Fortaleza dos Reis Magos, Natal (RN), fev/10 |
Refeição Cultural
Leitura de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda
Capitulo 6 - NOVOS TEMPOS
- Finis operantis
- O sentido do bacharelismo
- Como se pode explicar o bom êxito dos positivistas
- As origens da democracia no Brasil: um mal-entendido
- Etos e eros. Nossos românticos
- Apego bizantino aos livros
- A miragem da alfabetização
- O desencanto da realidade
Algumas palavras-chave escolhidas por mim no início do texto:
- "Aptidão para o social" (?): aqui é diferente de ordem coletiva
- apego ao personalismo
- somos avessos às atividades motoras e monótonas
- nossos "intelectuais" sustentam convicções díspares
- apego a palavras bonitas e argumentos sedutores (só!)
A PRAGA DO BACHARELISMO!!
É fácil compreender o preconceito contra o presidente da república do Brasil (Lula) - um torneiro mecânico de origem - quando se lê o capítulo "Novos Tempos" de Raízes do Brasil.
Nele, Sérgio Buarque nos explica a "Praga do bacharelismo", que também impera por aqui (ele cita os EUA em relação ao tema).
Aliás, a tese também explica um pouco do porquê de as pessoas se formarem, pegarem o canudo e nunca exercerem a profissão.
"Ainda hoje (1936) são raros, no Brasil, os médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, professores, funcionários que se limitem a ser homens de sua profissão". Esses profissionais não buscam a realização do trabalho em si senão a satisfação pessoal: finis operantis ao invés de finis operis."
"Ocupar cinco ou seis cargos ao mesmo tempo e não exercer nenhum é coisa nada rara".
As citações parecem feitas hoje (2010), mas são de uma obra de 1936. Veja outro caso abaixo:
"As nossas academias diplomam todos os anos centenas de novos bacharéis, que só excepcionalmente farão uso, na vida prática, dos ensinamentos recebidos durante o curso".
Sérgio Buarque fala um pouco da questão de Max Weber e a ética protestante. Compara a visão católica do trabalho - castigo divino e razão de sustento - com a visão protestante. Nesta, o trabalho tem uma função de "chamado" e "vocação" (Calling, beruf) e também uma função ascética mesmo para os bem posicionados na sociedade.
No caso das colônias, a questão do prestígio do "bacharéu", mesmo que fosse de qualquer coisa, já era vício na Corte portuguesa. Uma carta de bacharéu era o caminho para o alto cargo público.
Nesta praga do bacharelismo está também a questão do "personalismo": tão nosso, tão brasileiro.
"De qualquer modo, ainda no vício do bacharelismo ostenta-se também nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor próprio, superior às contingências (...) O que importa salientar aqui é que a origem da sedução exercida pelas carreiras liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase exclusivo aos valores da personalidade". (atualíssimo!!)
O APEGO À FRASE PRONTA, LAPIDAR
"O prestígio da palavra escrita, da frase lapidar, do pensamento inflexível, o horror ao vago, ao hesitante, ao fluido, que obrigam à colaboração, ao esforço e, por conseguinte, a certa dependência e mesmo abdicação da personalidade, têm determinado assiduamente nossa formação espiritual".
Bibliografia:
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 26ª edição, 27ª reimpressão 2007.
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