terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mãos dadas - Carlos Drummond de Andrade


Li esse poema para os participantes de nosso curso de formação de dirigentes bancários, curso que estamos fazendo nesta semana na Escola Sul da CUT em Florianópolis.

Gosto muito desse poema porque Drummond trabalha com a materialidade e com as pessoas, com o tempo, com a contemporaneidade. Por isso sua produção é atemporal.

Nós também do movimento popular temos que lidar com o tempo presente, com a realidade objetiva e com a nossa materialidade para transformá-la em favor da classe trabalhadora e dos povos oprimidos.

Jovem Drummond

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem

                                      [vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por

                                      [serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
                                      [os homens presentes,
a vida presente.



Do livro "Sentimento do Mundo".

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