sábado, 24 de maio de 2008

A caminhada, a caminhada...


Caminhos... Parque das Aves em Foz do Iguaçu (PR).

Pois é!

Estou caminhando.
E sei que não há caminho.
Sigo caminhando diariamente.

Quando chegarei em Santiago de Compostela, não tenho ideia. Chegarei, espero.

Por enquanto, em meus passos, nos caminhos criados, vejo muita alienação. O que é um total contrassenso, visto que estamos no mundo da informação instantânea. Mas isso emburrece.

Este "wired world" traz como consequência a alienação, o nivelamento de tudo: o belo e o feio, o culto e o popular; dividem uma página de site um poema de Drummond com um assassinato de criança. As grandes maiorias ainda são manipuladas pelo grande show midiático de meia-dúzia de milionários donos de toda a mídia global.

Mas há esperanças. Ao menos no que diz respeito ao baixo custo de se criar alternativas de redes de contrainformações às grandes mídias.

Estou caminhando, mas não sei que dia chego em Santiago de Compostela.

Estou caminhando.


Post Scriptum (2/08/15):

Poxa! Relendo anos depois, como a postagem está atual em relação ao cenário mundial. Sigo longe de Santiago de Compostela, mas o mundo segue alienado e próximo a uma crise humana sem precedentes...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sobre o conceito de História (1940) - Tese VII [excerto] - Walter Benjamin


Walter Benjamin, em 1928. Foto: Wikipedia.


"Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais.

O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Eles devem a sua existência não só aos esforços dos grandes gênios que os produziram, mas também à anônima servidão dos seus contemporâneos.


Não há documento da cultura que não seja ao mesmo tempo um documento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo".


(os sublinhados são destaques meus - William)

(Foram aproveitadas as traduções de Sérgio Paulo Rouanet e de Flávio R. Kothe.)


BENJAMIN, Walter. "Sobre o conceito de história". In: Obras Escolhidas I. Trad. Sérgio P. Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985.

BENJAMIN, Walter. "Teses sobre a filosofia da história". In: Walter Benjamin: Sociologia. Org. Flávio R. Kothe. São Paulo, 1991.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Poema - Verbo iludir conjugado


Eu me iludo.
Tu te iludes.
Será que eu te iludo?

Muitos não se iludem.
Melhor se se iludissem...
Quem se ilude, sonha.

Mas vós que sonhais,
Não vos iludais...
Praticai...

Pois, normalmente...

Eles sonham,
Não praticam...
E se iludem.


Wmofox, 13.09.2002

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Poema à Língua Portuguesa - Oldney Lopes


Estava procurando sobre a conjugação padrão do verbo repelir na internet, pois escrevi em meu texto a expressão "que a repila" (fiquei em dúvida) e achei um poema que adorei a respeito da nossa Língua Portuguesa.


POEMA À LÍNGUA PORTUGUESA

A língua portuguesa que amo tanto
Que canto enquanto encanto-me ao ouvi-la
Em cada canto é fala, é riso, é pranto
E nada há que a cale e que a repila.

É essa língua tórrida e faceira
Inebriante e meiga e doce e audaz
Que envolve e enleia a gente brasileira
E quem a utiliza é quem a faz.

É a língua dos domingos, no barzinho
A mesma das segundas, no escritório
A que fala o andrajoso, no caminho
E o cientista, no laboratório.

É a mesma língua, embora evoluída,
Que veio de outras terras com Cabral
Escrita por Caminha, foi trazida
Na descoberta do Monte Pascoal

Não há quem fale errado ou fale mal
De norte a sul, é belo o que é falado
Na língua de Brasil e Portugal.
Para julgar quem fala certo ou fala errado

Não há no mundo lei, nem haverá:
Quem faz da fala língua, é quem a fala
Gramática nenhuma a calará
Gramático nenhum irá cegá-la!


Oldney Lopes

Fonte: www.oldney.net

Pois é, prá quê? - MPB4


Pois é, estava hoje mesmo escrevendo sobre isso quando lembrei da música do MPB4 - fantástica!

Me sinto assim.



Pois é, Prá Quê?

MPB4
Composição: Sidney Müller

O automóvel corre
A lembrança morre
O suor escorre
E molha a calçada
A verdade na rua
A verdade no povo
A mulher toda nua
Mas nada de novo
A revolta latente
Que ninguém vê
E nem sabe se sente
Pois é, prá quê?

O imposto, a conta
O bazar barato
O relógio aponta
O momento exato
Da morte incerta
A gravata enforca
O sapato aperta
O país exporta
E na minha porta
Ninguém quer ver
Uma sombra morta
Pois é, prá quê?

Que rapaz é esse?
Que estranho canto
Seu rosto é santo
Seu canto é tudo
Saiu do nada
Da dor fingida
Desceu a estrada
Subiu na vida
A menina aflita
Ele não quer ver
A guitarra excita
Pois é, prá quê?

A fome, a doença
O esporte, a gincana
A praia compensa
O trabalho a semana
O chopp, o cinema
O amor que atenua
Um tiro no peito
O sangue na rua
A fome, a doença
Não sei mais porque
Que noite, que lua
Meu bem, prá quê?

O patrão sustenta
O café, o almoço
O jornal comenta
Um rapaz tão moço
O calor aumenta
A família cresce
O cientista inventa
Uma flor que parece
A razão mais segura
Prá ninguém saber
De outra flor
Que tortura...
Pois é, prá quê?

No fim do mundo
Tem um tesouro
Quem for primeiro
Carrega o ouro
A vida passa no meu cigarro
Quem tem mais pressa
Que arranje um carro
Prá andar ligeiro
Sem ter porque
Sem ter prá onde
Pois é, prá quê?
Pois é, prá quê?


Fonte:

O vídeo é disponibilizado pelo YouTube, com os direitos e regras do MPB4 e da empresa que controla esses direitos.