quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Se existir incomoda, já fazemos resistência!



Essa flor existiu enquanto alguém cuidou dela. Estaria
por aí se recebesse atenção. Tudo depende de tudo.

Faz tempo que penso se devo sumir ou não dos espaços em que vivi por décadas. Hoje mesmo, fiquei com o coração apertado decidindo se iria ou não a uma reunião mensal do conselho de usuários da entidade de saúde à qual pertenço como associado. É um fórum de voluntariado que ajudei muito a fortalecer por anos de atuação. Decidi não ir, ainda não. Autocensura?

Assim como algumas pessoas preocupadas com o país, com o povo, com as instituições que deveriam regrar a convivência social, pessoas preocupadas com algo além de si mesmas, eu tenho sofrido e estado amargurado ao vivenciar dia a dia a escalada exitosa do novo regime autoritário que se instalou no país com o apoio de muita gente e de muitas instituições que deveriam se envergonhar disso. Não se envergonham. Se eram apenas amorais, agora são imorais.

Um dos objetivos dos regimes autoritários e totalitários, dê o nome que quiser a eles, é ser total, é não ter dissonância, não ter oposição a eles, não haver divergência alguma ao que vier de cima ou do centro, como uma onda, que começa em um ponto e se expande. O novo regime está avançando com rapidez incrível. Tem o silêncio dos imorais e amorais. Tem uma baixa resistência daqueles que, em tese, se oporiam. E vem conseguindo impor uma das ferramentas mais eficazes de regimes assim: a autocensura.

Se nós que nos opomos às ideias dos que estão nos poderes institucionais, nas estruturas formais, nas nascentes dos mandos hegemônicos, se nós nos calarmos, nos autocensurarmos, deixarmos de lado o que fazem, em nome de qualquer coisa, por cansaço, por medo, por egoísmo, por qualquer motivo, se a autocensura vencer, vencem eles. Esse é o perigo. 

Até quando se calar por pensar diferente é contribuir para a "paz" ou para a "luta"? Até quando transformar em inimigo quem pensa diferente é contribuir para a "luta" ou para a "paz"?

Nada é simples. O novo regime testa os limites legais e morais todos os dias desde que a oportunidade apareceu em nível nacional, com o PSDB de Aécio e FHC questionando o resultado das eleições em 2014. 

Poderia pontuar os testes dos limites mais pra trás ou mais pra frente. As fake news da atualidade, por exemplo, não foram criadas por esses lixos do novo regime; foram criadas pelos veículos da velha mídia (PIG), Globo e Veja à frente, desde que o povo elegeu o Partido dos Trabalhadores à Presidência da República.

Os limites foram testados em 16 de abril de 2016, quando um torturador da ditadura civil-militar foi citado e enaltecido em uma sessão do Congresso Nacional (impeachment sem crime de Dilma Rousseff) por um lixo humano que depois chegaria ao maior cargo político do país, por fraude, mas chegaria e com apoio dos amorais e imorais. Os "isentões".

Nada é simples. Aqueles que têm formação política como a minha, que aprenderam política dentro do movimento sindical cutista e muitos conciliaram a formação sindical com a formação partidária, em partidos como o PT e o PCdoB, têm muita dificuldade em entender que o momento não permite mais utilizar as mesmas estratégias e táticas que nos serviram por décadas, mobilizando, negociando e construindo acordos com a casa grande e o patronato, sem que eles perdessem algo. Acabaram as conciliações. Eles querem nos eliminar para sempre. E nós não entendemos isso ainda (ou fazemos de conta).

Nada é simples. Mas se nada for feito, não haverá mais dissonância. Não haverá divergência. Não haverá oposição alguma. Haverá silêncio. Podemos dizer até que haverá paz, a paz dos cemitérios. As coisas serão monocromáticas, talvez tudo cinza. A paz será imposta pelo autoritarismo e totalitarismo dos poucos que dominaram tudo.

Temos que fazer alguma coisa. Temos que usar a inteligência para pensarmos saídas. Mas não achamos ainda. Temos que bater na sala da inteligência - toc-toc - e pedir auxílio. Temos que existir enquanto não achamos saídas. 

A questão é como existir sem se autocensurar? Nossa existência incomoda, mas só se incomodarmos. Me lembro que meu lema durante 16 anos de mandatos eletivos era: Incomodo, logo existo! Fiz um esforço grande para fazer isso, principalmente com o patronato. Acho que incomodei bastante (rsrs).

Não sei como, ainda, mas temos que existir, resistir, incomodar.

Todo apoio á greve dos petroleiros! Isso é uma demonstração de amor à pátria e ao povo brasileiro! Sigam incomodando, petroleiros!


Diário de quem incomodou por muito tempo, e que entende que contribuiu para o bem coletivo durante o tempo em que organizou, negociou e acordou quando era possível acordar.

Nenhum comentário: