quarta-feira, 24 de julho de 2013

LTI - Linguagem do Terceiro Reich (leituras)


(atualizado em 22/8/15)

"A linguagem nazista era capaz de contaminar as pessoas, sendo usada até mesmo pelos próprios judeus. A linguagem militar, que sempre fora poderosa e autônoma, não escapou dessa 'epidemia' - termo usado por Klemperer para designar a adesão à 'novilíngua', conforme a expressão de George Orwell no livro '1984'. " (pág. 19)



O livro de Victor Klemperer que analisa a linguagem do Nazismo, linguagem que convenceu uma nação a ser nazista, é revelador e importante por nos trazer um alerta para o risco sempre existente de que tais barbáries voltem a se repetir.

O filme alemão A Onda é outro bom exemplo para as pessoas que afirmam sempre de maneira rápida e sem pestanejar que "isso não ocorreria novamente..."


Lendo e anotando excertos interessantes do livro

HEROÍSMO (EM VEZ DE UM PREFÁCIO)

Aqui o autor explica um pouco o estudo que fez da linguagem do Terceiro Reich - LTI (Lingua Tertii Imperii) - principalmente entre 1933 e 1945. O livro teria em 1947 um papel extremamente pedagógico para aquele momento de reconstrução e de "desnazificação" da sociedade alemã.


Combater o ato de pensar nazista

"O mesmo deverá ocorrer com a palavra mais importante e decisiva de todas - 'desnazificação' -, que desaparecerá quando deixar de existir a situação a que se refere. Ainda levará tempo. Não apenas a ação nazista terá de desaparecer, mas também a mentalidade nazista, o hábito de pensar nazista e justamente o seu solo mais fértil, a linguagem nazista". (p. 38)

Após explicar a deturpação do nazismo de conceitos semânticos de palavras como "heroísmo" e "heroico" Klemperer ensina:


Os nazistas não eram heróis

"- Para ser herói não basta ter coragem e arriscar a vida. Para isso serve qualquer arruaceiro, qualquer criminoso. Em sua origem, o heros [herói] é uma pessoa que realiza atos que estimulam o melhor da humanidade. Uma guerra de conquista, como a guerra de Hitler, conduzida de maneira tão atroz, nada tem a ver com heroísmo". (p. 43)


Heroísmo é sem espalhafato

"O heroísmo é muito mais puro e significativo quanto mais discreto for, quanto menos público cultivar, quanto menores rendimentos trouxer para o próprio herói e quanto menos espalhafato alcançar. O que critico no conceito nazista de heroísmo é que ele depende do aspecto promocional. Apresenta-se com soberba. O nazismo não conheceu oficialmente qualquer heroísmo honesto e autêntico. Ele o desvirtuou e o levou ao descrédito". (p. 44)


CAPÍTULO 1 - LTI

A linguagem é a expressão de uma época

"É voz corrente dizer que a linguagem é a expressão de uma época. Da mesma forma pode-se dizer que é o retrato de um tempo e de um país. O Terceiro Reich se expressa de modo terrivelmente uniforme, em todas as suas manifestações e em todo o legado que nos deixa, na ostentação desmesurada das edificações faustosas, nos escombros, no tipo dos soldados, dos homens das SA e das SS, definidos como figuras ideais em cartazes sempre renovados mas sempre muito parecidos uns com os outros, nas autoestradas e nas valas comuns". (p. 49)


A linguagem revela o homem. O gesto também.

"A linguagem sempre revela o que uma pessoa tem dentro de si e deseja encobrir, de si ou dos outros, ou que conserva inconscientemente. Este também é, sem dúvida, o significado da frase Le style c'est l'homme [o estilo é o homem]. Uma pessoa pode fazer declarações mentirosas, mas o estilo deixará as mentiras expostas". (p. 49)


COMENTÁRIO:

A explicação do filólogo é perfeita! Que o diga o apresentador da Bandeirantes Boris Casoy que ofendeu em 2009 os varredores de rua ao vivo (sem ele saber do erro de transmissão).

Casoy disse: "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo da escala do trabalho". Pior é a justiça brasileira que ainda aliviou para ele e a Band e o inocentou da condenação por danos morais coletivos (em 19/7/13).

Também já vi tanto político e dirigente sindical que se diz progressista e de esquerda falando cada uma...


Uniformidade absoluta da linguagem

"Livros, jornais, formulários e escritos de qualquer posto de serviço - tudo isso boiava no mesmo molho marrom, e a partir dessa uniformidade absoluta da linguagem escrita explicava-se a uniformidade da fala" (p. 51)

COMENTÁRIO meu anotado na lateral do livro:

"Minha nossa! O P.I.G. - Partido da Imprensa Golpista no Brasil - é exatamente isso! Sem a alternativa da internet e blogs progressistas estaríamos condenados à uniformidade dos meios de comunicação empresarial."


Bibliografia:

KLEMPERER, Victor. LTI - A Linguagem do Terceiro Reich. Editora: Contraponto. 1ª edição, 2009.

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