domingo, 6 de outubro de 2013

O Tempo e o Vento, O Continente I – Érico Veríssimo




O Tempo e o Vento – Érico Veríssimo

O Continente I


Literatura Brasileira – 1948


Apresentação

Pois é, a obra do escritor Érico Veríssimo (1905-1975) é totalmente desconhecida para mim. É um grande autor brasileiro e faz parte das minhas inúmeras lacunas culturais.

Dias atrás, deram-me aqueles cinco minutos de querer ler o grande clássico O Tempo e o Vento. Acredito que o motivo maior foi o lançamento recente de um filme baseado na história.

Saí em busca da obra. Após a pesquisa para comprá-la, descobri que são 3 livros em sete volumes e que cada um custava entre 50 e 55 reais. Para piorar, não achei o primeiro volume.

Recorri a alguns sebos e finalmente encontrei os sete tomos relativamente conservados da 31ª edição da Editora Globo, de 1995. Paguei 15 reais por volume e economizei uns 200 reais.

O meu eterno problema (eterno enquanto dure) é a falta de tempo para leituras literárias. Estamos em plena campanha nacional dos bancários e no meio de uma greve que já dura dezenove dias nesta segunda-feira 7/10.

Consegui ler até este fim de semana os quatro primeiros capítulos e fiz a leitura do jeito que gosto. Parei para pesquisar sobre a história do local onde a estória se passa – o Rio Grande do Sul – e sobre o autor também. Foi uma delícia!


Sumário do primeiro tomo

O sobrado – I...............................................1
A fonte......................................................21
O sobrado – II............................................67
Ana Terra...................................................73
O sobrado – III.........................................159
Um certo capitão Rodrigo............................171
O sobrado – IV..........................................317


COMENTÁRIOS

Civilização versus Barbárie

Ao ler os primeiros capítulos de O tempo e o vento (O Continente, 1948), é impossível não comparar com a história de Gabriel García Márquez – Cem anos de solidão (1967). Eu diria que é uma história de 150 anos de solidão.

Lendo o capítulo Ana Terra, fiquei pensando na questão da dicotomia Civilização versus Barbárie, tão utilizada nos séculos passados pelos colonizadores europeus para invadir as terras de outros povos “bárbaros” e matá-los ao apresentarem resistência aos “civilizados” europeus, utilizando o argumento de que os povos europeus estariam levando a civilização aos bárbaros.

Mas não foi sob esse ponto de vista das invasões imperialistas que fiquei pensando na questão da Civilização versus Barbárie. Fiquei pensando mais especificamente sob o ponto de vista discutido por Thomas Hobbes em sua obra O Leviatã (1651), onde há uma descrição da necessidade de construir sociedades e comunidades com regras que limitem a liberdade total dos homens em estado de natureza e lhes impor limites sobre sua liberdade em nome de certa paz e regras de sobrevivência coletiva. As pessoas que aceitam viver nestas sociedades aceitam abrir mão de sua liberdade total em troca de segurança e proteção.

Pensei nisso durante a leitura da parte violenta e sanguinária do ataque dos castelhanos à estância da família de Maneco Terra lá em 1789. Durante dezenas de anos, foram comuns na região os ataques recíprocos entre castelhanos, portugueses, índios e bandos diversos.

Desde tempos imemoriais os homens vivem sob a ameaça de ataques de forasteiros em seus vilarejos, cidades, estados, vilas etc. A ideia de Civitas (Cidades ou Estados) tem a concepção de proteção às pessoas que nessas comunidades ou estados habitam sob determinadas regras limitadoras da liberdade total (em estado de natureza) de cada animal humano – indivíduos.

Estamos na segunda década do século XXI e após milhares de anos de experiência humana em constituir sociedades, ainda não resolvemos o problema Civilização versus Barbárie. Atualmente, temos diversos países, em diversos continentes, com cidades e vilarejos que vivem a barbárie exatamente como foi descrita por Érico Veríssimo na estória de Ana Terra.


“E a arte vai mais longe ainda, imitando aquela criatura racional, a mais excelente obra da natureza, o Homem. Porque pela arte é criado aquele grande Leviatã a que se chama Estado, ou Cidade (em latim Civitas), que não é senão um homem artificial, embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e defesa foi projetado.” (O Leviatã, Thomas Hobbes)


Bibliografia:



VERÍSSIMO, Érico. O Tempo e o Vento – O Continente I. Editora Globo. 31ª edição. 1995

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