segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Pai contra Mãe, análise do conto de Machado de Assis (1906)
O conto está disponível para leitura aqui.
(a interpretação e anotações da aula são de minha responsabilidade)
Aula do professor Hansen sobre Machado de Assis – Leitura do conto Pai Contra Mãe.
Palavras-chave: estilo; autoria; ponto de vista.
A autoria em Machado está presente no texto enquanto composição, ponto de vista, foco, perspectiva.
No ponto de vista do autor está a escolha das matérias sociais.
Matéria social: a escravidão
Conto publicado em 1906. O contexto da história se passa 50 anos antes. O leitor, dezoito anos depois de 1888, já teve a experiência da escravidão. A república era uma realidade. Milhões de negros estavam por sua conta e risco.
O título é autoral. Não é do narrador (que está dentro do texto). O título vai marcar mercadoria e direito autoral. Também posicionar o leitor sobre o que lerá.
“Pai contra Mãe”: a preposição indica oposição, choque, conflito. Aviso: leitor, você vai se chocar.
(Hansen faz uma fala sobre Marxismo e a contemporaneidade. Não há futuro, pois tudo é imediato. Antes, o presente era a negação; o futuro, era a esperança. Faz a marcação temporal dos anos 80, do século XX adiante – ideia moderna do imediatismo nas coisas. Disse que Bush e Lula são o resultado da atualidade: “tudo ralé”, segundo ele)
Hoje, somos desmemoriados. É proposital que as pessoas não se lembrem nem daquilo que fizeram ontem. Veja a rede mundial de computadores – internet: ela iguala tudo sem qualquer hierarquia. Dickens e as pirâmides do Egito e um acidente de trânsito têm o mesmo valor.
Hansen critica também a grande mídia que vive de “produzir realidades”. Ela escolhe o que criar, inventa a pauta.
O resumo disso tudo é que a literatura serviria para aprender “ficção” porque a realidade desmaterializou-se, virou também uma ficção.
O gênero conto
O gênero Conto tem origem nas formas orais de literatura. Mantém, então, a ideia de brevidade. Uma história só. É dialógico. Mimético. Em geral, tem um narrador que conta um enunciado: temos que confiar nele.
Os românticos passaram a usar a estrutura da crônica: curta, fala de algum fato e sem sequência.
No conto, apesar do particular no personagem Cândido, sabemos ou percebemos as informações sociais e de contexto necessários, como diz Lúcia Miguel-Pereira – vemos o ambiente e contexto através do personagem e não o inverso.
Cândido não é negro. Mas não é proprietário também, pois não tem ofício.
A crítica ainda se espanta com a literatura de Machado, pois ele trabalha com todos os sistemas, critica todos e tudo e mantém-nos em suspensão. Não se posiciona como autor. Alguns críticos até o criticam dizendo que isso é devido à sua epilepsia ou origem e/ou talvez por sua gagueira.
Machado faz uma representação dupla. Mostra várias perspectivas, pontos de vista.
Antonio Candido diz ser Machado a síntese do processo anterior até o tempo dele em relação a formação da Literatura Brasileira. E também seria o início de novos tempos.
Quando José de Alencar fala do amor, ideal liberal, isso não encontra base na realidade objetiva, ou seja, “as ideias fora do lugar” como diz Roberto Schwarz. O Brasil não é a Europa.
Hansen critica o fato da teoria do Schwarz sempre citar o mestre Machado só como exemplo de suas leituras machadianas e não o contrário. É uma interpretação, como outras possíveis, afinal, ficção não é ciência.
Não precisamos ficar interpretando este conto. Ele mostra um número de relações materiais vinculadas à realidade.
Como é de costume, percebemos nos nomes das personagens a ironia ácida de Machado:
Cândido – alvo, branco. Neves – de novo, mais alvo que tudo.
Clara – idem. Tem duas falas básicas na história: “Deus nos há de ajudar...” e “Nossa Senhora nos dará de comer...”
“Não cito... senão...”: técnica do autor - duas negações equivalem a uma afirmação. Ele, Machado, relativiza tudo.
O grande artista se recusa a representar o horror, tentar sentir ou descrever o que outros sentiram. Nosso mestre faz uma descrição sucinta. Ponto. O leitor que trabalhe com a interpretação e sua própria imaginação.
“Não cuidemos de máscara...”, ou seja, vamos falar da realidade. Vamos ao que interessa.
A leitura comprova o aviso subentendido: de fato, o final da história é chocante!
William
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