1º Congresso da Contraf-CUT em 2006. |
Eu busco há muito tempo compreender o que sou e porque a vida nos levou para onde estamos hoje. Desde muito cedo na minha vida de subproletário e depois de proletário, tive clareza sobre minha natureza. Eu nunca tive perfil para perseguir aquele objetivo que inculcam em nós desde pequenos de sermos capitalistas ou servidores desse sistema. Nunca quis acumular dinheiro e poder e propriedades e porcarias como essas. Olhando para trás, vejo que meus valores nunca foram esses.
Quando venho a casa de meus pais, onde estou neste minuto, e vejo toda essa simplicidade e falta de recursos, quando vejo que meus pais não conseguem atendimento médico digno, quando meu pai enfrenta as injustiças normais (infelizmente) na sociedade dos que têm poder e posses contra os simples e humildes, quando piso aqui e lembro de toda a raiz de minha vida, percebo quem sou e não quero mudar de lado no sistema. Quero mudar essa porcaria de sistema capitalista. (podem não entender, mas nunca me senti à vontade em usar plano de saúde, pois minha família sofre sem atendimento na fila do SUS)
Então, percebi logo que tenho uma natureza de servidor público, quero trabalhar direito, servir à coisa pública e gostaria que ela funcionasse. As coisas públicas são FUNDAMENTAIS para a imensidão de gente no país como meus pais, tios, avós etc. Aliás, é de minha natureza usar uniforme (me convenci mais ainda depois de um debate que fiz com um professor em 1997). Usei as camisetas do BB por dez anos nas agências... hoje, sempre busco apresentar a marca daquilo que represento, a CUT.
É por isso que tentei ser um bom funcionário do BB por dez anos atendendo pessoas da melhor forma possível. É por isso que sempre briguei contra "carteiradas". É por isso que brigava contra as injustiças nos locais de trabalho por onde passei e nas escolas por onde estudei. Gostaria que as coisas funcionassem bem para todas as pessoas, não só para privilegiados. Sei que o que estou falando é difícil e, vez por outra, sou um dos privilegiados perto dos milhões de miseráveis por aí.
É por querer mudar o sistema e é por ter uma natureza de servidor público, que acredito que fiz com tanto amor e empenho esses 11 anos em que sou bancário do BB dirigente sindical eleito pelos trabalhadores.
Eu tive a oportunidade de ajudar a organizar os bancários, mobilizá-los, construir propostas e buscar soluções através de negociações e greves, e acredito que a construção da campanha unificada a partir de 2003, desejo bem mais antigo dos bancários, passou a ser uma realidade após a mudança de governo na época (saiu PSDB e entrou o PT). Os bancários acertaram e avançaram bastante em votar na nossa estratégia. Estive no debate com os trabalhadores nesses 11 anos. E é claro que diariamente surgiram novos problemas a enfrentar, porque estamos falando de luta de classes!
Neste aniversário de 8 anos de criação da Contraf-CUT, eu tanto me orgulho quanto agradeço a oportunidade que tive de participar do projeto. No primeiro congresso fui eleito para atuar na imprensa da confederação e nos dois congressos seguintes, me designaram para tocar o projeto de formação da Confederação, dando sequência a um trabalho que já vinha sendo feito pela companheira Deise Recoaro. Nunca começamos algo do zero, sempre damos sequência a um trabalho já realizado por dirigentes trabalhadores antes de nós.
Eu agradeço a oportunidade que tive nas gestões da Contraf-CUT. Só na área da formação, nós todos da direção, juntamente com a equipe de profissionais maravilhosos do Dieese, já tivemos a oportunidade de compartilhar conhecimentos e informações com cerca de 250 dirigentes e assessores de nossas entidades sindicais. Nos desafios que lideramos, sempre tem um quinhãozinho nosso, mas os resultados sempre são fruto de trabalho em equipe e coletivo.
Pensando meus mandatos na aniversariante Contraf-CUT, também não tem como não refletir sobre o quanto foi rica a minha experiência nos mandatos sindicais do maior sindicato de bancários da América Latina. Nestes 11 anos de mandatos dos trabalhadores no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, tive o privilégio de dialogar com os bancários do BB nas 11 assembleias decisivas nas 11 campanhas com muita luta e muita greve que fizemos entre 2003 e 2013.
Aprendemos muito, muito mesmo, até este momento com a experiência de participar do movimento sindical e social.
Somos humanos cheios de defeitos, mas quando as pessoas mais próximas observam que mudamos pra melhor após a vivência no movimento, só temos que agradecer pela oportunidade. Participar das lutas coletivas vale a pena e estar aberto a mudar todos os dias vale a pena. Temos que ter a humildade de murchar as orelhas quando erramos, e tentar melhorar até o último dia de nossa vida, pra sermos cidadãos melhores para nosso entorno e para uma sociedade mais justa, igualitária e melhor para todos viverem.
Acabei me alongando, mas é que estou em férias mesmo. Vamos lutar sempre pra fortalecer as entidades sindicais e de luta para que a classe trabalhadora tenha sempre a esperança de um amanhã em um mundo melhor.
Vida longa à nossa Contraf-CUT e às nossas entidades de classe!
Somos fortes, somos CUT!
Contraf-CUT completa 8 anos de muitas lutas e conquistas neste domingo
Fundada na histórica assembleia realizada em 26 de janeiro de 2006, em Curitiba, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) completa oito anos de muitas lutas e conquistas neste domingo. Com ousadia, unidade e mobilização, ela ampliou o espaço de atuação da extinta Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT), construída em 1992, assumindo a representação dos trabalhadores do ramo financeiro. Os avanços são inegáveis, mas ainda há muito por fazer.
