segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Opinião sobre eleições: Imprensa paulista fortalece a direita, mas falta trabalho de base da esquerda


Crescimento da direita paulista é fruto da lavagem cerebral da mídia monopolizada, mas falta trabalho de base no movimento social progressista



Apuradas as urnas das eleições brasileiras 2014, eu fico me segurando para não dizer tudo o que penso em relação ao povo paulista.

O povo paulista reelegeu o PSDB para completar um quarto de século no Palácio dos Bandeirantes. Aliás, olha o nome da sede do governo paulista! Bandeirantes foram aqueles assassinos que dizimaram as populações que aqui estavam antes dos portugueses chegarem. 

Aqui no Estado de São Paulo, todo logradouro tem nome de assassino, torturador, generais das ditaduras brasileiras, empresários e coisas do gênero. Gente que odeia trabalhador, povo humilde, minorias diversas etc.

Alckmin do PSDB foi reeleito! Serra do PSDB foi eleito senador, tirando a vaga de Eduardo Suplicy do Partido dos Trabalhadores. Aqui em São Paulo, ser petista após a eleição de Lula em 2002 é correr risco de quase ser linchado na rua porque todos os males da humanidade são atribuídos ao PT. 

O pior é que o povo paulista – ou seja, a classe trabalhadora, inclusive – acredita. O PT seria o partido dos “corruptos”. Gente boa, honesta e limpinha é o pessoal da direita, do PSDB e quem a Folha, Estadão, revista Veja e outras porcarias da Editora Abril, CBN e demais emissoras de TV e Rádio indicarem como limpinhos e honestos.

O senador Serra vai se juntar ao senador Aloysio Nunes do PSDB. Outro senhor limpinho e honesto, caçador de corruptos da esquerda. Aloysio ganhou a eleição em 2012 de um representante das minorias, um negro da periferia de Carapicuíba, o Netinho. Marta Suplicy do PT e Netinho do PCdoB estavam liderando as pesquisas naquele ano até faltarem duas semanas, quando a estrutura da direitona paulista fez o trabalho e elegeu seu representante.

Enquanto isso, alguns juízes do STF estão avaliando se arquivam ou não as investigações sobre as denúncias de corrupção no Metrô de São Paulo, do PSDB. Aliás, o “mensalão” chamado mineiro (e não tucano) já está com decurso de prazo... tem gente que já se livrou sem julgamento. Já são mais de 10 anos...

A partir de amanhã, 6 de outubro, vai acabar a água nas torneiras paulistas. O povo vai se lascar com isso. Os mais pobres que votaram no Alckmin é que vão sentir o problema. Já foi assim lá em 2001 quando o PSDB produziu o apagão de verdade (e não o de mentirinha como disseram que ocorreria agora no governo do PT).

O país quebrou nas duas gestões do FHC/PSDB e o pobre foi quem pagou multa por não conseguir economizar energia elétrica em 2001, pois os trabalhadores já usavam o mínimo em suas rotinas de vida.

SÃO PAULO DO PSDB (2015-2018)

Alguém poderia tentar me convencer que eu deveria ficar com pena dos trabalhadores se estrepando nos trens e metrôs do Estado de SP governado pelo PSDB. 

Na boa, lá se vão 20 anos e vamos para 24 anos sem investimentos em transportes públicos porque no conceito liberal-capitalista quem é “gente boa” tem carro. Quem venceu na vida por mérito e competência tem carro. Dane-se transporte público. Isso é coisa de pobre! E dane-se que tenha trânsito também porque as propagandas mandam você fechar os vidros e se ver em outro mundo dentro do seu carrão...

Aliás, como a segurança pública é função do Estado, aqui governado pelo PSDB, nós paulistas podemos nos fechar dentro dos carros todos equipados, última geração, e dane-se o trânsito... e danem-se também os assaltos que vão nos matar a qualquer momento. Mas temos a possibilidade de blindar os carros, oras bolas!

Este é o Estado onde me nasceram. São Paulo da falta de água, do trânsito caótico nas grandes cidades, da falta de transporte público, da insegurança e da morte por violência. E a educação então? Até a USP foi sucateada. Minha nossa! Mas é o Estado do PSDB que é limpinho, honesto, cheiroso e que toda a mídia defende contra os malvados corruptos dos "petralhas"* e dos sindicatos da CUT.

Na boa, eu conheço o poder de lavagem cerebral dos veículos de comunicação das famílias paulistas limpinhas que adoram os empresários e partidos de direita aqui, mas o movimento social tem culpa também.


A ESQUERDA TEM QUE SE UNIR E MELHORAR TRABALHO DE BASE

Na minha leitura, está faltando trabalho de base no PT, nos sindicatos e nos movimentos sociais diversos, está faltando muito trabalho de base. Se cada um dedicasse mais tempo conversando pessoalmente com os seus representados ou aqueles que pretendem organizar, ao invés de querer disputar o espaço das redes sociais, ao invés de ficar com disputas internas de máquinas sindicais, ao invés de arrumar mil desculpas para não ir conversar com os trabalhadores e minorias diariamente. As coisas podem ser diferentes. Eu acredito nisso!

Se os dirigentes, militantes e lideranças não trocassem com frequência a possibilidade de contato pessoal diário por tudo quanto é desculpa para não ir às bases, a direita não teria tanta influência e capacidade de fazer os pobres, os humildes e os trabalhadores votarem e preferirem seus algozes ao invés daqueles que estão do seu lado, que são da sua classe.

É o que eu penso e acredito. Eu me emociono quando lembro do ano difícil que os militantes do PT viveram naquele ataque virulento da mídia e da direita paulista no ano que inventaram o tal do "mensalão". Era o ano de 2005. 

Nós militantes éramos massacrados psicologicamente. Eu tinha um bom trabalho de base no maior complexo de funcionários do BB, o prédio da São João. Fui acolhido pelos trabalhadores e me senti muito confortável lá ao longo daquele ano porque eu tinha um bom trabalho de base e os trabalhadores me conheciam e sabiam quem eu era.

Acredito que está faltando muito trabalho de base da esquerda e do movimento social. Trabalho de base planejado e bem organizado e com objetivos a serem alcançados. Além, é claro, de mais unidade na esquerda! Nosso pessoal do movimento está se destruindo uns aos outros. A direita é quem vai se dar bem com isso.


William Mendes
Ex-diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região
Ex-aluno da Universidade de São Paulo

*Petralhas - Neologismo criado contra os militantes e representantes do Partido dos Trabalhadores ao estilo nazista de Hitler, que criou entre 1933 e 1945 toda uma linguagem para destruir a imagem de seus inimigos, os judeus. O filólogo judeu-alemão Victor Klemperer, sobrevivente do Holocausto, chama aquela linguagem como LTI - a linguagem do 3º Reich.

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