terça-feira, 29 de março de 2022

À la Benjamin Button... (19)



Refeição Cultural

Olhar para trás...


No filme sobre Benjamin Button um relojoeiro cego constrói um relógio na estação de trem da cidade cujo mecanismo funciona ao contrário, as horas retrocedem, ao invés de avançarem. Com isso, o relojoeiro sonhava que não tivesse havido a 1ª Guerra Mundial, que seu filho não tivesse morrido nela, que ele sequer tivesse voltado num caixão. 

Benjamin Button nasceu como um velho de uns oitenta anos e foi sobrevivendo e com isso foi rejuvenescendo. Eu fiquei pensando no relógio com o mecanismo contrário e fiquei imaginando a gente voltando para trás no tempo e avaliando as coisas feitas e havidas. 

Será que tudo poderia ser diferente se...? Não sei, nunca saberemos. Mas registro fatos pretéritos de minha própria existência, que avança para o fim e não para o começo, como deve ser.

O cenário do momento: Guerra na Ucrânia entre Estados Unidos e Rússia. A Rússia apresentou ao mundo um foguete-bomba hipersônico com precisão de centímetros no alvo e que não pode ser detectado por antimísseis. É algo pavoroso. A demonstração foi feita para a imprensa para tentar conter os ímpetos da Otan e dos EUA em seguirem ameaçando a existência da Rússia. No final da 2ª Guerra Mundial, os norte-americanos jogaram duas bombas nucleares no Japão - Hiroshima e Nagasaki - para demonstrarem que tinham a maior capacidade de destruição em massa de cidades inteiras e dos seres humanos que nelas viviam.

O Brasil de 2022 é o Brasil de 2016, seguimos no mesmo ano do golpe de Estado. Economia destruída. Povo na miséria. O crime organizado nos poderes do Estado. O fascista que elogiou um torturador durante o impeachment da presidenta sem crime foi colocado no lugar dela através de diversas fraudes do 1% da casa-grande durante as eleições de 2018. Vivemos numa terra de bárbaros. Um terço dos animais humanos aqui são bolsonaristas, mesmo após todas as desgraças e suspeitas de crimes cometidos pelos milicianos no poder. Dilma foi inocentada como era de se esperar. Lula que seria o nosso presidente também já teve 24 processos falsos contra ele arquivados. Quase 700 mil pessoas morreram de Covid-19 por causa das atitudes do regime no poder. Chega, né? Esse é o cenário.

Onde erramos tanto?

William 

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11/3/20

Uma matéria do site de CartaCapital me deixou muito pensativo. Ela se referia ao filme "Os últimos passos de um homem" (1995), filme baseado numa história real de um condenado à morte por assassinato (personagem interpretado por Sean Penn). 

O artigo é de Magali Cunha, publicado no site em 11/3/20, e tem como referência o caso que repercutiu bastante negativamente para o médico Drauzio Varella, que visitou uma presa condenada por assassinato, a trans Suzy de Oliveira. O médico recebeu muitas críticas por isso. 

A articulista relembra o filme e traz importantes lições a respeito do tema. Magali avalia o papel do perdão na personagem da freira do filme (interpretada por Susan Sarandon) e um pouco do papel desempenhado pelo médico ao acolher pessoas na condição de cárcere. Eles (a freira e o médico) não estão ali para julgar os apenados, os presos já foram condenados.

Ao replicar o artigo em rede social, postei o seguinte comentário:

"Texto emocionante. Quando vi este filme fiquei muito mal, pensando a vida e a sociedade. Até fiz texto no blog.

Choro ao ver que estamos todos doentes pelo ódio que nos inocularam para facilitar a destruição das frágeis perspectivas de um mundo melhor que vínhamos construindo neste início de século.

Choro por meu filho, por nossos filhos, nossos jovens, nossos pais, nossos amigos e conhecidos. Estamos doentes...

O ódio e o medo vão nos matar a todos."