O primeiro presidente da Contraf-CUT foi o funcionário do Itaú, Luiz Cláudio Marcolino, que também presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo e hoje é deputado estadual do PT de São Paulo. O 1º Congresso da Contraf-CUT aconteceu no dia 25 de abril de 2006, em Nazaré Paulista (SP). Vagner Freitas, empregado do Bradesco e hoje presidente nacional da CUT, foi eleito presidente.
O 2º Congresso da Contraf-CUT aconteceu nos dias 14 e 15 de abril de 2009, em São Paulo, que elegeu o bancário do Itaú e ex-secretário-geral Carlos Cordeiro para presidente. E o 3º Congresso da Contraf-CUT ocorreu nos dias 30 e 31 de março e 1º de abril de 2012, em Guarulhos (SP), onde Carlos Cordeiro foi reeleito presidente.
A Contraf-CUT coordena o Comando Nacional dos Bancários e representa mais de 90% de todos os funcionários de bancos públicos e privados do Brasil.
A entidade é também referência internacional para os trabalhadores de todo mundo. É filiada à UNI Global Union, o sindicato mundial que representa cerca de 20 milhões de trabalhadores dos setores de serviços. Carlos Cordeiro é também o atual presidente da UNI Américas Finanças, que organiza os bancários do continente americano.
Uma longa tradição de luta
Olhando para a história, a Contraf-CUT é a herdeira institucional de uma longa tradição de luta dos bancários brasileiros, que remonta ao início do século 20, quando os trabalhadores das casas bancárias fundaram suas primeiras associações.
Todas as conquistas da categoria foram obtidas com organização e unidade, em um século de lutas - desde a jornada de 6 horas em 1933 até os aumentos reais de salário, a valorização do piso e o avanço no combate ao assédio moral e à igualdade de oportunidades dos últimos anos.
Essa trajetória foi brutalmente interrompida pelo golpe militar de 1964 e retomada em meados da década de 1970, quando bancários, metalúrgicos, químicos, professores e outras categorias profissionais criaram o que ficou conhecido como o "novo sindicalismo", convergindo para a criação da CUT em 1983.
Com a ascensão das lutas sindicais na década de 1980, os bancários sentiram a necessidade de reorganizar suas entidades nacionais, a fim de articular a organização e as mobilizações em todo o país. Assim nasceu o Departamento Nacional dos Bancários da CUT (DNB-CUT), em 1985, sucedido de 1992 a 2006 pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT).
Muitas conquistas
Ao longo desses oito anos de muitas batalhas, a Contraf-CUT fortaleceu a unidade nacional dos bancários e esteve à frente de todas as campanhas salariais, coordenando o Comando Nacional e consolidando a convenção coletiva nacional de trabalho, que completou 21 anos em 2013, válida para funcionários de bancos públicos e privados de todo país.
Com a força da unidade nacional e da mobilização, os bancários concretizaram sonhos e ampliaram conquistas. Em 2013, os trabalhadores arrancaram aumento real pelo décimo ano consecutivo, elevação dos pisos, melhoria na participação dos lucros, além de importantes avanços sociais, como o vale-cultura.
Além disso, os bancários estiveram presentes em 2013 na árdua luta que garantiu o adiamento da votação do Projeto de Lei (PL) 4330, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que libera a terceirização para todas as áreas das empresas. Se ele fosse aprovado, os bancos poderiam substituir caixas e gerentes por terceirizados, o que levaria à extinção da categoria bancária.
Desafios
"Apesar de todas essas vitórias, os desafios ainda são numerosos, como o emprego decente, condições dignas de saúde, segurança e trabalho, igualdade de oportunidades, a regulamentação do sistema financeiro, uma inclusão bancária sem precarização e sem exclusões, e a proteção à vida dos trabalhadores e clientes, dentre outras demandas", destaca Cordeiro.
"Também é fundamental atuar cada vez mais na discussão dos temas que mexem com os trabalhadores, como a reforma política e a reforma tributária. Nós, do movimento sindical, precisamos ser a referência dos trabalhadores e disputar os rumos da sociedade, buscando construir um país mais justo e solidário", aponta.
O calendário de 2014 traz eleições em grandes sindicatos, na Cassi, na Previ, na Fenae, na Funcef, além das eleições para presidente, governadores, senadores e deputados. "Acredito que continuaremos trabalhando muito e venceremos todos esses processos eleitorais, em especial a presidência da República, pois sabemos que precisamos continuar avançando, com mais e melhores empregos, com mais inclusão social e precisamos urgente começar a mexer na estrutura de distribuição de renda do Brasil", salienta o dirigente sindical.
Para ele, mesmo com os avanços conquistados, as condições de trabalho são cada vez mais precárias nos bancos. "Sabemos que os bancários estão sofrendo muito porque os bancos privados e também os públicos, seus acionistas, presidentes e executivos, se preocupam apenas com a gestão do lucro, enxergam os clientes como máquinas de fazer dinheiro e os trabalhadores como números, custos que se contrapõem a lucro".
"Enquanto houver demissões, corte de postos de trabalho, rotatividade, baixos salários, desigualdades, assédio moral, adoecimentos, insegurança, mortes, estaremos desafiados a acabar com essas violências. O maior desafio é sermos esperança para os trabalhadores e convencê-los que lutando juntos somos fortes", conclui Cordeiro.
Fonte: Contraf-CUT
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