Ler e se educar, buscar conhecimento e ter melhores subsídios para analisar o mundo é tarefa de qualquer um na sociedade humana. |
Refeição Cultural
"- Tens de te convencer que precisas de estudar. Como serás útil depois da luta? Mal sabes ler... onde vais trabalhar?
- Fico no exército - disse Lutamos.
- E julgas que para ficar no exército não tens de estudar? Como vais aprender artilharia ou tática militar ou blindados? Precisas de Matemática, de Física...
- Ora! Eu não quero ser oficial.
- E quem vai ser oficial, então? Esses que se formam no exército tuga, sem formação política, que um dia tentarão dar um golpe de Estado? É isso que queres? Que depois da Independência haja golpes de Estado todos os anos, como nos outros países africanos? Precisamos de ter um exército bem politizado, com quadros saídos da luta de libertação. Como vamos fazer, se os guerrilheiros não querem estudar para serem quadros?
Lutamos encolheu os ombros. Contemplou o grupo de jovens que cambalhotavam por terra, suando, o suor agarrado à lama do Mayombe, e o Comandante, de tronco nu, cambalhotando também, levantando-se para em seguida rolar pelo solo, misturando explicações a encorajamentos e gritos." (Mayombe, Pepetela, 1980, Angola)
Depois de tanto tempo focado em tarefas coletivas que exigiam muito conhecimento técnico, específico e muita dedicação política, algo muito trabalhoso e de pouco reconhecimento social nos tempos que correm, o momento é de tentar readaptar o cérebro para novos aprendizados, para a volta do estímulo aos mais diversos temas culturais, sobretudo relacionados à história da humanidade e das sociedades humanas.
Os materiais e fontes de conhecimento com viés progressistas são alternativas importantes para que uma pessoa possa se informar, sem ser manipulada de forma exagerada pelas fontes de conteúdos. Qualquer texto tem a posição de sua fonte, não há texto isento ou neutro, mas há texto honesto em seu posicionamento, inclusive aqueles que se arvoram como textos "técnicos".
Livros clássicos de literatura universal e local, livros de ensaios, filosóficos e com características históricas, livros de autores contemporâneos que se coloquem contrários à ordem hegemônica do mundo capitalista dominado por corporações e seu 1% de humanos donos de tudo, revistas que deem visibilidade às causas populares, combatidas nos meios midiáticos dos donos de tudo, enfim, ter boas fontes de conteúdo sem se colocar à mercê da idiotização global a partir dos oligopólios midiáticos é possível, basta querer.
A revista CartaCapital é um exemplo de meio de informação que me agrada. Ela faz jornalismo de qualidade, traz conhecimentos gerais aos seus leitores, não tem a manipulação como objetivo central da publicação como ocorre com quase todas as revistas dos empresários donos de jornais e revistas comerciais chamados por nós da esquerda de PIG - Partido da Imprensa Golpista.
Voltei a assinar a revista já faz algum tempo, principalmente para atender ao chamado de Mino Carta para ajudar a revista a se manter viva, porque eu não conseguia ler as edições semanais por falta de tempo e outras prioridades. Agora que li 4 edições (1009 a 1012), vi o quanto alimentei meu conhecimento geral. Recomendo aos amig@s leitores que assinem a revista, pois além de contribuir para a manutenção da mesma, a assinatura custa o mesmo que algumas cervejas no boteco. Dá até para continuar bebendo socialmente, serão só algumas garrafas ou copos a menos. Reflitam a respeito.
OPINIÃO - é necessário que os cidadãos do povo e da classe trabalhadora determinem em suas jornadas diárias de vida uma obrigação de buscar conhecimentos históricos, sobre a luta dos povos contra a subjugação de outros sobre si mesmos, de dominações e imperialismos, explorações estrangeiras, de tragédias humanas, de exemplos históricos advindos da falta de democracia, solidariedade, excesso de egoísmo, de totalitarismos vários e suas consequências para os povos do mundo. Bons romances e bons ensaios podem contribuir para esse tipo de conhecimento.
- Jovens, por favor, busquem informações históricas! A vida não é um eterno presente contínuo, sem passado público e coletivo, como nos alerta Eric Hobsbawm no prefácio da Era dos Extremos. O que vocês podem contribuir para o presente e o amanhã coletivos deste nosso mundo, mundo vasto mundo?
Ainda estou pensando o que fazer com os meus blogs Refeitório Cultural e Categoria Bancária, blogs que alimentei com regularidade por mais de uma década como representante político de trabalhadores, que prestava conta do que fazia, pensava, defendia, e que buscava partilhar conhecimento para convencer pessoas e alterar contextos sociais.
Talvez eu passe a atuar só com o passado, só com o ontem, e não mais com o momento presente, além de literatura, filmes e conhecimentos gerais. Estou avaliando o que fazer para não perder meu gosto pelo ato de escrever e compartilhar o que sei (ou acho que sei) e as opiniões que tenho.
Abraços,
William
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