sábado, 13 de maio de 2017

Leitura: Distraídos venceremos (1987) - Paulo Leminski




Olá amig@s leitores!

Em relação aos meus objetivos de leitura para o mês de maio, a principal e mais densa é a obra de Ernest Hemingway - Por quem os sinos dobram (1940). Até que avancei bem e já li duzentas páginas, apesar do pouco tempo para me dedicar ao livro.

Uma leitura mais leve e para relaxar um pouco nossa essência foi a retomada do livro de Paulo Leminski - Toda poesia (2013). Minha semana foi de tanto trabalho que não pude escrever nada neste Blog de cultura. No domingo passado, 7 de maio, li duas vezes o livro de poesia de 1987 de Leminski - Distraídos venceremos -, sendo a segunda leitura de um jeito que gosto muito: declamando.

É muito gostoso ler Paulo Leminski e deixo abaixo alguns exemplos para instigar leitores de gostos variados.

Ler é sempre uma ótima opção para lidar com as nossas crises momentâneas e com as crises da sociedade humana em que vivemos.


Vejam esse poema sobre a cidade de Brasília:

claro calar sobre uma cidade sem ruínas
(ruinogramas)

     Em Brasília, admirei.
Não a niemeyer lei,
     a vida das pessoas
penetrando nos esquemas
     como a tinta sangue
no mata-borrão,
     crescendo o vermelho gente,
entre pedra e pedra,
     pela terra adentro.

     Em Brasília, admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
     criminoso por estar
fora da quadra permitida.
     Sim, Brasília.
Admirei o tempo
     que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas.

     Adeus, Cidade.
O erro, claro, não a lei.
     Muito me admirastes,
muito de admirei.


E por falar nos problemas que temos, que tal esse poema?

bem no fundo

     no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
     a gente gostaria
de ver nossos problemas
     resolvidos por decreto

     a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
     é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

     extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás
     lá pra trás não há nada,
e nada mais

      mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
      e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
      e outros pequenos probleminhas


Vejam esse, leitores, sobre os "pequenos probleminhas" do amor:

      o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
      agora, apenas um sopro

      ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
      e socos


Este poema abaixo, eu dediquei à personagem do seriado "13 reasons why", Hannah Baker (2017, Netflix). Eu havia acabado de assistir ao último episódio e fiquei muito mal. Nem consegui escrever a respeito do seriado.

a lua no cinema

      A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
      a história de uma estrela
que não tinha namorado.

      Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
      dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

      Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
      e toda luz que ela tinha
cabia numa janela.

      A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
      que até hoje a lua insiste:
      - Amanheça, por favor!


É isso, prezados amantes da leitura. Gostei de muitos outros poemas dessa obra de Leminski de 1987.

Recomendo a leitura.

William


Post Scriptum:

Ontem, 12 de maio, faleceu aos 98 anos o querido professor Antonio Candido. Que figura admirável! Eu tive o privilégio de ser da geração que chegou a vê-lo proferir palestras e abordar temas diversos como literatura, poesia, história, política e cultura. Já era aposentado, mas nunca deixou de se envolver com os temas do Brasil e dos homens.

Lembro-me que quando cheguei à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) eu era um homem completamente avesso à poesia. Eu era muito diferente. Alguns textos do professor, como o livro "Na sala de aula" (1985) abriram para mim o mundo da poesia. Pouco sei ainda hoje sobre o tema, mas o aprender-a-gostar-de-poesia sei que devo um pouco ao professor Antonio Candido. E também ao amigo Sérgio Gouveia, que ainda no início dos anos dois mil, acabou me fazendo conhecer o fantástico mundo dos saraus.

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