(atualizado em 29/8/11)
Ó céus! Ó vida! Como faz falta poder ler diariamente e alimentar minh'alma (cérebro) com o saber, da mesma forma que se alimentam os humanos que têm acesso à comida que alimenta o corpo e comem, comem, comem... (e olha que os humanos vivem para comer, e não o contrário, ou seja, deveriam comer para viver - como disseram os bichinhos no filme "Os sem floresta").
Peguei novamente para ler o livro Esaú e Jacó, penúltimo romance do mestre Machado de Assis, de 1904 (antes, havia começado a lê-lo em 2008 e depois em 2009).
Toda vez que leio com atenção, como diz o narrador da história "O melhor é ler com atenção", fico espantado e admirado com o quanto é ferina e constante a ironia machadiana. Cada frase de cada obra sua é uma construção que fala ou critica algo de nosso mundo - ou, do mundo de seu tempo e do seu passado.
E fico às vezes pensando se o professor Hansen (Usp) tem razão ou não quando dizia que é uma tremenda covardia pedir para um adolescente ler Machado de Assis pela dificuldade de compreender e captar toda a ironia e figuras de linguagem lançadas em cada parágrafo de sua arquitetura literária.
Já o professor Antonio Candido diz o contrário em algum texto seu, que não me lembro o nome, ou seja, que devemos deixar a literatura a disposição das pessoas de qualquer nível intelectual ou idade ou condição social pois elas sempre saberão captar o que há de bom na boa literatura.
Bom, o que eu sei é que ler Machado é diferente de tudo. A vontade é de ficar lendo e relendo algumas frases e de ler para as pessoas que estão em nosso entorno para dividir tanta maravilha.
A NECESSÁRIA ACUIDADE RACIONAL PARA NÃO ERRAR NA INTERPRETAÇÃO
Li certa vez uma frase nesta obra onde eu havia erroneamente interpretado que o narrador dizia mal dos banqueiros, algo como denunciá-los de levar vida vadia.
É um problema muito recorrente com a leitura de grandes autores. O maior exemplo da história talvez seja o velho Karl Marx. Cada um o lê como quer, com a passionalidade peculiar a cada cabeça e saem por aí dizendo que o coitado do Marx afirmou isso ou aquilo...
Como eu odeio banqueiro, quando li da outra vez não tive a capacidade de entender a frase inteira. Acusei Machado, na margem da página, de afirmar o que ele não afirmou. Vejamos o caso:
CAPÍTULO VIII - Nem casal, nem general
(O casal está elucubrando sobre o destino profissional que darão aos seus dois rebentos, os gêmeos Pedro e Paulo. O pai é de origem humilde mas se deu bem na vida e trabalha em algum posto importante em banco)
"Pedro seria médico, Paulo advogado; tal foi a primeira escolha das profissões. Mas logo depois trocaram de carreira. Também pensaram em dar um deles à engenharia. A marinha sorria à mãe, pela distinção particular da escola. Tinha só o inconveniente da primeira viagem remota; mas Natividade pensou em meter empenhos com o ministro. Santos falava em fazer um deles banqueiro, ou ambos. Assim passavam as horas vadias. Íntimos da casa entravam nos cálculos. Houve quem os fizesse ministros, desembargadores, bispos, cardeais..."
Vejam o meu comentário: "Banqueiros! Vadios já no século XIX".
Na leitura de hoje, mais atenta como sugere o próprio autor, foi simples perceber que a expressão "Assim passavam as horas vadias" não está se referindo ao modo de vida dos banqueiros.
É uma frase que faz referência às horas vadias passadas pelas personagens em casa, ali onde estavam naquele momento da história, fazendo elucubrações sobre o futuro dos filhos. Aquele momento é a referência das horas vadias.
MAS o meu ódio aos banqueiros não me permitiu sequer ler corretamente uma obra literária...
É sobre isso que o bom leitor tem que fijarse, estar atento, be atencion etc, sob pena de ler ler ler e não entender nada que se quis dizer e ainda sair por aí dizendo que o autor afirmou isso ou aquilo sem o coitado nunca ter ensinuado tal coisa.