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21/2/20

Nessa data, eu fiz um comentário em rede social ao repercutir uma notícia da TVT sobre o "ministro da justiça" do regime bolsonarista, o ex-juiz imparcial Moro. O sujeito lesa-pátria havia proposto naqueles dias uma portaria para que os veículos de comunicação voltassem a veicular publicidade infantil, tipo de propaganda proibida no Brasil por deixar crianças em condições vulneráveis e desprotegidas em relação às técnicas de marketing. 

Postei: "Que mais esperar nesse contexto político e social? Que merda de 'Ministério da Justiça' é esse do novo regime, que advoga para prejudicar as crianças? Merda de terra sem lei gerada pelos 57.797.847 eleitores conscientes daquilo que estavam fazendo com o país e o povo (porque gente inocente ou ingênua só em conto da carochinha)."

As pessoas decentes e não-ignorantes sabiam quem era o tal juizeco, um agente dos interesses norte-americanos para destruir a economia e a soberania do Brasil. Depois o povo saberia das falcatruas da Lava Jato através da Vaza Jato, os áudios que denunciaram as armações daquela quadrilha de Curitiba. 

Por incrível que pareça, o tal juiz ladrão foi "trabalhar" para uma empresa americana que faturou com a quebra das empresas brasileiras, ganhou milhões, e o tal do Moro não está preso, não está respondendo processo e é "ficha limpa" e quer ser presidente do país que ele destruiu... (me ajudem, me ajudem!)

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20/2/20

Por aqueles dias, chamou a atenção uma matéria da BBC News, feita por Vinícius Lemos, publicada em 18/2/20, sobre um cadeirante que estava trabalhando para aplicativos de entrega de refeição na região da Avenida Paulista. O jovem trabalhador, Luciano, era elogiado na matéria, por todo esforço que fazia para tentar trabalhar naquelas condições e para essa desgraça de sistema de uberização do mundo do trabalho no qual as pessoas não têm direito a nada e só os empresários donos dos aplicativos é que se dão bem.

A matéria é odiosa, marota, digna das melhores manipulações das massas ignaras. O que não está escrito nas informações da matéria - mas que podemos deduzir ao conhecermos o contexto da época - é que o jovem com deficiência física provavelmente era paratleta durante os governos do PT. O jovem é formado, sem dúvida foi mais um que teve oportunidades de estudos durante os governos do PT. A matéria é de 2020, quatro anos após o golpe. Coincidentemente é o tempo em que ele estava desempregado. Todo o esforço que ele faz para entregar algumas refeições pelos aplicativos lhe rendia 400 reais por mês... percebem a condição miserável desse ser humano? Fiz o seguinte comentário:

"A GRANDE IMPRENSA GOLPISTA E CANALHA (PIG) É O GOEBBELS DA CASA-GRANDE

O cadeirante luta pela sobrevivência em condições miseráveis e é "glamourizado" na matéria. Ele era paratleta e tinha uma vida digna no início dos anos dois mil na Bahia.

Os desgraçados do PIG, responsáveis pela destruição do país e pela idiotização do povo e pela transformação das pessoas em corpos de ódio invisibilizam com técnicas nazistas de comunicação o fato de que durante os governos do PT o povo era feliz, tinha dignidade e oportunidades como as pessoas com deficiência e os atletas, financiados com recursos públicos para exercerem sua cidadania.

A mídia corporativa e seus donos bilionários e parte de seus ideólogos são responsáveis pelo inferno em que vivemos.

É a ideologia, mas quem liga pra isso? Quantos têm noção disso?

Povo e país miseráveis!"

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04/2/20

Nesse dia li uma matéria da CNN norte-americana que trazia notícias sobre um garoto de 8 anos de idade que havia realizado um grande feito ao fazer uma campanha de arrecadação de recursos para custear as dívidas de crianças que estavam ficando sem almoço nas escolas porque seus pais não tinham dinheiro para pagar as refeições. O garoto passou a vender chaveiros personalizados por encomenda e arrecadou 4 mil dólares. A matéria "An 8-year-old boy paid off the lunch debt for his entire school by selling key chains", reportagem de Alicia Lee, no site da CNN, publicada em 4/2/20.

