Bandeira do Animalismo: o casco e o chifre. |
A Revolução dos
Bichos – George Orwell, 1945
Literatura Inglesa
“O Sr. Jones, dono da Granja
do Solar, fechou o galinheiro para a noite, mas estava bêbado demais para
lembrar-se de fechar também as vigias...”.
“Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um silencioso
movimento em todos os galpões da granja. Correra, durante o dia, o boato de que
o velho Major, um porco que já fora
premiado numa exposição, tivera um sonho
muito estranho na noite anterior e desejava contá-lo aos outros animais...”.
“(...) Com doze anos
de idade, já bem corpulento, era
ainda um porco de porte majestoso, com um ar sábio e benevolente, a despeito
de suas presas jamais terem sido cortadas...”.
“Todos os animais
estavam presentes, exceto Moisés, o corvo domesticado, que dormia fora, num
poleiro junto à porta dos fundos. Quando
o Major os viu, bem acomodados e aguardando atentamente, limpou a garganta e
começou:
- Camaradas, já
ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive à noite
passada. Mas falarei do sonho mais tarde. Antes, tenho outras coisas a dizer. Sei,
camaradas, que não estarei convosco por muito mais tempo e, antes de morrer, considero uma obrigação
transmitir-vos o que aprendi sobre o mundo. Já vivi bastante e muito tenho
refletido na solidão da minha pocilga. Creio
poder afirmar que compreendo a natureza da vida sobre esta terra, tão bem
quanto qualquer outro animal vivente. É sobre o que desejo vos falar”.
Assim começa a estória da Revolução dos Bichos. Vamos ver algumas verdades que os animais nos
dizem:
1. A REALIDADE
“Então, camaradas,
qual é a natureza desta nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é
miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento
necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até
a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba,
trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é
felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida do animal é feita de
miséria e escravidão: essa é a verdade, nua e crua”.
2. NATURAL?
“Será isso, apenas, a
ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça
condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não!
O solo da Inglaterra é fértil, o clima é bom, ela pode dar alimento em
abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente (...) Por que, então, permanecemos nesta miséria?
Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos.
Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra – Homem. O Homem é o nosso verdadeiro e único
inimigo. Retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga
de trabalho desaparecerá para sempre”.
3. OS QUE VIVEM DA
EXPLORAÇÃO DOS OUTROS
“O Homem é a única
criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais
para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o
senhor de todos os animais. Põe-nos a
mourejar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante.
Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza, e, no entanto, nenhum de nós possui mais que a própria
pele...”.
4. QUE FAZER ENTÃO?
LIVRAR-SE DOS EXPLORADORES E SEU SISTEMA
“Não está, pois,
claro como a água, camaradas, que todos os males da nossa existência têm origem
na tirania dos humanos? Basta que nos livremos do Homem para que o produto de
nosso trabalho seja só nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos
nos tornar ricos e livres. Que fazer,
então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero
humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas: Rebelião! Não sei
dizer quando será esta revolução, pode ser daqui a uma semana ou daqui a um
século, mas uma coisa eu sei, tão certo quanto o ver eu esta palha sob meus
pés: mais cedo ou mais tarde, justiça será feita. Fixai isso, camaradas, para o resto de vossas curtas vidas! E,
sobretudo, transmiti esta minha mensagem aos que virão depois de vós, para que
as futuras gerações continuem na luta, até a vitória”.
5. OS INTERESSES DE
UM NÃO SÃO OS INTERESSES DO OUTRO (IDEOLOGIA)
“E lembrai-vos,
camaradas, jamais deixai fraquejar vossa decisão. Nenhum argumento vos poderá
desviar. Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm
interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo
mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre
nós, animais, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os
homens são inimigos, todos os animais são camaradas”.
6. TODOS OS ANIMAIS
SÃO IGUAIS. NÃO SE DEVE TIRANIZAR UM AO OUTRO
“- Pouco mais tenho a dizer. Repito apenas: lembrai-vos sempre do vosso dever de inimizade para com
o Homem e todos os seus desígnios. O que quer que ande sobre duas pernas é
inimigo, o que quer que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo. Lembrai-vos também de que na luta contra o
Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os
vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar
roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E,
principalmente, jamais um animal deverá
tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos
irmãos. Todos os animais são iguais”.
BREVE COMENTÁRIO
Reli pela quarta vez esta estória-metáfora de George Orwell.
Ela é necessária a todos nós militantes sociais.
Temos que pensar sobre esta experiência na Granja dos
Bichos, antiga Granja do Solar.
Eu, por exemplo, voltei ao livro pelo que tenho visto no meu
entorno, por aqui e por ali.
Cada frase, cada passagem dos eventos que envolvem o Homem e
os Bichos, classes nesta granja-mundo, é tão atual, se encaixa tão
perfeitamente nos nossos espaços-mundo, que impressionam!
Mas ainda luto pelas ideias do velho Major...
É isso.
Bibliografia:
ORWELL, George. A Revolução
dos Bichos. Biblioteca Folha 2003, a partir da Editora Globo SA.
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