Volume 1 de O tempo e o vento. Essa é a minha edição... |
A FONTE
(1)
“Naquela madrugada de
abril de 1745, o Pe. Alonzo acordou angustiado. Seu espírito relutou por alguns
segundos, emaranhado nas malhas do sonho, como um peixe que se debate na rede,
na ânsia de voltar a seu elemento natural. Por fim deslizou para a água,
mergulhou e ficou imóvel naquele poço quadrado, escuro e frio.
(...) A brisa picante da
madrugada bafejou-lhe o rosto. Havia na redução um silêncio leve e úmido, um
certo ar de expectativa, como se toda a terra se estivesse preparando para o
mistério do amanhecer. Alonzo amava aquela hora. Era quando tinha uma
consciência mais lúcida da presença de Deus. Tudo lhe parecia puro, frágil e aéreo...
(...) Naquela direção ficava o Continente do Rio Grande de São Pedro,
que Portugal, inimigo da Espanha, estava tratando de garantir para a sua coroa.
Um dia, em futuro talvez não mui remoto, os portugueses haveriam de fatalmente
voltar seus olhos cobiçosos para os Sete Povos...” (pág. 21)
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, aprendi muito sobre as missões jesuíticas na
região sul do Continente Americano.
BOA COLHEITA: DEUS E
TODOS FICAM FELIZES
(3)
“Às oito horas, os índios
que trabalhavam nas plantações e na estância reuniram-se como de costume na
frente da igreja e Pe. Alonzo fez-lhes uma pequena preleção. Disse-lhes que se
colhessem muito trigo, teriam muita farinha; se tivessem muita farinha dariam
serviço ao moinho; se o moinho trabalhasse, os padeiros poderiam fazer muito pão;
e se todos tivessem muito pão, ficariam bem alimentados; e se ficassem bem
alimentados Deus se sentiria feliz. Acrescentou que naquele ano precisavam
exportar mais erva-mate e algodão para Buenos Aires, pois quanto mais coisas
exportassem mais dinheiro teriam, não só para pagar os dízimos ao rei de
Espanha, como também para comprar remédios, instrumentos e – oh! Sim – mais coisas
belas para a igreja: cálices, cruzes, castiçais...” (pág. 29)
CABILDO (E SISTEMA
COLETIVISTA NOS SETE POVOS)
“Quando escrevia a
parentes e amigos da Espanha, Alonzo nunca deixava de elogiar a organização das
reduções, que, à maneira das povoações espanholas, era governada por um
Cabildo, para o qual os índios escolhiam em eleições anuais o corregedor – a
autoridade máxima – os regedores, os alcaides, o aguazil-mor, um procurador e
um secretário. Contava-lhes também como os indígenas aprendiam, através de
lições práticas e vivas, que o indivíduo pouco ou nada vale fora da
coletividade a que pertence. Toda a produção das lavouras e estâncias de gado
das reduções pertencia à comunidade, e os bens de consumo eram distribuídos
igualmente entre todos. A gente dos Sete Povos não conhecia nenhuma moeda, pois
ali vigorava um regime de permutas. Do dinheiro apurado na venda de erva-mate e
outros produtos que exportava para o Rio da Prata, pagava impostos ao rei de
Espanha, sendo o resto empregado na compra de instrumentos de trabalho, alfaias
e outros objetos para as igrejas. O que sobrava era finalmente remetido aos
cofres da Sociedade de Jesus, em Roma...” (pág. 31/32)
COMENTÁRIO
É muito prazeroso reler trechos de um livro onde você já está
lá adiante...
Hoje estava lendo no trem pra ir e voltar ao trabalho um capítulo
do segundo livro chamado “A guerra” e fiquei pensando muito na existência.
A guerra referida é a do Paraguai, contra Solano Lopes, nos
anos sessenta do século XIX. Foi uma carnificina horripilante.
Neste momento, em que estou relendo e anotando excertos do
primeiro volume que li já faz semanas, vejo o quanto as estórias das famílias
Terra e Cambará, bem como a família Amaral e aquelas de descendência alemã e
outras da região sul, são uma reprodução da nossa história do povo brasileiro,
tão diverso em sua distribuição geográfica, e tão próximo em suas tragédias e
destinos seculares.
Como gosto de ler calmamente, indo e voltando, e com reflexões
acerca da leitura! É uma pena que tenha tão pouco tempo para esse prazer na
vida.
Bibliografia:
VERÍSSIMO, Érico. O
Tempo e o Vento – O Continente I. Editora Globo. 31ª edição. 1995
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