Meu filho cresceu. Pesa mais que eu... e eu que fazia aviãozinho com ele nos shoppings... |
O Tempo e a
Vida
Refeição Cultural
A rapidez das coisas do mundo atual marca o compasso da
nossa vida. Nós não vivemos simplesmente, não estamos (not let it be). Temos que estar fazendo algo ou indo pra algum
lugar, senão... estamos fora! Ah, temos também que possuir bens ou ter metas
de...
Por outro lado, como somos pescados pelo sistema hegemônico
do consumismo e modismo através dos meios de comunicação com as mensagens
ideológicas do status quo, esta
velocidade com que têm que ser as coisas traz o risco de que somente passemos
pela vida... ao invés de vivermos a vida sentindo cada instante e cada evento
que ela nos proporciona.
MEU FILHO CRESCEU
Passei a última década numa rotina de trabalho que me fez
ser mais ausente em casa do que deveria. Meu filho passou de seus cinco ou seis
anos a um adolescente.
Aquele sonho que acalentei dele crescer logo pra nós dois termos
altos papos e fazermos esporte juntos, leituras e coisas do gênero (é incrível
como os pais pensam isso!) foi pro beleléu. Sabemos que, na verdade, eles,
filhos, têm a vida deles e nós, a nossa. É o curso natural da vida.
A relação entre pai e filho foi a mais comum possível no
mundo moderno. Eu fui cuidando da minha vida de trabalho e ele foi levando a
dele de criança virando adolescente.
Neste fim de semana corremos juntos uma prova no clube onde
somos associados, a AABB SP. Foi um dia especial e muito legal. Vivemos um dia
de pai e filho parecido com aquele desejo que acalentei no ontem.
A primeira coisa que fiquei pensando de nossa conversa
matutina, indo de madrugadinha no trem para o outro lado da cidade, foi quando
ele me disse seu peso. Caramba! O moleque pesa mais que eu, calça tênis maior
que o meu, é mais alto que eu.
Às vezes, a gente ainda tem a sensação de que
nosso filho é aquele que a gente fazia aviãozinho com ele no shopping,
carregando ele nos braços.
- Que velocidade no tempo psicológico de nossa vida!
O CORPO HOJE É O REFLEXO DE NOSSA ATENÇÃO A ELE NO ONTEM
Outra coisa que é notável é a passagem do tempo sobre nós
mesmos. Eu pratiquei esporte desde muito jovem. Também tive que levar meu corpo
a adaptações diversas durante a vida de proletário. Trabalhos braçais,
trabalhos intelectuais, diurnos, noturnos... desde uns doze anos de idade.
Sempre acreditei piamente que nossa condição de saúde no
hoje é reflexo do nosso ontem, num acúmulo de coisas boas e porcarias feitas e
ingeridas desde que nascemos, incluindo os acidentes de percurso. É um pouco
aquela frase que jovem adora: viva hoje o que sobrou de ontem.
Sempre dei atenção ao meu corpo para ter boa resistência
física. Isso dá trabalho porque exige disciplina e tenacidade com exercícios
para o corpo e horas de dedicação semanal como rotina de vida.
Aquela rotina de trabalho que descrevi acima nos últimos
anos, que me fez quase não ver o peso do meu filho sair de uns trinta quilos
para pesar mais que eu, fez também com que eu não desse mais a atenção correta
para manutenção de boa condição física ao corpo que me carrega.
Ou seja, deixei o tempo atuar sobre mim na fase que mais
necessitava manter o corpo em condições para a segunda metade da vida (após os
trinta e poucos anos). Recuperar tônus muscular após quarenta anos é muito difícil
porque o metabolismo de nossos corpos muda muito. A natureza exerce suas
prioridades nos corpos animais de forma indelével, a menos que haja estímulos
criando resistências e aptidões novas.
- E não me recomendem porcarias sintéticas, pois sou meio "naturista"! (não naturalista com aquelas regras todas contra isso e aquilo)
SÃO SILVESTRE E CORRIDAS
Vou correr a São Silvestre no último dia do ano. Neste momento,
não estou preparado. Tenho que adaptar meu corpo pra isso. É possível, mas
tenho que definir prioridades. Sou proletário e minha função atual tem agenda
pesada até a véspera do natal. Que fazer?
Tenho agendas de viagens que me tiram semanas inteiras de
treinamento e descanso. Estou aqui pensando em como conciliar o ser humano que
sou, com meus sonhos e subjetivismos, com a minha condição de ser social
pescado pelo sistema da velocidade e compromisso total com nossos trabalhos contemporâneos,
para estarmos o tempo todo on...
E olha que ainda sonho em preparar meu corpo para correr uma
maratona de 42 km. E já estou com 44 anos... E hoje estou com dificuldades de correr uns dez quilômetros e vou correr
uma prova de quinze daqui a seis semanas.
Termino minha reflexão cultural sobre o Tempo em nossas
vidas.
Me dei o direito nesta manhã de segunda de fazer isso antes de trabalhar
na parte da tarde.
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