sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bruce Lee - O dragão chinês (1971) / Reflexões




REFEIÇÃO CULTURAL

SINOPSE

Cheng (Bruce Lee) é trazido de Hong Kong a Bancok por seu tio para trabalhar e ali viver sem utilizar seus dons de arte marcial e arrumar confusão e brigas. Ele vai morar com primos e trabalhar numa fábrica de gelo onde todos trabalham.

Ele carrega um amuleto no pescoço para se lembrar da promessa de não lutar e não se meter em confusões.

A fábrica de gelo é uma fachada para encobrir o tráfico de drogas por parte do dono e seus capatazes.

Seus primos começam a desaparecer e a partir de inúmeras tentativas de não se meter em confusão e utilizar seus dons de arte marcial, ele acaba sendo obrigado a lutar inclusive por sua vida e de seus parentes e amigos.

REMINISCÊNCIAS DA ADOLESCÊNCIA

O filme (The big boss) é um dos primeiros filmes de Bruce Lee. Uma lenda da arte marcial. Acredito que qualquer interessado em artes marciais não se canse de observar e tentar analisar cada segundo de um movimento de Bruce Lee. É a perfeição na conjugação de velocidade, força e precisão no golpe que imobiliza ou inviabiliza reação.

Tive na adolescência o privilégio de conviver com o Kung Fu. Minha vida foi um "vai pra lá, vai pra cá" absurdo. Eu poderia ter sido tanta coisa. 

Como cresci num ambiente humilde, às vezes, miserável, predominava na rua a lei do mais forte (ou adaptado). Quando ali cheguei aos dez anos, tinha os moleques que dominavam a rua e o bairro Marta Helena, em Uberlândia.

Aliás, como o mundo dos anos oitenta era diferente de hoje (o mundo anda...)! Nós ficávamos na rua desde os seis, sete anos de idade. Hoje só estão na rua com essa idade, as crianças em situação de rua, que não estão no círculo de proteção da família.

Me lembro de uma briga de rua de rolar no chão que tive na porta do Colégio Hortêncio Diniz. Devia ter, sei lá, uns doze anos. Depois me lembro do dia que cansei de ser ameaçado por outro moleque que morava na frente de casa e que era considerado o terror ali. Nos pegamos na porrada e só saí de cima dele aos socos quando a mãe dele chegou. Ali, eu me libertei...

Na academia de Kung Fu, o mestre e os auxiliares nas aulas eram enfáticos: não é para brigar na rua! (as minhas brigas de rua foram antes de entrar para a academia)

A frase estampada no quadro na parede do dojo dizia: "Vencedor é aquele que vence sem lutar, mesmo tendo o dom de vencer lutando".

Aprendi muito naqueles anos da adolescência a administrar o ódio e a raiva que tinha, a dor, e a ter uma disciplina interior intensa.

GOLPES DE BRUCE LEE QUE CHAMAM A ATENÇÃO

Vendo o filme, me lembrei de alguns ensinamentos que tínhamos nos treinamentos e na filosofia do Kung Fu.

- evite lutar, encontre outras formas de achar solução para os problemas e as divergências;

- aprenda a se defender, de preferência sem causar danos aos outros;

- se, numa situação de risco, ameaça e ataque, você tiver que lutar, seja rápido, inteligente, feroz e elimine a possibilidade do adversário continuar te atacando. Principalmente se for mais de um.

- a técnica e a habilidade não têm relação alguma com a ética, o caráter e a postura do cidadão. O "especialista", o "técnico" pode ser ou não ser um exemplo a seguir. Um mestre de Kung Fu, um médico, um engenheiro, um professor, um padre etc, pode ser honesto, desonesto, de esquerda, de direita, reacionário, libertário e por aí vai...


No filme Cheng lida com todas essas questões.

Ele evitou lutar o quanto foi possível. Mas é impressionante a rapidez e precisão de um só golpe dele para por fora de combate o adversário.

Me chamou a atenção a cena do atacante com a faca na mão na fábrica de gelo, quando Cheng lutou pela primeira vez. Em uma fração de segundos, a mesma perna usada para o chute que tirou a faca da mão do oponente, é aquela que termina o golpe eliminando o atacante.

Várias cenas mostram isso.

Um dos ensinamentos da arte marcial que para mim tem muito sentido é a energia colocada em um único e decisivo golpe. Deve ser concentrada e total. É famoso o soco de uma polegada de Bruce Lee. 

Também chamou a minha atenção, o fato do personagem Cheng ser cooptado por seu chefe inicialmente. Enquanto se espera atitudes melhores do "mocinho", ideologicamente falando, ele se pega entrando no jogo do patrão. A questão da alienação de classe se mostrou presente no filme perfeitamente. (Ai ai ai, como isso é real e presente ao nosso redor)

Por fim, é muito interessante rever filmes de arte marcial. Não gosto do que se vende hoje como esporte de luta. Quando convivi com isso, era para você mudar para melhor como pessoa e se defender, se necessário fosse.

É isso!

Post Scriptum - Morte de Bruce Lee

Uma coisa que não saiu de minha cabeça, foi relembrar sobre a morte desse fenômeno de força, potência e agilidade nas artes marciais chamado Bruce Lee. 

Ele não morreu em combate, não teve morte violenta. Tomou um comprimido para dor de cabeça aos 33 anos e teve um efeito adverso, entrou em coma e morreu. Simples assim. 

Isso nos coloca a pensar. O que somos? Somos fortes, somos resistentes. Somos frágeis por natureza e morremos ao instante seguinte... é pra pensar! Principalmente quando tudo ao nosso redor é por dinheiro, poder, sexo, ganância. A pessoa pode morrer ali, no segundo seguinte... Fala sério! 

Nossos valores deveriam ser mais coletivos e menos individuais. Ao final, William e João e Maria morrem e talvez fique algo bom que eles tenham feito para a coletividade.

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