Ao postar a matéria comentei em minha conta em rede social:

"EDUCAÇÃO INFANTIL NOS EUA - CRIANÇA QUE NÃO PAGA, NÃO COME OU COME UM PÃO COM MANTEIGA NO ALMOÇO

E o Brasil quer seguir o exemplo norte-americano... essa é a ideologia capitalista que convence pobre e trabalhador a defender a política que favorece quem tem dinheiro e ferra a maioria sem recursos...

(Mas o destaque é a ação bonitinha do garoto que ajudou os colegas a pagar as dívidas de almoço)

Garoto norte-americano emociona o povo de seu país ao fazer chaveiros para serem vendidos a 5 dólares com o intuito de ajudar crianças de sua escola e de outras a pagarem as dívidas de almoço. A ação do garoto foi um gesto para contribuir com a "Semana da bondade". Ele fez mais de 300 chaveiros e arrecadou mais de 4 mil dólares (pessoas davam até 100 dólares por um exemplar personalizado).

A matéria fala ainda do absurdo que é o sistema americano. As dívidas de almoço escolar cresceram 70% do ano letivo de 2012/13 para 2017/18 e alguns estados tiveram que aprovar leis proibindo que se humilhassem crianças na hora do almoço discriminando elas na hora da refeição por causa de dívidas de almoço.

(Lembram do filme 'bonitinho' - "À procura da felicidade" (2006) - com Will Smith e seu filho? No capitalismo é assim, um vence e o restante perde...)"

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30/1/20

Nesse dia, postei um comentário estando grato por diversas mensagens recebidas em uma postagem sobre a importância de estudar e aprender coisas novas todos os dias. Neste momento em que rememoro instantes antigos, confesso que estou desiludido, estou sem fé nos seres humanos e na força das mudanças através de conquistas da classe trabalhadora organizada. Estamos cada dia mais isolados e divididos. Um mundo socialista e solidário, sem a prevalência do modelo destruidor capitalista, está cada dia mais difícil de alcançar.

"Instantes... (e a importância em se aprender sempre)

Coisa boa foi minha reflexão anterior sobre minha sede de conhecimento e novos saberes para seguir na existência cidadã. Pessoas muito generosas fizeram comentários na postagem que me emocionaram bastante (grato a tod@s). Coisa boa encontrar a essência humana nos humanos. Ainda há esperanças em resgatar a humanidade (por mais que comecemos na própria bolha que habitamos).

Três dias depois da postagem, estou mais conhecedor de algumas coisinhas. De pouquinho vamos nos lapidando...

Estou lendo Dalai Lama, Morris West, lendo sobre a Revolução Francesa, terminei o estudo das famílias do Hiragana (pouco mais de 40 fonemas e símbolos gráficos), um dos alfabetos da língua japonesa. Cada dia um pouquinho de coisa nova para o sistema cerebral, a essência do que somos.

Sobre os aprendizados da vida, como eles são importantes! Já evitei cirurgia desnecessária em pessoas queridas por conhecer profundamente gestão de sistemas de saúde. Noções que se levam para sempre, mesmo quando não estamos mais nos centros decisórios das coisas.

Ouvir mais... esse foi outro grande aprendizado que carrego por representar pessoas por tanto tempo... e falar só quando permitem, quando querem que eu fale...

Aprender sempre!"

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27/1/20

Postagem sobre aprendizado permanente. Nesta postagem em rede social recebi diversas manifestações carinhosas de companheir@s do movimento sindical. (Postei com a foto que ilustra esse texto)

"Instantes...

Estou aprendendo coisa nova todos os dias. É o mínimo que posso fazer pelo meu cérebro, pelo meu ser, pela minha cidadania, pelo meu entorno social.

Estou vivo e tenho que evoluir, ser melhor, e não permitir que o mal que invadiu o nosso mundo me derrote, nos derrote.

Estou lendo história, filosofia, literatura, reavivando línguas aprendidas, aprendendo novos idiomas.

Estou aprendendo coisa nova todos os dias. Já fiz minha lição de linguagem.

