1945. Meu pai nasceu em 1942 e minha mãe em 1946. Vemos a história da família de Lula assim como vemos a história de nossa família, ainda mais quando temos a mesma origem humilde que eles tiveram.


Pai de Lula tratava melhor os cachorros e preferia eles em relação aos filhos

"A coisa mais marcante naquela época era que a gente tinha um cachorro chamado Lobo. Era um cachorro que inclusive foi a razão de uma briga do meu pai e da minha mãe em São Paulo. Quando nós chegamos em Santos, o meu pai, ao invés de ficar preocupado por que nós tínhamos chegado sem avisar ele, a primeira pergunta que ele fez foi: 'Cadê o cachorro?'.

Meu pai ficou nervoso porque minha mãe não trouxe o cachorro. Imagina trazer um cachorro num pau-de-arara durante 13 dias... Esse cachorro - o nome dele era Lobo -, a coisa mais marcante é que ele ficou chorando em volta do lugar que nós estávamos. E minha mãe não abria a porta que era para ele não ver a gente. Então ele ficou chorando até que a gente saiu e veio embora. Meu tio que ficou lá pegou o cachorro e levou para a casa dele. Então esse cachorro morreu poucos dias depois, parou de comer, ficou triste... Ele morreu. Meu pai ficou muito nervoso porque achou que minha mãe deveria ter trazido o cachorro para São Paulo. Não deveria ser um cachorro de raça, acho que era um cachorro qualquer." (página 48)


"Uma outra coisa que me marcou muito no meu pai é que um dia - em 1952, a minha irmã tinha uns 3 anos - eu via meu pai comendo pão e a minha irmã pedindo um pedacinho. Meu pai pegava os pedacinhos de pão e ia jogando para os cachorros. Ele não dava para ela. Eu não tenho certeza se ele estava ouvindo ela pedir, mas eu sei que isso me marcou muito. Na época eu tinha uns 8 ou 9 anos. Aquilo me marcou muito: como é que o cara via uma criança pequena de 3 anos ali pedindo um pedaço de pão e ele... Meu pai tinha muitos cachorros. Cuidava dos cachorros. Acho que ele cuidava mais dos cachorros do que dos filhos. Ele adorava os animais que ele tinha em casa." (página 50)


COMENTÁRIO

É impressionante! Ao ver o Lula falar de seu passado, podemos ver nossos pais e tios falando do passado deles. É algo muito brasileiro. Algo muito daquela época e dos costumes.

Quando eu era pequeno ficava ouvido meus vários tios por parte de pai e por parte de mãe contarem as mesmas coisas. 

Ainda nos anos oitenta eu via meus primos apanhando violentamente... os pais e mães daquele tempo, muitas vezes, não tinham limites em bater nos filhos. Não que isso não ocorra hoje e que o inverso não ocorresse também à época - não se pode mais bater - mas era pavoroso ver como os pais eram violentos com os filhos.

Eu tive o privilégio de ter sido criado por pais que adotavam outras estratégias educacionais, não fui educado na base da porrada, da surra. O método de meus pais foi o castigo.

William


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.

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