quarta-feira, 2 de março de 2022

Caminhei na tormenta



Refeição Cultural

Osasco, 2 de março de 2022.

Diário e reflexões

Ontem choveu forte em algumas regiões da grande São Paulo. Aqui em Osasco tivemos aquela forte chuva de verão ao final da tarde, chuva que durou até o final da noite e início da madrugada.

Vendo que viria uma forte tempestade de verão, me deu vontade de sair e caminhar e sentir a força dos elementos da natureza. Assim fiz. Caminhei na tormenta por cerca de uma hora.

Ao sair de casa, não andei cinco minutos e a chuva começou. Ela não veio forte no início. O calor da tarde era imenso, uns 30º. A chuva mais forte demorou um pouco a cair. Uma chuva leve me molhou por uns dez minutos.

Aí começou a tempestade. A chuva engrossou, escureceu bastante, a roupa encharcou e colou no corpo. Gelada! Em minutos, vamos vendo as enxurradas se formarem, estava andando numa longa rua com subida e bem arborizada.

Apesar de nossa arrogância de humanos, não somos nada comparados aos elementos da natureza. Ficar sob uma tempestade nos lembra dessa pequeneza que somos. Água, forte ventania, árvores...

Conforme a tempestade aumenta, a visão do mundo ao redor diminui, o barulho da natureza ensurdece a gente, nosso ser começa a torcer para que a tormenta não aumente e tudo fica incerto, mesmo estando no ambiente urbano, porque o volume da água que corre aumenta e ela quer caminho livre.

Durante a caminhada sob a chuva me lembrei de algumas vezes nas quais me peguei em temporais repentinos. A ida de bicicleta para Araguari na adolescência, pegamos uma tempestade imensa na estrada. Passamos um frio da porra naquele dia. Aquele momento de chuva intensa na estrada para Campos do Jordão, de moto. Os temporais que já peguei correndo ou andando. Os temporais fazendo entregas de bicicleta ainda moleque trabalhando na Med Jato Drogarias.

A chuva diminuiu depois de meia hora de caminhada. Mas faltando uns dez minutos para chegar em casa, engrossou de novo. Bem forte.

Privilégios... Caminhei na tormenta porque quis. E após uma hora de chuva, tinha a certeza de que teria um chuveiro quente e uma casa confortável para aportar. No Brasil isso é um privilégio de uma parte das pessoas.

Uma multidão de seres humanos está caminhando sob tormenta sem um lugar pra chegar, um porto, um conforto. Isso não é certo, não é justo. Não é natural! É o capitalismo. Essa gente naufragada na miséria é uma escolha de uma parte da sociedade humana.

Basta uma caminhada na tormenta para percebermos o quanto somos frágeis e dependentes uns dos outros, não somos nada sozinhos, não somos nada sem o compartilhamento das criações humanas para o viver. A força dos elementos da natureza é algo natural. A miséria humana no atual contexto tecnológico não é.

William


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