Para finalizar, posso agora, tranquilamente, afirmar aquilo que eu, leitor, penso e que achei que o Machado havia sugerido. EU AFIRMO: os banqueiros são uns vadios!!
É ISSO!
Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.
Peguei novamente para ler o livro Esaú e Jacó, penúltimo romance do mestre Machado de Assis, de 1904 (antes, havia começado a lê-lo em 2008 e depois em 2009).
Toda vez que leio com atenção, como diz o narrador da história "O melhor é ler com atenção", fico espantado e admirado com o quanto é ferina e constante a ironia machadiana. Cada frase de cada obra sua é uma construção que fala ou critica algo de nosso mundo - ou, do mundo de seu tempo e do seu passado.
E fico às vezes pensando se o professor Hansen (Usp) tem razão ou não quando dizia que é uma tremenda covardia pedir para um adolescente ler Machado de Assis pela dificuldade de compreender e captar toda a ironia e figuras de linguagem lançadas em cada parágrafo de sua arquitetura literária.
Já o professor Antonio Candido diz o contrário em algum texto seu, que não me lembro o nome, ou seja, que devemos deixar a literatura a disposição das pessoas de qualquer nível intelectual ou idade ou condição social pois elas sempre saberão captar o que há de bom na boa literatura.
Bom, o que eu sei é que ler Machado é diferente de tudo. A vontade é de ficar lendo e relendo algumas frases e de ler para as pessoas que estão em nosso entorno para dividir tanta maravilha.
A NECESSÁRIA ACUIDADE RACIONAL PARA NÃO ERRAR NA INTERPRETAÇÃO
Li certa vez uma frase nesta obra onde eu havia erroneamente interpretado que o narrador dizia mal dos banqueiros, algo como denunciá-los de levar vida vadia.
É um problema muito recorrente com a leitura de grandes autores. O maior exemplo da história talvez seja o velho Karl Marx. Cada um o lê como quer, com a passionalidade peculiar a cada cabeça e saem por aí dizendo que o coitado do Marx afirmou isso ou aquilo...
Como eu odeio banqueiro, quando li da outra vez não tive a capacidade de entender a frase inteira. Acusei Machado, na margem da página, de afirmar o que ele não afirmou. Vejamos o caso:
CAPÍTULO VIII - Nem casal, nem general
(O casal está elucubrando sobre o destino profissional que darão aos seus dois rebentos, os gêmeos Pedro e Paulo. O pai é de origem humilde mas se deu bem na vida e trabalha em algum posto importante em banco)
"Pedro seria médico, Paulo advogado; tal foi a primeira escolha das profissões. Mas logo depois trocaram de carreira. Também pensaram em dar um deles à engenharia. A marinha sorria à mãe, pela distinção particular da escola. Tinha só o inconveniente da primeira viagem remota; mas Natividade pensou em meter empenhos com o ministro. Santos falava em fazer um deles banqueiro, ou ambos. Assim passavam as horas vadias. Íntimos da casa entravam nos cálculos. Houve quem os fizesse ministros, desembargadores, bispos, cardeais..."
Vejam o meu comentário: "Banqueiros! Vadios já no século XIX".
Na leitura de hoje, mais atenta como sugere o próprio autor, foi simples perceber que a expressão "Assim passavam as horas vadias" não está se referindo ao modo de vida dos banqueiros.
É uma frase que faz referência às horas vadias passadas pelas personagens em casa, ali onde estavam naquele momento da história, fazendo elucubrações sobre o futuro dos filhos. Aquele momento é a referência das horas vadias.
MAS o meu ódio aos banqueiros não me permitiu sequer ler corretamente uma obra literária...
É sobre isso que o bom leitor tem que fijarse, estar atento, be atencion etc, sob pena de ler ler ler e não entender nada que se quis dizer e ainda sair por aí dizendo que o autor afirmou isso ou aquilo sem o coitado nunca ter ensinuado tal coisa.
Para finalizar, posso agora, tranquilamente, afirmar aquilo que eu, leitor, penso e que achei que o Machado havia sugerido. EU AFIRMO: os banqueiros são uns vadios!!
É ISSO!
Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.
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