domingo, 15 de outubro de 2017
Liberdade e consciência de classe são bases das lutas em defesa dos direitos dos trabalhadores
(atualizado às 19h35 do mesmo dia)
Refeição Cultural
Domingo de descanso em Osasco. Manhã fria, a temperatura mudou de mais de 31° para 16° de um dia para o outro. São Paulo é assim.
O dia deveria ser de descanso de uma jornada intensa de trabalho e lutas pela causa que defendo há pouco mais de três anos: ser gestor eleito de uma autogestão em saúde, cujos associados são os próprios trabalhadores da empresa pública à qual pertencemos, o Banco do Brasil.
Quanto mais avançam minha idade e experiência nesta breve existência, mais sinto necessidade de autoconhecimento. Meu desejo e necessidade de estudar e de preencher todas as lacunas culturais que tenho em todas as áreas do conhecimento humano me pressionam a não querer sequer deixar o corpo físico descansar. Porque a vida é um instante e somos muito ignorantes sobre quase tudo.
Tenho maltratado meu corpo na jornada que estou empreendendo na defesa da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil e na defesa dos direitos em saúde dos trabalhadores que represento. A tarefa que percebemos que teríamos pela frente era a mais desafiadora de nossa vida de representação, quando realizamos no início do mandato o diagnóstico da situação que encontramos e planejamos os objetivos centrais a empreender em quatro anos. A Cassi era uma total desconhecida dos intervenientes do sistema em relação à sua essência.
Como disse no início, meu corpo fica me pedindo que eu durma quase que o dia todo nos finais de semana, porque estou cansado. Mas eu brigo com ele e fico acordado e tento estudar, encontrar novas ideias, explicações e experiências de nossos antepassados nas lutas sociais que possam balizar minhas estratégias em defesa das causas que defendo.
Nunca li e estudei tanto quanto nestes últimos três anos. Por mais que não tenha tempo livre porque desde o primeiro dia de mandato na Cassi trabalho ininterruptamente quase que as 24 horas do dia, porque mesmo em finais de semana, à noite, nas madrugadas, estamos usando nossa inteligência para criar estratégias de lutar contra gigantes, contra o sistema, contra a ignorância. Estudei para lutar contra o desconhecimento e a falta de consciência que podem favorecer o aniquilamento das conquistas sociais e de classe pelas quais lutamos.
Peguei para ler neste sábado um livrinho sobre Rosa Luxemburgo. Li umas cinquenta páginas, entre o sono e a atenção à esposa e filho. E também entre as tristezas que sentimos por sermos humanos e termos problemas pessoais como qualquer cidadão. Um militante de esquerda e dirigente eleito de trabalhadores não é uma máquina, é uma pessoa.
Nesse parco tempo que li umas cinquenta páginas sobre Rosa Luxemburgo também dediquei um tempão ao meu trabalho de gestor da Cassi, pois fiz um esforço para responder participantes em diversos grupos em redes sociais (sei que não deveria fazer isso nas "folgas").
Sobre ideias de Rosa Luxemburgo
"Na questão parlamentar, Rosa Luxemburg sentia-se próxima de Friedrich Elgels, que considerava o Parlamento uma tribuna para a propaganda revolucionária, e nada mais. Para ela a sociedade só podia se emancipar se o proletariado se emancipasse. Emancipação pela prática, por uma modificação progressiva na correlação de forças, era segundo ela o único caminho que fazia sentido para a emancipação. No que Rosa Luxemburg desejava era central não o permanente crescimento numérico dos membros das organizações proletárias e dos eleitores, e sim o crescimento da autoconsciência e da capacidade de ação política. O partido devia fazer propostas à classe trabalhadora e deixar que ela decidisse, mesmo correndo o risco da rejeição, e isso tinha de ser aceito em cada caso específico."
Interessante essa visão que Rosa Luxemburgo nos dá sobre construir a autoconsciência nas pessoas participantes de um sistema social.
Um dos objetivos centrais que empreendemos neste mandato de gestor da Caixa de Assistência foi percorrer as bases sociais da autogestão - a comunidade Banco do Brasil - e levar ao conjunto de participantes e lideranças do sistema informações básicas sobre direitos e deveres no uso da Cassi e para a tomada de decisões enquanto associados da autogestão em saúde. Eu trabalhei esse objetivo com o nome de "pertencimento".
