domingo, 27 de setembro de 2009

Literatura Portuguesa IV - Poesia Simbolista

Prof. Dr. Horácio Costa

(aula de 25.8.09)

Poesia francesa – Baudelaire

Ele é o divisor de águas entre os poetas do mundo ocidental.

1. Primeiro poeta a deixar claro nos poemas que não pertence à ordem burguesa.

2. Ele é o poeta moderno de recepção internacional – ele faz a ponte entre o norte e o sul da Europa.

Ele deixa claro que ele e sua obra saem do centro para a margem.

Antes, o poeta era acolhido na ágora, na sociedade, nos castelos, na burguesia, ou seja, nas instâncias do poder. Por milênios, eles - os poetas - tinham guarida na sociedade.

Na segunda metade do século XIX ocorre a criação da nova cultura de massas. O velho pacto entre sociedade e poeta se rói, finda.

Esse é um dos motivos de sua modernidade.

O 2º motivo de sua modernidade é o seu texto ser moderno. A tematização e o produto de Baudelaire são específicos e inovadores para a época.

A obra Flores do mal, de 1857, foi perseguida e teve que ser reeditada depois.

A Poética de Baudelaire é outra característica moderna. Ele é tanto fundador do Simbolismo como também será um parnasiano. Ele consegue casar os dois modelos. Essa é a 3ª originalidade do poeta.

DESTAQUE em sua obra, sua tematização: um olhar de liberdade, no sentido da arte.

(leitura do poema “O albatroz”)

O ALBATROZ (tradução Delfim Guimarães)

Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vôo triunfal, numa carreira audaz.

Mas quando o albatroz se vê preso, estendido
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caídas para o lado!

Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotescio verme!...
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.

O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
Não o deixam andar as asas colossais!

No poema original em francês é possível perceber a importância da EUFONIA, o valor do som na poesia simbolista. Na tradução é muito difícil manter a sensação transmitida pelo poema.

L'Albatros
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

À peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.

— Charles Baudelaire

Temos uma imagem comum do século XIX: as navegações, um barco que vai singrando o mar, os albatrozes que vão acompanhando o barco etc.

Às vezes, um cai ou para no barco, outro é pego pelos marinheiros.

ALEGORIA do poema:

O POETA está para a SOCIEDADE como o ALBATROZ está para os MARINHEIROS.

Há uma impossibilidade de visão ou compreensão dos leigos, dos comuns, para o que veem ou para a beleza que existe na natureza e na poesia.

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