Após andar 15 km, chegamos ao Rio Araguari. |
Refeição Cultural
Nesta sexta-feira, 11 de agosto, peguei a estrada pela enésima vez para fazer o caminho entre Uberlândia e Água Suja - cidades do Triângulo Mineiro -, romaria que faço desde a minha adolescência, nos anos oitenta.
Mesmo fazendo o caminho a tanto tempo, e mesmo o caminho sendo o mesmo, cada caminhada é única, cada experiência é nova, cada momento é único. Nós nunca somos os mesmos de um ano para outro.
Instantes - bezerro morto, e urubus. Um urubu por poste na espera; outros no início dos trabalhos de decomposição e reaproveitamento natural. |
Desta vez, fizemos a caminhada meu filho e eu. E pela primeira vez em tantos anos, tive alguém acompanhando a nossa caminhada de carro, coisa comum para muitos romeiros. Meu cunhado se ofereceu para ir conosco, o que facilita muito porque evita-se de carregar tudo nas mochilas às costas. Querido Túlio, muito obrigado!
Rio Araguari em toda a sua beleza. |
Pegamos a estrada na sexta pela manhã, às 9h45, saindo do trevo entre Uberlândia e Araxá. Deste ponto, o percurso dá 73,5 km. Os uberlandenses nos avisaram que o Sol estaria muito forte. Mas decidimos sair cedo, porque se não pegássemos Sol forte na saída descansados, pegaríamos Sol escaldante no período final, já que o percurso dura mais de 20 horas, indo direto.
Instantes - olhem a beleza desta paisagem em nosso duro caminhar. |
Ano passado, a caminhada foi uma das mais difíceis de minha vida. Meus pés estouraram muito cedo com bolhas, por causa do tênis não ter sido ideal, e eu me carreguei por mais de 50 km na base da persistência no objetivo e na superação das dores.
Parada em um posto desativado. Já andamos uns 26 km. |
Neste ano, foi completamente diferente. Ano passado, eu senti que seria daquele jeito antes de sair para a estrada. Havia todo um contexto pessoal e político na vida deste cidadão. De forma inversa, tinha comigo que faria agora a caminhada com tranquilidade, pois minhas energias estão preparadas para tudo que tenho que enfrentar.
Essa foto é um verdadeiro instante único. Segundos depois, as rolinhas se dispersaram. |
Um dos maiores prazeres que tive foi a companhia de meu filho amado, Mário Augusto. Foi um momento raro em nossas vidas distantes, podermos conversar durante dezenas de quilômetros sobre diversas coisas. Como ele faz biologia e eu sou um curioso em tudo, falamos de biologia, de ecologia, de música. Meu filho me explicou diversos jogos de videogame, dentre outras coisas. Só nosso momento juntos já fez a caminhada valer a pena.
Romeiros na estrada. O percurso tem subidas de horas de caminhada. |
A experiência de andar por diversas horas seguidas pelas estradas da vida nos faz alterar momentos de pensamentos e reflexões, momentos de olhar a natureza, no caso do Triângulo Mineiro, uma vegetação ressequida de início de agosto, e momentos de muita concentração no seu corpo, na sua mente, para fazer o que tem que ser feito ali.
Sou fascinado por árvores e troncos retorcidos e secos, em seus momentos de economia de energia vital para o momento seguinte da vida. |
Neste ano, os romeiros tinham uma preocupação extra: o Governo Federal, o DNIT, proibiu que se montassem barracas de ajuda aos romeiros. Isso é um absurdo! A tradição da Romaria na região tem um século e meio. Felizmente, o povo desobedeceu a proibição imbecil e eu nunca vi tanta barraca de ajuda na minha vida. Foram mais de 15 ao longo dos quase 80 km. Não faltaram frutas, bebidas e lanches para os romeiros.
Por do Sol na estrada. Parte I. |
Eu registrei algumas imagens com minha velha máquina fotográfica de 2009 e ela ainda funcionou bem. Meu corpo resistiu de forma impressionante. Eu não tive bolha. Eu não tive sono desta vez. Não senti nada. Cheguei à Romaria pronto para os desafios que tenho pela frente.
Por do Sol na estrada. Parte II. |
Os caminhos e distâncias que temos que percorrer em nossas caminhadas pela vida, em busca de nossos objetivos, são os mais diversos possíveis e são muito duros. Não há caminho fácil na vida de um membro da classe trabalhadora.
Parada para descansar e tomar uma sopa na barraca de ajuda aos romeiros (Antena). Já andamos 50 km. |
Os desafios que temos para retomar nosso País das mãos dos bandidos que se apossaram dele, os desafios para recuperar e manter os direitos dos trabalhadores que representamos, e que somos, são imensos. Mas cada ser humano carrega em si uma energia infinita, desconhecida. E criadora.
Eu e o filhão dando uma descansada na Antena antes de seguir adiante. |
Volto para minhas tarefas políticas e cidadãs nesta segunda-feira consciente da força e energia que tenho para cumprir com meus objetivos de defender os direitos em saúde dos trabalhadores que represento, cuidar de meus entes queridos e ajudar a construir um mundo mais justo e solidário, a partir de minhas ideias, minhas palavras e minhas atitudes.
Estou na ponte sobre o córrego que marca os últimos 3 km para chegar à cidade. Faço esta foto há muitos anos. Só ficando mais velho... |
Estamos firmes e à disposição das lutas que acreditamos.
William - um homem na estrada
Post Scriptum:
Aos uberlandenses: eu gostaria de contatar uma senhora chamada Dona Cida, de pouco mais de 50 anos, que saiu para a Romaria na sexta de manhã, do bairro Martins, e nos encontramos quase que durante a caminhada toda. Ela deixou sua bolsa com cobertor e algumas roupas no carro do Túlio, que nos apoiou, e como não a encontramos nem no Posto Santa Fé, nem na barraca do Atalho, deixamos a bolsa dela com o pessoal da barraca, mas no dia seguinte soubemos que a bolsa ainda estava lá. Caso alguém a conheça, peço entrar em contato comigo através do Blog ou do meu perfil no Facebook.
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