quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cartas de filho pra pai


Com meu pai em novembro de 2009.

Pois é meu pai querido, cá estamos para uma troca de palavras ou talvez de impressões.

Estou ficando velho. Maduro. Tenho sofrido muito com os problemas que você e mamãe estão enfrentando com a morte recente na família, de nossa tia, e a fragilidade de nossa avozinha.

Também me angustia muito saber de seus problemas de saúde e não ter me preparado na vida para ter suporte financeiro para cuidar melhor de vocês. Talvez tenha feito opções erradas ao não pensar em dinheiro durante a minha vida.

Essa carta é para dizer por escrito a você e ao mundo o quanto vocês são minhas referências e meu cais. Como vivo sem uma âncora rija e sólida, até hoje vocês e minha família de Uberlândia, que está se esfarelando, são o cais mais apropriado para atracar vez por outra de minhas jornadas nesta sobrevida.

Vocês sabem o quanto preciso de vocês vivos. A verdade é que preciso de vocês vivos inclusive de maneira egoísta, é por mim, é para mim mesmo, porque eu levo a minha vida com pouco apego a quase tudo da existência, mas sempre que caio... tenho vocês.

Pai, o que sou hoje em termos de princípios e atitudes de lutar pelo que acho correto e justo, não praticar o mal a ninguém, não querer aos outros o que não quero para os meus é fruto da educação e criação consistentes que você e minha mãezinha me deram naqueles tempos difíceis dos anos oitenta.

Amo você pai, e amo a minha mãe.

Espero longa vida a vocês e soluções para seus problemas de saúde, e de falta de atendimento público para seu tratamento.

Um beijo de seu filho.

William Mendes


Post Scriptum (9/08/15):

Anos depois, felizmente tenho você comigo pai. E tenho minha mãe também. Já não temos a tia Alice e a vovó Cornélia. Os problemas de saúde de vocês, até pela idade que avança, persistem. Felizmente e por uma casualidade, minha nova tarefa de representação dos trabalhadores me permite pagar um plano de saúde para vocês. O Brasil, com toda a crise mundial após 2008 (crise do sub-prime) criou o Programa Mais Médicos, que completou dois anos, e o programa já atende a 67 milhões de pessoas. Mas é evidente que estamos longe do ponto ideal na saúde pública, até porque não se faz mudanças nesta área em curto prazo, ainda mais em um país continental. Enquanto eu puder, investirei na saúde de vocês porque os amo e porque é meu dever de filho.

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