sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

280220 - Diário e reflexões



"(23/fev/45) (...) Um pouco desse ar de renovação que percorre Grécia, Iugoslávia, Bélgica, França há de chegar até nós e perturbar a luta elementar entre os velhos caciques brasileiros, brigados entre si mas fiéis à mesma ideologia conservadora, hostil a todo progresso social, e implacável diante das reivindicações dos proletários e da classe média." (Carlos Drummond de Andrade, em O observador no escritório, 1985)

Há 75 anos Drummond descrevia de forma certeira a elite brasileira. Mino Carta descreve o Brasil e o povo brasileiro como coisas da Idade Média, no sentido pejorativo. Ele nos diz não haver povo similar no mundo em quesitos como ignorância e passividade frente aos abusos da elite e cita sempre a manutenção das relações entre a Casa Grande e a Senzala. Escravidão física e mental; eu diria até servidão voluntária.

Se eu tivesse morrido no início desta década, lá pelos anos de 2011 ou 2012, talvez tivesse morrido feliz, afirmação meio irracional porque morrer é algo triste e não feliz, mas afirmação possível porque o cenário brasileiro naquela época era de um país promissor, de um povo feliz, de ascensão das classes sociais e avanços em pontos importantes da vida em sociedade. Foi o melhor momento do Brasil para o povo brasileiro em geral.

Daí vieram as rupturas organizadas pela Casa Grande em parceria com o grande capital internacional sediado nos Estados Unidos da América. Lixos humanos nascidos no Brasil traíram nossa pátria a troco de trinta moedas e de uma suposta fama momentânea e o país mergulhou numa tragédia sem fim e destruição de toda a sua civilidade e cidadania. Dou razão a Mino Carta e vejo um mundo medieval ao nosso redor.

Se eu morrer hoje morrerei com uma infelicidade profunda. Não quero morrer assim. Mesmo sabendo que com a morte cessa tudo, seria muito triste morrer vendo a vitória dos traidores da pátria e do povo ao qual pertenço. Esses desgraçados transformaram tudo em cinzas, mentiras, desesperanças e desfaçatez. As ferramentas dos inimigos do povo foram as clássicas: a manipulação pelos meios comunicacionais, o ódio, a violência, o medo e a manipulação religiosa.

A gente sofre ao ver nossos jovens sem amor à vida, sem esperanças. A gente sofre ao ver tudo o que ajudamos a construir em décadas de lutas coletivas sendo desfeito a canetadas. A gente sofre vendo bandidos nos poderes e gozando da nossa cara e da nossa gente (gente ignorante, mas nossa gente). A gente sofre e o corpo da gente está sentindo o sofrimento. Temos que resistir. O corpo tem que aguentar firme.

Se depender de mim, não me deixarei morrer enquanto os inimigos estiverem por aqui destruindo o nosso mundo. Eu não me deixo morrer. É preciso se manter em pé. Se fortalecer em corpo e mente. Estar vivo. Até o momento de ver os inimigos morrerem. Esses desgraçados são mortais como a gente.

William

Nenhum comentário: