sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Leitura: O tigre branco (2008) - Aravind Adiga



Refeição Cultural

Opinião política e crítica literária

Terminei a leitura do 3º livro do ano, um livro de autor indiano. A leitura de O tigre branco, de Aravind Adiga, é a minha primeira obra de literatura indiana. O livro foi presente de um grande amigo, Linares, e iniciei a leitura na hora que ele chegou, li na frente dos livros que estavam na fila pra janeiro.

Para não receber nenhum spoiler, li o livro sem ler sequer as abas da edição, da editora Agir, na tradução de Maria Helena Rouanet, edição de 2015. Li o romance todo recebendo as surpresas conforme o autor as desenvolveu. Após o término, li a aba do livro e continha spoiler nela.

O livro não me surpreendeu em relação ao que imagino ser a Índia. Um país e um povo presos em uma "gaiola de galos", como nos explica Aravind Adiga. A alegoria do autor traz um pouco da alegoria que encontrei na crônica de Rubem Alves, "O nome". Inclusive o texto cita nossa prisão em gaiolas. Um texto profundo e que nos põe a pensar sobre o que somos, o que poderíamos ser e o que esperam que sejamos. Ler texto de Rubem Alves aqui.

A Índia é um país com regime de castas. O pai do personagem principal era condutor de riquixá, de família de doceiros, então a única opção para a vida de Balram Halwai era seguir nesta profissão. Mas Balram se torna motorista de uma família de endinheirados. Qual o preço que o jovem Balram está disposto a pagar para se libertar de sua gaiola, de seu destino traçado e se tornar um vencedor na vida?

Como nos diz Rubem Alves "Ninguém vai imaginar que uma galinha vai cantar como pintassilgo, nem que vai botar ovos azuis, nem que vai fazer ninhos parecidos com os dos beija-flores. Galinha é galinha, para todo o sempre. Está dito no nome.". Essa é a tradição naquele país de certa forma exótico para nós ocidentais e com mais de um bilhão de pessoas.

Um momento marca a vida do personagem ainda criança, em meio a tanta miséria em sua vila: numa visita escolar, alguém importante do governo faz perguntas aos alunos e somente Balram consegue respondê-las. A autoridade diz ser ele como um tigre branco, uma raridade que nasce a cada número de gerações de tigres.

E assim a história se desenvolve. Ao longo do romance, tomamos contato com aquilo que imaginamos ser a realidade cotidiana da classe trabalhadora indiana. É um livro com uma história dura! Fui vendo no romance a vida do povo trabalhador e miserável de nossas colônias aqui das Américas. E ainda tem a questão dos mitos e religiões, a cultura da tradição ideológica de enganar as massas com a religião, ópio do povo, como nos explica Karl Marx.

Uma questão abordada no romance é sobre a Índia ser um dos países com a maior quantidade de empresas no mundo que prestam serviços terceirizados para as grandes empresas capitalistas americanas e de outros gigantes do comércio mundial de mercadorias.

O golpe no Brasil em 2016, promovido pela casa-grande, foi para nos colocar abaixo do que é hoje a Índia para um bilhão de indianos. Descemos fundo na miséria social implementada pelos tucanos e pelos golpistas escolhidos para destruir um século de avanços sociais, Temer e o clã Bolsonaro. 

Talvez nunca tenhamos nos parecido tanto com a Índia do romance de Aravind Adiga. A corrupção é a base dessa sociedade brasileira pós-golpe. A canalhice tomou conta do cotidiano, as mentiras não são mais algo imperdoável, agora mentira e ignorância são estimuladas, o uso das religiões para roubar roubar e roubar o povo e abusar de suas fés e crenças se tornou ferramenta de política de Estado, Estado fascista e corrupto.

Fico vendo absurdos do dia a dia de meu entorno como cidadão brasileiro e me esforço para superar tanta merda sem adoecer, desmandos sem nada que os interrompa e a total destruição das coisas de nosso antigo mundo social até 2016. 

A autogestão em saúde na qual sou associado e dependo da assistência médica faz atos de gestão inacreditáveis e prejudiciais à existência do modelo assistencial de estratégia de saúde da família (ESF) da associação e nada acontece aos gestores. 

Uma chuva forte, comum nesta época do ano, já fez o condomínio onde resido há décadas ficar três dias sem luz, água, elevador. Incrível! Nada acontece com os capitalistas que enchem o bolso com o dinheiro da antiga empresa pública de distribuição de energia, privatizada pelos tucanos. É a Índia que vi no romance, um acerto político aqui, outro ali e tudo segue na normalidade: o caos e cada um por sua conta e risco. 

Imaginem se os governantes de Osasco e São Paulo fossem do PT como a imprensa golpista e canalha se comportaria na cobrança de soluções pelas enchentes e falta de luz por dias...

(que dizer do maior líder político do país, Lula, se juntar a essa gente desgraçada e destrutiva da casa-grande paulista para compor uma chapa eleitoral em 2022... Inacreditável! Lula não é imortal! Lula é homem e os homens são mortais. Francamente! Não dou conta de apoiar uma temeridade dessas)

Enfim, se ao menos tivéssemos milhões de Balrams para fazer o que Balram fez com seu patrão, isso não mudaria a miséria geral da população, mas talvez uma sombra assustasse um pouco esses desgraçados capitalistas e da casa-grande brasileira. Não seria a sombra do comunismo, mas seria a sombra da violência contra os exploradores e bilionários do capitalismo.

Gostaria de ver o povo se rebelando contra essa casa-grande desgraçada.

William

Post Scriptum: será que o Brasil terceirizado e uberizado com um quarto do povo bolsonarista já não é a Índia do romance?


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