O Tempo e o Vento – Érico Veríssimo
O Continente I
O Continente I
Literatura Brasileira
– 1948
Apresentação
Pois é, a obra do escritor Érico Veríssimo (1905-1975) é
totalmente desconhecida para mim. É um grande autor brasileiro e faz parte das
minhas inúmeras lacunas culturais.
Dias atrás, deram-me aqueles cinco minutos de querer ler o
grande clássico O Tempo e o Vento. Acredito que o motivo maior foi o lançamento
recente de um filme baseado na história.
Saí em busca da obra. Após a pesquisa para comprá-la,
descobri que são 3 livros em sete volumes e que cada um custava entre 50 e 55 reais. Para
piorar, não achei o primeiro volume.
Recorri a alguns sebos e finalmente encontrei os sete tomos
relativamente conservados da 31ª edição da Editora Globo, de 1995. Paguei 15
reais por volume e economizei uns 200 reais.
O meu eterno problema (eterno enquanto dure) é a falta de
tempo para leituras literárias. Estamos em plena campanha nacional dos
bancários e no meio de uma greve que já dura dezenove dias nesta segunda-feira
7/10.
Consegui ler até este fim de semana os quatro primeiros
capítulos e fiz a leitura do jeito que gosto. Parei para pesquisar sobre a
história do local onde a estória se passa – o Rio Grande do Sul – e sobre o
autor também. Foi uma delícia!
Sumário do primeiro
tomo
O sobrado – I...............................................1
A
fonte......................................................21
O sobrado – II............................................67
Ana Terra...................................................73
O sobrado – III.........................................159
Um certo capitão Rodrigo............................171
O sobrado – IV..........................................317
COMENTÁRIOS
Civilização versus
Barbárie
Ao ler os primeiros capítulos de O tempo e o vento (O Continente, 1948),
é impossível não comparar com a história de Gabriel García Márquez – Cem anos
de solidão (1967). Eu diria que é uma história de 150 anos de solidão.
Lendo o capítulo Ana
Terra, fiquei pensando na questão da dicotomia Civilização versus Barbárie,
tão utilizada nos séculos passados pelos colonizadores europeus para invadir as
terras de outros povos “bárbaros” e matá-los ao apresentarem resistência aos “civilizados”
europeus, utilizando o argumento de que os povos europeus estariam levando a
civilização aos bárbaros.
Mas não foi sob esse ponto de vista das invasões imperialistas
que fiquei pensando na questão da Civilização versus Barbárie. Fiquei pensando
mais especificamente sob o ponto de vista discutido por Thomas Hobbes em sua
obra O Leviatã (1651), onde há uma descrição da necessidade de construir
sociedades e comunidades com regras que limitem a liberdade total dos homens em
estado de natureza e lhes impor limites sobre sua liberdade em nome de certa
paz e regras de sobrevivência coletiva. As pessoas que aceitam viver nestas
sociedades aceitam abrir mão de sua liberdade total em troca de segurança e
proteção.
Pensei nisso durante a leitura da parte violenta e sanguinária
do ataque dos castelhanos à estância da família de Maneco Terra lá em 1789. Durante
dezenas de anos, foram comuns na região os ataques recíprocos entre
castelhanos, portugueses, índios e bandos diversos.
Desde tempos imemoriais os homens vivem sob a ameaça de
ataques de forasteiros em seus vilarejos, cidades, estados, vilas etc. A ideia
de Civitas (Cidades ou Estados) tem a
concepção de proteção às pessoas que nessas comunidades ou estados habitam sob
determinadas regras limitadoras da liberdade total (em estado de natureza) de
cada animal humano – indivíduos.
Estamos na segunda década do século XXI e após milhares de
anos de experiência humana em constituir sociedades, ainda não resolvemos o
problema Civilização versus Barbárie. Atualmente, temos diversos países,
em diversos continentes, com cidades e vilarejos que vivem a barbárie exatamente
como foi descrita por Érico Veríssimo na estória de Ana Terra.
“E a arte vai
mais longe ainda, imitando aquela criatura racional, a mais excelente obra da
natureza, o Homem. Porque pela arte é criado aquele grande Leviatã a
que se chama Estado, ou Cidade (em latim Civitas), que não é senão um homem artificial,
embora de maior estatura e força do que o homem natural, para cuja proteção e
defesa foi projetado.” (O Leviatã,
Thomas Hobbes)
Bibliografia:
VERÍSSIMO, Érico. O Tempo
e o Vento – O Continente I. Editora Globo. 31ª edição. 1995
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