domingo, 27 de abril de 2008

Ainda o "Instinto de nacionalidade" - Machado de Assis





Aula do prof. Hansen em 20.9.07 (USP)


Esse texto machadiano é escrito em 1873.


Machado escreve para os estrangeiros (norte-americanos) e para falar de literatura contemporânea (1836-1873).


Ele nunca escreve de forma vulgar. Ele alude, sugere, mas nunca escreve vulgaridades. (ele até parodia o naturalismo; ele critica muito a vulgaridade de Eça de Queiroz e outros)


Analisemos os termos:


"instinto": termo tirado da biologia. É um termo técnico. A natureza fornece aos animais - no sentido de uma força irracional, incontrolável e natural.


"nacionalidade": não é natural. É política. Os homens estão programados para se agregarem enquanto nação?


De onde viria essa ideia de que uma nação tem um "Ethos", um caráter?


É histórico, muito em voga nos séculos XVIII-XIX, principalmente com os primeiros românticos alemães: o professor citou Friedrich Schlegel "Athenaum". (Explanação da ideia de nacionalidade a seguir):

Poesia: universal progressivo - teoria que ela é progresso. A poesia não admitiria cânone, pois teria que sempre inventar o novo.



Schlegel em 1812-1814 cria uma disciplina chamada "História das literaturas".


Homero - gregos (Ilíada/Odisseia) mitos e regras sociais

Virgílio - romanos - criação de Roma
Dante - língua italiana
Camões - Europa cristã

Descobre os poemas medievais. Descobre a ideia da germanidade - "tradição guerreira do povo alemão". Vai buscar manifestações do Ethos alemão nos momentos em que obras significativas mostraram esse espírito nacional alemão. Esse seria o papel da história da literatura para pregar a ideia do caráter do Estado Nacional.


A literatura alemã seria o item de coesão do povo na guerra, nos costumes, na cultura etc. A literatura é civilização pela própria sistematização da cultura, da língua e da nacionalidade.


(Hansen diz que vários filósofos associam o nazismo, o antissemitismo e seus ideais aos princípios românticos)



É um projeto autoritário. A literatura será um cimento ideológico obrigatório para adultos e crianças. (cita Mme de Staël "De l'Alemagne"). Ela foi lida no Brasil.


Em Paris, "Nicteroy" é publicado em 1836. Magalhães escreve nessa revista: "Discurso sobre a literatura brasileira" - fala em um organismo que tem um Ethos e que está em evolução contínua.




Alegoria de uma montanha: os autores contemporâneos a ele têm uma "missão" e têm que apresentar ao povo a natureza de seu país. A literatura "educa", tem papel de formação. No começo, seria importante a cor local. Representação "Indígena Civilizado".

Quem vai realizar esse projeto é José de Alencar com o idealismo romântico alemão. Fará através da literatura toda uma construção social com o objetivo de formar nossas elites, na nossa cultura local, associada aos ritos da Corte:


XV - Ubirajara, duas tribos...; XVI - Iracema, índio + branco...; XVII - O Guarani, a formação do brasileiro... etc.


Machado diz que esse "Instinto" é que todos querem falar da nação, do Brasil que se constituía.


(O professor diz que ser ingênuo hoje (2007) é ser "cínico". Diz que não dá pra ser romântico idealizador depois de Auschwitz)



No texto de Machado, professor diz que há uma organicidade na nossa literatura. Ideia de progressão evolutiva autêntica brasileira.


"Telos": racionalidade no fim. Após 1822, voltamos ao XVI e professor defende que já éramos brasileiros.


A literatura = projeto canônico. Destaca onde, nos 4 séculos, apareceu o nosso Ethos.

Anchieta/Nobrega > Gregório > Durão > Alencar > Machado > M. Andrade > A. Candido... = A Literatura Brasileira > documentar a realidade brasileira


Antonio Candido segue linha de Mário de Andrade, diz o prof. Hansen, quando fez Formação da Literatura Brasileira.



Atualmente, a globalização acaba com a ideia de nação. Hoje, seria difícil pensar esse projeto romântico de construção nacionalista.



Uma possível conclusão:

LITERATURA = IDEOLOGIA DE CLASSE (sempre foi usada assim).


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