Já que não teria condições de estar e falar com centenas de milhares de participantes do sistema Cassi ao longo do mandato, minha estratégia foi trabalhar com uma rede de conhecimento, que poderia levar o autoconhecimento aos demais usuários em sistema de teia. Foquei os Conselhos de Usuários, entidades sindicais e associativas e as lideranças do Banco do Brasil nos Estados e na Direção da empresa, o que inclui seus representantes na gestão da operadora de saúde.
A tarefa era muito desafiadora. Não havia uma cultura de informação na comunidade BB para esclarecer o que era, como funcionava, quais os problemas centrais, como resolvê-los, quais os objetivos que a Cassi tinha como missão, os deveres e obrigações de todos os intervenientes, além dos direitos. Não havia.
Se havia cultura de informação, era algo esparso e não sistêmico. Era um trabalho voluntarioso e local de pessoas abnegadas com consciência e conhecimento a respeito da Cassi, principalmente dos funcionários das áreas de atividade-fim na sede em Brasília e nas unidades administrativas e de saúde nos Estados/DF.
Ao estar no 4° e último ano de mandato, é natural que façamos um pouco de balanço sobre os objetivos que alcançamos e os que não alcançamos, inclusive por causa de todas as dificuldades e crises que permearam todo o período.
Eu tenho um sentimento e uma leitura de que VALEU A PENA o esforço de lutar por levar mais informações de qualidade sobre o sistema de saúde Cassi e os problemas todos que o envolvem, agregando consciência e espírito de pertencimento senão ao conjunto dos participantes ao menos para as lideranças dos associados e suas entidades representativas.
Nós vencemos uma batalha na questão do déficit entre 2014 e 2016, ao fazer o patrocinador BB colocar recursos também no sistema de saúde Cassi, junto com os associados, por não ser justo que só o lado dos trabalhadores fosse onerado. E nenhum direito social foi perdido naquela crise do déficit.
Com mais pertencimento e autoconhecimento dos trabalhadores do Sistema Cassi teremos melhores perspectivas de sustentabilidade e manutenção dos direitos em saúde
As batalhas seguem neste exato instante porque a defesa dos direitos em saúde dos trabalhadores brasileiros em suas mais diversas frentes e etapas é uma guerra, uma guerra de extermínio, onde nós somos o alvo.
Só para situar os leitores, há riscos na existência de operadoras de saúde no modelo de autogestão por diversos fatores inviabilizantes como, por exemplo, tratamento não adequado de autogestões por parte da ANS; abusos nos valores cobrados pelo sistema privado na venda de serviços de saúde - hospitais, profissionais de saúde, materiais e medicamentos -; o sistema está sendo destruído por judicialização abusiva e irracional; risco de privatização e desmantelamento de empresas públicas que mantêm os planos de saúde em modelo autogestão etc, infelizmente!
Nosso papel neste pequeno espaço de luta por direitos em saúde de trabalhadores (a autogestão Cassi dentro do todo) tem sido o de informar e organizar os participantes de um magnífico sistema de autogestão baseado em Atenção Integral, com Atenção Primária (APS), medicina de família (ESF) e monitoramento de participantes acometidos de doenças crônicas e outros riscos através de programas de saúde. Já fazemos isso em mais de 180 mil pessoas do sistema Cassi.
A partir de diversos estudos internos na Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento, construímos neste mandato para todos da Caixa de Assistência conhecimentos que facilitam o olhar técnico dos resultados em saúde, que mostram que a Cassi é muito eficiente em relação ao seu modelo de promoção e prevenção.
Um estudo sobre os vinculados ao nosso modelo assistencial demonstrou que esse grupo tem mais qualidade de vida e usa melhor os recursos do sistema quando precisa da rede prestadora comparado a grupo nas mesmas condições de grau de complexidade e que ainda não está na Estratégia Saúde da Família (ESF), ou seja, o grupo não vinculado usa a rede prestadora sem orientação racional da ESF. Mas preciso de recursos de investimento para ampliar a cobertura do modelo para a conjunto dos assistidos.
Atuamos com respeito às diferenças, com muita dedicação em intercalar as milhares de horas de estudos e debates na sede da entidade, onde deliberamos semanalmente sobre a gestão, com a visita presencial à base dos trabalhadores que representamos, que na Cassi é o Brasil. Todos os meses estive prestando contas, esclarecendo, mobilizando e chamando para a luta milhares de participantes, contribuindo para a consciência de classe e valorizando a liberdade que todos devem ter.
A luta tem que seguir sempre, não esmoreçam!
Abraços,
William
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