terça-feira, 18 de junho de 2019

Cassi e Cassems têm muitos êxitos a compartilhar



Boa participação dos bancários do Mato Grosso do Sul
nos debates de saúde dos trabalhadores,
Atenção Primária e prevenção. (2016)
 

Opinião

"Com o crescimento exponencial do custo assistencial, temos apenas um caminho a seguir, que é intensificar essa verticalização do atendimento, ou seja, a criação das nossas estruturas nos polos regionais, ter o hospital de Campo Grande e criar os nossos centros de diagnóstico, porque grande parte de nossas despesas assistenciais estão nesses dois setores: hospitais e diagnósticos" (Ricardo Ayache, Presidente da Cassems, no livro comemorativo dos 15 anos da entidade, lançado em 2016)


A Cassi, Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, é a maior e mais antiga entidade de saúde no formato de autogestão do país. Ela foi criada em 1944 pelos trabalhadores do também mais antigo e maior banco público do país. Ao longo de mais de sete décadas de existência, passou por diversas crises comuns ao setor de saúde e só resistiu a elas porque pertence aos bancários, que sempre se envolveram com participação democrática e tolerante e venceram os desafios colocados. 

A hora é de arregaçar as mangas, construir unidade e pertencimento e reencontrar o caminho do equilíbrio e da sustentabilidade, sem perder sua essência inclusiva e solidária e seu modelo assistencial para seguir cuidando de centenas de milhares de participantes. Pela experiência que tive ao andar pelo país por 4 anos ouvindo associados e suas lideranças, acredito que é possível encontrar uma saída que traga mais recursos para a Caixa para avançar no modelo de Atenção Primária, ESF e mais serviços próprios, evitando gastos desnecessários na rede credenciada do mercado.

A Cassems, Caixa de Assistência dos Servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, foi criada em 2001 e hoje é uma das mais importantes e exitosas entidades de saúde no formato de autogestão, tanto do povo sul-mato-grossense como de todo o país. A Cassems cuida de quase 200 mil vidas e suas experiências no setor podem e devem ser analisadas pelas demais associações e autogestões mantidas no formato solidário e cooperativo pelos próprios trabalhadores. A Cassi foi o modelo de referência para a criação da Cassems, dentre as opções que foram a debate entre os servidores e o Estado. A maioria não optou em contratar planos no mercado. Acertaram!

Terminei a leitura do livro comemorativo do aniversário de quinze anos da entidade - Cassems 15 anos - Autogestão em saúde: um sonho possível -, livro escrito por Eronildo Barbosa da Silva. Eu tive o privilégio de visitar e conhecer a Cassems em 3 oportunidades, inclusive na inauguração do Hospital Cassems Campo Grande (em 2016), um feito fantástico e acertado da gestão dos servidores sul-mato-grossenses. Durante o período em que estive nos debates de gestão da Cassi, expressei minha opinião de que vale a pena avaliar as experiências de verticalização da autogestão dos servidores do Mato Grosso do Sul.

Li nestes dias dois textos interessantes a respeito de soluções para a sustentabilidade do setor de saúde suplementar. Um deles, do senhor presidente do Conselho Deliberativo da Cassi, apresentando preocupações pertinentes a respeito da busca de soluções para a Caixa de Assistência, e outro sobre a Amil, do grupo UnitedHealth, falando a respeito da queda de braço da operadora com o setor hospitalar por causa dos custos impagáveis do modelo fee for service (conta aberta). Como os textos abordam temas pertinentes, dedicarei um texto específico para deixar comentários e contribuições, apenas a título de sugestões para reflexões.

Para o texto não ficar longo, apresento a seguir algumas experiências exitosas que a Cassi e a Cassems e seus associados já vivenciaram em suas missões de cuidar da saúde dos trabalhadores e de seus familiares, experiências que podem alavancar todo o setor de autogestão do país, que cuida de quase 5 milhões de vidas, de forma suplementar ao Sistema Único de Saúde. 

A Cassi faz atenção primária e medicina de família em estrutura própria verticalizada para mais de 180 mil pessoas em todo o território nacional desde a reforma estatutária de 1996 (estrutura com ótimo custo benefício). A despesa assistencial desse grupo cuidado pela ESF é bem menor que a do grupo de participantes não cuidados ainda pela ESF/CliniCassi. A Cassems verticalizou sua estrutura de saúde para atender no interior do Estado e enfrentar o mercado privado. Tem 10 hospitais e estruturas auxiliares. Agora implantou Atenção Primária e médicos de família. Tem unidades móveis de atendimento para as cidades do interior. A Cassi poderia avaliar essas experiências estruturais.

Solidariedade é essencial em saúde e previdência

Não existe sistema de saúde e de previdência que funcione sem a solidariedade na sua forma de custeio, de forma mutualista e intergeracional. As primeiras faixas contributivas devem sustentar as últimas faixas contributivas nos sistemas de arrecadação. Caso contrário, os mais idosos serão expulsos por impossibilidade de pagamento. E os novos também não conseguiriam pagar caso fosse cobrado deles por uso como uma doença grave ou acidente. Todos cuidam de todos, em algum momento o participante vai precisar da solidariedade dos demais.

A Cassi nasceu sendo solidária e se manteve solidária ao longo de sua história. Os desequilíbrios entre receitas e despesas no sistema nunca tiveram na solidariedade um dos motivos. 90% das despesas assistenciais da Cassi são geradas na compra de serviços de saúde no mercado privado. A questão central no uso dos recursos do sistema deve ser comprar no mercado só o que for necessário, e da melhor forma possível, como a Amil vem tentando fazer com os seus prestadores de serviços hospitalares: estabelecendo risco compartilhado nos procedimentos médicos na hora da remuneração ou por pacotes. Essa é uma discussão da área de relação entre a autogestão e os prestadores no mercado.

Já na questão do modelo assistencial, no qual a Cassi é vanguarda desde os anos noventa, o que se tem claro é que a autogestão dos funcionários do Banco do Brasil precisa ampliar a escala de cobertura do modelo. O que vimos dentro da gestão é que mesmo a Cassi tendo um dos maiores segmentos de participantes com mais de 60 anos no setor de saúde suplementar, mostramos em números em boletins e matérias que a despesa assistencial desses participantes cresce menos na Cassi que a despesa das primeiras faixas etárias porque o público com mais de 60 anos é prioritário no cuidado pela ESF (Estratégia Saúde da Família), Atenção Primária (APS) e programas de saúde para crônicos.

Enfim, vamos estimular a discussão fraterna e respeitosa de ideias na comunidade Banco do Brasil, fortalecer as instituições de representação da ativa e dos aposentados, inclusive os conselhos de usuários e os atuais representantes e lideranças dos associados e trabalhadores e encontrar soluções para a Cassi. É o melhor para todos, inclusive para o patrocinador Banco do Brasil.

Abraços a tod@s,

William Mendes


Post Scriptum: leia aqui o texto anterior sobre a Cassi.

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