Apresentação do Blog:
Olá prezad@s leitores amigos.
Sou um admirador do jornalista Mino Carta, um dos grandes intelectuais da atualidade. Tenho a mesma leitura que ele em relação ao cenário colocado para nós quando se pensa perspectivas de futuro a partir do momento atual, da tragédia vivida por nós com mais este golpe de Estado no Brasil.
A pergunta que martela em meus miolos é a de sempre: por que o povo não reage, já que são suas vidas mesmas que são atingidas até a morte com as consequências dos abusos da casa-grande, o 1% que fode os 99%, por quê?
Boa leitura, William
Diante desta imagem, o leitor tire suas conclusões. Foto: Ricardo Stuckert. |
Com as quadrilhas no poder é impossível negociar, e peço perdão pela obviedade. Outra é a seguinte: não há saída afora um protesto popular maciço e destemido, como, em situações similares, se deu em outros países. Dói-me pronunciar a terceira obviedade: não há como esperar pela revolta do povo espezinhado no país da casa-grande e da senzala.
Creio firmemente que, de volta à Presidência, Lula saberia recolocar o País na rota certa. Está muito além de claro, contudo, que o objetivo principal do golpe de 2016 é alijar o ex-presidente da próxima etapa eleitoral.
A considerar o livre trânsito dos golpistas de exceção em exceção, não consigo imaginar que o tribunal de segunda instância de Porto Alegre deixe de confirmar a condenação da Corte do Santo Ofício de Curitiba.
De todo modo, das duas uma: ou as quadrilhas, nas quais incluo a mídia nativa e seus barões, encontram uma solução “legal” pelo retoque fatal da Constituição, de sorte a permitir a eleição que lhes convém, ou não haverá o pleito de 2018. Em um caso ou no outro, será golpe dentro do golpe. Temo ter deitado no papel a quarta obviedade.
Confesso excluir a possibilidade de que, mesmo neste momento, o povo lesado se disponha a reagir. Às vezes, ocorre-me pensar que o próprio Lula duvida, a despeito da sua extraordinária capacidade de dirigir-se aos desvalidos, à maioria humilhada e ofendida.
Ele sabe, tenho certeza, que uma coisa é convocar a massa para o voto, ou para uma festa sem riscos (e a massa é muito festeira), e outra é chamá-la ao confronto. Três séculos e meio de escravidão pesam na balança, mesmo porque a casa-grande e a senzala continuam de pé.
Os donos da mansão senhorial mudaram com o tempo, dos latifundiários à corporação financeira, a passar sempre pelo estamento burocrático, mas foram constantes e eficazes ao se manterem no poder, graças também à chibata que o povo teme até hoje. Faltou a reação capaz de ameaçá-los e manchar de sangue as calçadas. Ao sinal do mais tênue risco, deu-se o golpe de Estado, pontual e inexorável.
A nossa trajetória histórica explica. Não houve uma guerra de independência salutar, por mais sangrenta, na formação de muitas nações mundo afora. A nossa resultou de uma briga interna na Corte portuguesa e o povo não percebeu ter deixado de habitar uma colônia.
Nossos heróis não se confundem com os pais fundadores dos Estados Unidos, ou com nobres e desassombradas figuras latino-americanas, como San Martín, Bolívar, O’Higgins. Nas nossas praças galopa em bronze o Duque de Caxias, comandante do genocídio paraguaio no século XIX.
Os golpes por aqui acontecem sem conflito. A Argentina condenou torturadores e seus mandantes, nós perdoamos, a ponto de termos viadutos e galerias com o nome de alguns deles, sem contar a patética Comissão da Verdade que, com o beneplácito do STF, aceitou como legítima uma lei da anistia imposta pela ditadura.
Como se vê, somos bastante peculiares, entregues a um desequilíbrio social que nos coloca entre os países mais atrasados do mundo e nos incapacita à prática da democracia para realizar às vezes aquela sem povo, objetivo da casa-grande.
A situação atual, após um golpe perpetrado em admirável sintonia pelos próprios poderes da República, pela mídia e setores da Polícia Federal, exibe o resultado inevitável da história do País. De certa maneira, temos o que merecemos ao viver resignados nesta nossa singular Idade Média.
Se é impossível negociar com as quadrilhas, a vontade da casa-grande será feita e o Brasil terá a face que lhe compete ao sabor de um desastre anunciado. Inertes, em clangoroso silêncio, seremos espectadores do golpe dentro do golpe.
Receio ter pronunciado a sexta obviedade, ululante, como diria Nelson Rodrigues, aquele que me punha a gargalhar ao ler a Última Hora no bonde vazio, de volta para casa depois da aula noturna da Faculdade de Direito, para surpresa do cobrador e do motorneiro.
Fonte: Mino Carta, de CartaCapital.
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