domingo, 16 de fevereiro de 2020

A humanidade tá foda, mas sós não somos nada



Post Scriptum: Flores, por que não incrementar o post com
elas? A vida fica mais bela com flores. Não estão sozinhas.

Por algum motivo, ao ler sobre a história dos povos maias, os quichés, no livro Popol Vuh, fiquei divagando alguns instantes sobre a vida humana. Na história desses povos, os deuses criaram os homens para adorarem e lembrarem os deuses.

Os deuses criaram as terras e animais e plantas para adorarem a eles e se frustraram porque não foram adorados. Depois fizeram homens de barro para serem adorados e também não deu certo. Depois fizeram homens de madeira. Falharam de novo. Por fim, fizeram homens de milho. 

Depois vieram os espanhóis e acabaram com tudo da mesma forma impiedosa que os deuses fizeram através dos dilúvios e catástrofes.

Adorar deuses. Sempre o motivo da vida deve ser adorar deuses, adorar homens, adorar coisas, adorar a si mesmos, adorar adorar algo.

Pensei sobre a linguagem humana e as línguas, pensei sobre as histórias das civilizações. Pensei sobre nossas histórias.

Aí olhei o material de anotações que tinha na mão, uma agenda antiga com fotos e com textos incrementando o produto vendido a mim por uma organização de esquerda. Li nela um poema do Ferreira Gullar que me fez divagar mais ainda. O eu lírico falava de solidão e de conhecer muitas coisas, menos a si mesmo.

Fiquei rabiscando nas páginas da agenda palavras que expressavam o que me vinha nas ideias. Algo sobre não sermos nada sozinhos, não sermos nada sozinhos, não sermos nada sozinhos.

Pensei no jovem que deixou a família no final dos anos oitenta e saiu caminhando sozinho por lugares inóspitos dos Estados Unidos como o deserto do Arizona e depois foi parar no Alasca, onde faleceu sozinho após escrever que "happiness only real when shared".

Me lembrei de passagens da vida, aventuras que vivi. Coisas legais que fiz. Momentos que marcaram. Em nenhuma das passagens eu estava sozinho.

Nos momentos em que estava sozinho, em várias fases da vida, pensei merda, pensei escapes, pensei a morte. Não somos nada sozinhos.

Nos rabiscos que fiquei fazendo nas páginas da agenda antiga, comecei vendo a vida dos povos maias, depois lembrei da minha vida e terminei pensando no contexto atual de solidão em relação ao mal que tomou conta do meu mundo, do mundo de todos nós. 

Os chacais, as hienas e coiotes tomaram conta da savana-mundo e nós estamos como as reses apartadas para o abate. Estamos sozinhos. Os predadores estão em bando, brigam entre si pela caça; o fato é que estão em bandos e nós, sozinhos ou em cercados, discutindo o sexo dos anjos.

E os carniceiros e predadores ainda nos apartam, nos amedrontam, nos devoram em nome de uma entidade inventada pelos animais humanos, um deus. Tudo em nome de deus. E do filho de deus. E da família (deles).

Que coisa chocante! Contava a lenda que os animais humanos eram seres racionais. A minoria da espécie humana se apoderou da maioria da sua espécie. Não somos nada sozinhos.

Somos todos mortais. Pelo menos isso! Inclusive a minoria opressora.


Diário daquele que só, vê que só não é nada, mas sendo mortal, lembra que os opressores também são mortais.

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