domingo, 28 de maio de 2017

Lendo Hemingway e pensando o fascismo e a guerra civil



(atualizado em 28/5/17, às 11h02)

Lendo Hemingway e refletindo sobre o fascismo e guerras civis.

Refeição Cultural


"Morrer era nada, e ele não tinha uma imagem da morte, nem medo dela na mente. Mas viver era um campo de trigo ondulado ao vento numa encosta. Viver era um gavião no céu. Viver era um jarro de cerâmica com água na poeira do debulho do trigo, batido na eira com o mangual, e a palha esvoaçando. Viver era um cavalo entre as pernas e uma carabina sob a coxa, uma colina, um vale, um riacho com os pinheiros ao longe, mais adiante outro vale, e outras colinas além..." (narrador da estória, in: Por quem os sinos dobram, 1940)

"Quantos você acha que matou? Não sei, não tomo nota. Mas consegue calcular? Consigo. Quantos? Não dá para ter certeza. Explodindo trens você acaba matando muitos. Muita gente. Não dá para ter certeza. Então de quantos você tem certeza? Mais de vinte. E desses, quantos eram realmente fascistas? Pelo menos dois eu tenho certeza que eram. Porque tive que fuzilá-los quando os fizemos prisioneiros em Usera. E você não se importou? Não. Nem gostou? Não. Decidi nunca mais fuzilar ninguém. Tenho evitado isso. Tenho evitado matar quem não estiver armado." (Reflexões de Robert Jordan, in: Por quem os sinos dobram, 1940)


Neste sábado, acordei decidido a ler bastante e peguei o grosso volume de quase 700 páginas de Hemingway, Por quem os sinos dobram (1940). Li quase 150 páginas. A estória se passa na Espanha, no cenário da Guerra Civil Espanhola (1936-39). Peguei para ler este clássico por causa da ascensão do fascismo no Brasil e no mundo.

Eu já passei pelo capítulo duríssimo que descreve a execução de pessoas de um dos lados da guerra - os fascistas e apoiadores -, por parte dos republicanos e apoiadores, ao tomarem uma vila. Hoje passei por trechos da guerra onde os republicanos é que se deram mal e foram todos mortos em combate e executados em uma colina, tendo suas cabeças degoladas.

Fiquei pensando sobre a construção do ódio em nosso País, de forma deliberada e planejada por parte dos empresários e grupos políticos de oposição aos governos do Partido dos Trabalhadores. O Brasil se transformou num lugar de ódio e intolerância. Os meios de comunicação dos empresários golpistas envenenaram o povo. Boa parte das famílias e grupos sociais se dividiram estimulados pelo ódio.

Um golpe de Estado ocorreu no País em 2016, planejado e executado por uma camarilha de corruptos de alto escalão - a elite da Casa Grande secular -; corruptos da elite que tomaram de assalto todos os aparelhos do Estado. Com isso, más condições de vida e iniquidade imperam num brazil-colônia sob forte ataque aos direitos dos trabalhadores e a destruição do Brasil.

Por curiosidade, fui ver algumas mensagens nos perfis em redes sociais de familiares com os quais perdi a relação após essa cisânia na vida do povo brasileiro e vi comentários assustadores: eles só fazem reproduzir o que a mídia manipuladora inventa como pauta única, escondendo a corrupção de seus pares no assalto ao Brasil e, por outro lado, construindo pautas ininterruptas contra o segmento da sociedade representado pelos movimentos sociais, populares, de esquerda, e da classe trabalhadora. Tem familiar meu que diz que Lula, Dilma, petistas e sindicalistas deveriam ser exterminados como ratos.

A seguir assim, o cenário que teremos pela frente em nosso País pode descambar para algo parecido com o que ocorreu na Espanha nos anos trinta. E as consequências duraram quase quatro décadas - a ditadura de Franco. E o pior é que se ocorrer algum tipo de matança entre irmãos, os causadores da guerra, esses golpistas liderados pela elite do 1%, acabam pegando voos e se transferindo para outros países para assistirem de camarote a desgraça em nossa pátria, sem risco algum para suas vidas.

Muito triste ver destruição tão grande em nosso Brasil, causada por um bando de canalhas que não aceitaram a vontade popular e as mudanças que vinham distribuindo um pouco mais das riquezas do País para o povo de forma geral.

William
Leitor e cidadão

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