sábado, 12 de dezembro de 2015

"Nosso tempo" é tempo de decisões




Refeição Cultural


"Nosso Tempo

I

Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir...
"


(A rosa do povo, 1945, Carlos Drummond de Andrade)


Considerações

Como diz o poeta, tenho percorrido volumes, viajado e visitado fatos. Tenho palavras em mim buscando canal...

Sou dirigente eleito em uma entidade de saúde dos trabalhadores. Como diz o mestre Antonio Candido "o que somos é feito do que fomos". 

Trago em minha forma de ser e atuar como representante de trabalhadores toda a experiência que acumulei em mais de uma década atuando como dirigente sindical de formação cutista, que sempre levou a sério os princípios, concepções e práticas do bom sindicalismo.

Aprendi logo cedo na direção do movimento sindical a sempre ir para a base conversar com os trabalhadores cada vez que nos pegávamos em dilemas, disputas internas sem fim, chateações, puxação de tapete, dúvidas sobre o que fazer ou que rumo tomar, enfim, cada vez que nossas energias estavam sendo gastas na burocracia interna e concentradas mais para dentro do sindicato do que para os trabalhadores, eu saía e passava horas na base, nos locais de trabalho.

Após conversar com os trabalhadores, voltava curado de qualquer desânimo, tinha muito claro as decisões a tomar e qual era meu papel e meus compromissos para defender aqueles que representava e buscar soluções para suas demandas e necessidades.

Nesta semana que passou, além de ter estado em Brasília para nossas longas e duras reuniões de Diretoria Executiva, cada vez mais tensas em face das crises atuais e divergências internas, estive em quatro estados brasileiros a trabalho - PB, MG, MA, PI. Falei com dezenas de trabalhadores da Cassi, lideranças locais das entidades representativas do funcionalismo do Banco do Brasil e associados da ativa e aposentados que representamos na gestão da entidade. Dormi e comi pouco, mas falamos olho no olho com pessoas, fortalecemos nossos compromissos com a Cassi e os associados. Sei o que represento e a expectativa que gero nas pessoas.

Essa semana de conversas com as bases sociais da Cassi é reflexo do que fiz neste ano e meio de mandato. Para mim, só tem sentido representar se for assim, indo até onde as pessoas estão, mesmo que isso esteja sendo pesado para mim, em termos de agenda dobrada com reflexos até na saúde.

Nos próximos dias e semanas, decisões importantes serão tomadas ou posições serão estabelecidas sobre a nossa entidade de saúde dos trabalhadores. As negociações iniciadas no primeiro semestre deste ano ainda não encontraram soluções consensuais entre o Banco do Brasil e as representações do funcionalismo.

Eu sempre tenho em mente as lições de Edward Said com suas conferências reunidas no livro "Representações do intelectual". Temos que ser claros e honestos na tomada de posição sobre o que entendemos ser o melhor para a situação dada, mesmo que isso não agrade às maiorias ou àqueles grupos políticos ao qual estamos vinculados ou interagindo. Eu atuo assim desde que virei representante eleito pelos trabalhadores.


"Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto..."


Muitas conversas estão acontecendo nos bastidores. Muitas ao meu redor, sem passar por mim, que sou um dos gestores principais. Eu conheço profundamente como funcionam as coisas no movimento. Mas a vantagem é que agora, aliás, também conheço muito mais a entidade que administro.

Nosso tempo será de decisões. As coisas são muito marcadas por contextos, conjunturas e momentos. Nem sempre, os grupos sociais tomam decisões com olhar apenas no objeto sob análise, mas sim no conjunto de interesses desses mesmos grupos.

Muito aprendi e sei o que defendo, principalmente após os milhares de quilômetros que percorri neste ano, ouvindo e falando com milhares de pessoas da base social da nossa Caixa de Assistência, e, sobretudo, percorri o país levando a mensagem do modelo de saúde que defendemos e que queremos estender para todos os participantes - queremos cuidar da saúde deles.

Eu serei muito firme, franco e direto nas posições que tomarei nos próximos dias nos espaços de debate e construção sobre a sustentabilidade e custeio de nosso Plano de Associados. Se for minoria nesses espaços, tenho a certeza e a consciência de que estou defendendo o que acho que é melhor para a Cassi e para os associados que represento.

William Mendes

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