Estou aprendendo a me comunicar com jovens, começando por meu filho, assistindo animes.

É isso. Estou vivo. Sou de esquerda. Quero um mundo solidário, inclusivo, tolerante, com justiça, amor, amizade, liberdade.

Aprendi coisas novas hoje. Amanhã vou aprender mais.

Temos que resistir ao mal."

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24/1/20

Nesse dia, dois anos atrás, eu me lamentava em rede social sobre o isolamento no qual vivíamos após o golpe de Estado no Brasil e o divisionismo que dominou os movimentos organizados. Também abordava a questão dos efeitos dos algoritmos das big techs. Imaginem como a coisa piorou hoje, com as interferências parciais das big techs em relação à guerra na Ucrânia, entre Estados Unidos e Rússia: meia dúzia de empresas decidem quais fontes de informação podem circular e quais são censuradas e bloqueadas. Perdemos todas as referências em relação à verdade, aos eventos factuais.

"Reflexão...

Invisibilidade sufocante (talvez estejamos na etapa final da natureza social do animal humano)

Antes do domínio das empresas de tecnologia da comunicação e redes sociais (exemplos: Google, Facebook, WhatsApp), há pouco mais de 15 anos, a invisibilidade de segmentos sociais se dava pelas formas tradicionais de exclusão social de grupos marginalizados.

Hoje, as ferramentas de algoritmos conseguem invisibilizar os seres humanos de forma muito mais cruel e sufocante.

Se uma das empresas que citei acima determina que os algoritmos invisibilizem alguém, por motivos diversos como dinheiro ou ideologia, esse alguém não é visto por quase ninguém. Isso gera processos inevitáveis de sofrimento psicológico porque as pessoas já vivem processos de isolamentos reais em suas vidas nos centros urbanos.

Como poucos humanos estão no controle de praticamente tudo na atual fase do capitalismo (corporações e seus donos, cerca de 0,2% dos humanos do mundo), tenho a impressão de que são bem pequenas as chances de salvar a humanidade, salvar as pessoas comuns como nós, do avanço de Estados totalitários e fascistas. As distopias fictícias começam a ser possibilidades reais.

Estamos sós, conceitualmente e na prática, mesmo quando estamos na multidão.

Por isso o silêncio das ruas, por isso o marasmo dos movimentos sociais que não conseguem reagir e resistir ao ataque aos direitos gerais dos povos, e falo de movimentos que eram mais organizados e representativos.

Por isso o mal avança e o 1% está vencendo (o 1% inclui os ideólogos e lacaios úteis do 0,2%), e nós estamos perdendo, isolados, cada dia mais sós e comprimidos no isolamento dos algoritmos das empresas de redes sociais.

O ser humano como o conhecemos está sucumbindo...

William Mendes"

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17/1/20

Na época da postagem abaixo, a militância de esquerda e a parte mais progressista da sociedade viviam a ressaca da embriaguez do primeiro ano do regime bolsonarista, de destruição geral do país. Acredito que era comum gente como a gente alternar bons e maus dias em relação ao psicológico. Talvez até hoje estejamos vivendo esses altos e baixos em relação ao engajamento a qualquer causa coletiva, porque parece que nada vai mudar a situação na qual nos pegamos após o golpe de 2016, o ano que ainda não acabou.

"Instantes... (efetivamente cheguei à conclusão que escrever mais do mesmo não tem sentido, tem gente melhor escrevendo e poucos leem coisas sérias. Cada vez que penso em escrever e dizer minha opinião sobre algo, reflito que gente melhor qualificada já escreveu o que penso. E, de novo, mesmo assim pouca gente lê...)

Sem sentidos, as coisas perderam o sentido nesse estágio bárbaro do brasil e, principalmente, dos bárbaros brasileiros.

Estamos assim, nesse instante: parabéns aos isentões! Procura-se isentões para eleições, para interlocuções, para passar panos nas polêmicas, procura-se isentões... é pra rir e pra chorar!"

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Fim desse momento de olhar para trás.


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