quarta-feira, 27 de abril de 2022

Pra que tanta coisa?

É verdade que estou no tempo de olhar para trás e fazer balanços de vida. Durante meu tempo de engajamento político e vida profissional o foco era o presente e a construção de um futuro possível, pessoal e coletivo, público e privado. Agora, caí num vazio perigoso. Descrença no futuro. Descrença nos seres humanos.

Para meu próprio bem (e daqueles que ainda dependem de mim), preciso definir alguma coisa relativa ao futuro. Na verdade só existe o presente. Estou somente olhando para trás. Os contextos político, econômico, social, cultural e familiar fazem com que a gente "viva" de passado. 

Saudosismo exagerado, coisa de gente aculturada nessa mítica do eterno retorno a um passado bom inventado. Isso de mito no eterno retorno é coisa de povos e culturas que negam a história nua e crua (como ensina Mircea Eliade). Materialismo histórico é difícil de engolir. Ilusão é muito mais fácil.

Cada vez que vejo o consumismo, a aquisição de coisas, coisas, mais coisas, necessidades inventadas, coisas, excessos de coisas, mais gostaria de me desfazer de tudo que tenho, de todas as coisas. Inclusive porque elas não servem pra mais nada. 

Coisas do passado, coisas da história dos bancários, coisas do movimento sindical, coisas do movimento e da história das lutas do BB e da Cassi e da Previ, coisas, coisas. Coisas. Coisas de zilhões de matérias feitas na faculdade de Letras. Coisas que trazemos de lembranças de lugares visitados. Nossa vida é uma coisa porque somos coisas nesse mundo coisificado pelo capitalismo.

Se fosse pelo desejo do momento, gostaria de ter coragem de me desfazer de tudo que é desnecessário, ficar com duas ou três mudas de roupas, a gente nunca usa mais que isso. Se refletirmos, a maior parte das coisas é supérflua para a nossa existência diária. (é lógico que é fácil falar do meu lugar de alguém que tem tudo. Só quem não tem nada sabe a falta que faz as coisas básicas do cotidiano da vida) 

Ontem, separei mais um pouco de papéis pra jogar fora. Coisas. Minha história com essas coisas é nada hoje. Já foi. Foi coisa do momento. No instante do olhar para trás, tenho que ter a firmeza do desapego ao passado pra jogar tudo fora. Aquele caderno de formação, aquele caderno de teses, aquela história de uma conquista no BB... os adeptos do novo sistema dizem que tem tudo na internet... tem porra nenhuma! A internet não tem nada! Mas e daí? Quem se interessa pela nossa história?

Procurem um dos milhares de textos formativos do site Carta Maior nos quais estudamos e aprendemos ao longo de duas décadas de existência do portal da esquerda brasileira... já era! Não existe mais! (tem tudo na internet, William, blá blá blá...)

No olhar para frente, pouca coisa imaginei até aqui. Decidi fazer a caminhada de 80 Km em agosto, a romaria que não faço há três anos. Hoje, pela primeira vez na vida, não conseguiria fazer. Minha condição física, minha saúde, minha estrutura de caminhante foram pro saco. Tenho pouco menos de 4 meses para me preparar e descobrir se acho que ainda consigo andar 80 Km de uma só vez. Meu quadril está destruído por dentro. Já estou caminhando de uma a duas horas por dia... É algo pra se fazer nos próximos meses...

William

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