sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O velho e o mar - Ernest Hemingway, 1952


Minha edição do livro.

Terminei minha quarta leitura do livro e relendo meus comentários nas abas, feitas nas leituras anteriores, vejo que a sensação e emoção é a mesma de então.

Na oportunidade havia escrito:

“hoje, terminei a segunda leitura este mês de 'O velho e o mar' de Hemingway. Acho o livro maravilhoso. Há entre nós aquele não-sei-quê de identificação.

Ao mesmo tempo em que a história nos coloca no devido lugar, ao mostrar-nos a potência das forças da natureza perante o homem, também mostra o quão instigante é o homem perante a natureza, pois mesmo com nossa pequeneza comparativa, somos grandes na insistência de viver, lutar, sobreviver, recomeçar, do jeito que der e com o que sobrou de ontem.

Diria quase que essa insistência é involuntária como o bater do coração.”
(janeiro de 2006)

Frases e momentos marcantes


Os velhos – uma boa pergunta de Santiago

- Por que será que os velhos acordam sempre tão cedo? Será para terem um dia mais comprido?

Dureza e fragilidade


As aves têm uma vida mais dura do que a nossa, excetuando as aves de rapina e as mais fortes. Por que existiriam aves tão delicadas e tão frágeis, como as andorinhas-do-mar, se o mar pode ser tão violento e cruel? O mar é generoso e belo. Mas pode tornar-se tão cruel e tão rapidamente, que aves assim, que voam mergulhando no mar e caçando com as suas fracas e tristes vozes, são demasiado frágeis para enfrentá-lo

O mar e as mulheres


A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres

O recomeçar a cada manhã


Cada dia é um novo dia” (sempre, sempre, velho Santiago!)

Solidão


Pessoas da minha idade nunca deviam estar sozinhas

A batalha começa


Agarra na isca como um macho e puxa como um macho, e na sua luta não há pânico. Terá algum plano ou estará tão desesperado como eu?

A vida é um risco


- Repouse bem, pequena ave (aconselhou o velho). Depois siga viagem e arrisque-se como qualquer homem, pássaro ou peixe

Uma oração de pescador


- Deus mande essa cãibra embora, pois não sei o que o peixe vai fazer e como é que vou combatê-lo

Debilidades


Detesto cãibras (pensou o velho pescador). É uma traição do corpo. É humilhante ser atacado de diarreia devido a um envenenamento de ptomaínas ou, pela mesma causa, nos vermos obrigados a vomitar.” (Mas uma cãibra, se não era humilhante ante os outros, humilhava-o diante dele mesmo, muito especialmente quando estava sozinho)

Inteligência x nobreza entre homens e animais


... graças a Deus, não são tão inteligentes como nós, que os matamos, embora sejam mais nobres e mais valiosos

Mas tenho de matá-lo (murmurou o velho). Em toda a sua grandeza e glória. Embora seja injusto. Mas vou mostrar-lhe o que um homem pode fazer e o que é capaz de aguentar. Eu disse ao garoto que era um velho muito estranho. Agora chegou a hora de prová-lo

Ao mesmo tempo em que quer provar a superioridade humana, pensa que o homem não vale tanto quanto alguns animais


O homem não vale lá muito comparado aos grandes pássaros e animais. Eu por mim gostaria muito mais de ser aquele peixe lá embaixo na escuridão do mar

A dor


- Não está em muito mau estado (falou o velho sobre sua mão). E a dor não tem importância para um homem

Preciso evitar que a dor dele aumente (pensou o velho sobre o peixe). A minha, não importa. A minha, eu posso suportar. Mas a dor dele pode enlouquecê-lo

No auge da batalha


Você está me matando, peixe (pensou o velho pescador). Mas tem o direito de fazê-lo. Nunca vi nada mais bonito, mais sereno ou mais nobre do que você, meu irmão. Venha daí e mate-me. Para mim, tanto faz quem mate quem, por aqui

Mensagem profunda do velho Santiago


- Mas o homem não foi feito para a derrota (disse em voz alta). Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado

A esperança


É uma estupidez não ter esperança...

Tudo mata tudo


Além disso (pensou), tudo mata tudo de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me tal como me faz viver. O garoto é que me mantém na vida (pensou). Não devo ter muitas ilusões

A dor pra lembrar a vida


... e julgou que talvez já estivesse morto. Juntou as mãos e sentiu as palmas. Não estavam mortas e podia sentir a dor da vida ao abri-las e fechá-las. Encostou-se para trás de encontro à popa e verificou que não estava morto. Os ombros diziam-lhe bem, com a dor que irradiavam”. (A dor. A dor para dizer que há vida. Há dor, há vida)


É isso. É de encher os olhos. (muito bom para quem tem vista seca como eu. Que colírio!)


Post Scriptum (8/02/16):


Releitura da postagem oito anos depois. Que livro! Que pensamentos e reflexões que nos põem a olhar a vida entendendo que existir não é uma escolha. Temos que viver.


Post Scriptum II (14/04/17):

Acabei de ler o terceiro livro de Hemingway. Depois de ler "O sol também se levanta" (1926), li agora "Adeus às armas" de 1929, sobre um romance que se passa no cenário da 1ª Guerra Mundial. Livro com final muito triste.

2 comentários:

LiLi disse...

Fantástico livro. Fantásticos extratos.

William Mendes disse...

Novamente leio esta postagem e me emociono.

Perdi minha avozinha na semana passada. Minha mãe está em uma cama com a coluna fraturada. Meu pai está com depressão profunda e com crises físicas que podem levá-lo à morte. Já teve um AVC e um infarto neste ano.

Minha mãe na cama não pode ajudá-lo. Meu pai assim como está não consegue ajudar a si mesmo e à minha mãe.

Eu distante 600 km com minha própria vida, problemas e família.

Mas a gente é uma coisa que sabe que tem que seguir todo dia quando acorda...