domingo, 29 de janeiro de 2017
Leitura: Morte e vida severina e outros poemas (1953/55) - João Cabral de Melo Neto
Refeição Cultural
"- Compadre José, compadre,
que na relva estais deitado:
conversais e não sabeis
que vosso filho é chegado?
Estais aí conversando
em vossa prosa entretida:
não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
Saltou para dentro da vida
ao dar seu primeiro grito;
e estais aí conversando;
pois sabei que ele é nascido..."
(Morte e vida severina)
Pois é amig@s leitores, mal sabia a mulher que chama ao compadre que ele estava conversando com o Severino, mais um severino retirante recém-chegado do sertão, que se questionava sobre viver ou não viver mais a vida severina, quando a própria vida responde a tão difícil questão...
Neste domingo, reli este auto de João Cabral de Melo Neto. Também tive o prazer de conhecer mais três obras dele da mesma década: O Rio (1953), Paisagens com figuras (1954/55) e Uma faca só lâmina (1955).
Para ver comentário de leitura que fiz em 2014, clique AQUI.
O livro foi presente do jovem sindicalista Alex, de Arapoti - PR; estávamos em curso de formação da Contraf-CUT, quando eu era o responsável por aquela missão revolucionária de educar e formar trabalhadores para as lutas sindicais e sociais.
Foram tempos que me marcaram profundamente, pela convivência com os amigos e amigas do Dieese, com a equipe maravilhosa de dirigentes e funcionários da Confederação, à época liderada pelo grande amigo e companheiro Carlos Cordeiro, e marcante pelo contato formativo com centenas de dirigentes sindicais e assessores de entidades de todo o país.
Amig@s, a leitura desses poemas de João Cabral são estimulantes para aqueles e aquelas que não se acostumaram com a injustiça, a iniquidade e com a miséria social. Esses poemas dão sequência à lógica de La Boétie e seu Discurso da Servidão Voluntária (ler comentário AQUI).
Nós não temos que aceitar como hábito a desgraça e a injustiça social de um mundo para poucos em detrimento de milhares, milhões e bilhões de pessoas em situação de miséria. Isso não é correto. E o ser humano é livre para se rebelar no instante que quiser.
Para seguir vivendo, só vale a pena se for para não aceitar as coisas erradas como estamos vendo. Oito pessoas terem a metade da riqueza do planeta; mais algumas terem a metade da riqueza do Brasil. Isso é iníquo. Isso não é "natural", normal. Isso é político! Isso não é "técnico".
Enfim, isso é uma questão IDEOLÓGICA! De classe!
"Na estrada da ribeira
até o mar ancho vou.
Lado a lado com gente,
no meu andar sem rumor.
Não é estrada curta,
mas é a estrada melhor,
porque na companhia
de gente é que sempre vou.
Sou viajante calado,
para ouvir histórias bom,
a quem podeis falar
sem que eu tente me interpor;
junto de quem podeis
pensar alto, falar só,
Sempre em qualquer viagem
o rio é o companheiro melhor..."
(O Rio)
Vamos lado a lado, o povo deve se rebelar contra os poucos que estão aí, tiranos instalados na estrutura estatal e na máquina totalitária de comunicação empresarial.
Abraços fraternos e de esperança com atitudes diárias para mudar o estado das coisas iníquas de nosso mundo.
William
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