A comunicação social é um direito dos povos, assim como o direito à informação factual, livre das mentiras que dominam o mundo atual. É tarefa de um novo governo de esquerda atuar pela construção de sistemas nacionais de redes sociais e servidores brasileiros para suportar as comunicações do país, de forma soberana e sem dependência das plataformas das gigantes privadas do setor
Em 2004 tive a oportunidade de atuar como secretário de organização do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Em 2006, um novo desafio como dirigente da classe trabalhadora: fui secretário de comunicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, a Contraf-CUT.
Desde os anos 90, as tecnologias da informação avançavam rapidamente e já era evidente que os sistemas de comunicação mundial seriam monopolizados por alguns players, o início das big techs que vemos hoje. Como dirigente sindical, vi o início do domínio do Google, Facebook, Twitter, YouTube, assim como já conhecíamos o domínio da Microsoft e Apple na área em que atuavam. Aliás, o domínio cartelizado dos meios de produção, inclusive de cultura e comunicação, não é novidade para nós. Desde a ditadura civil-militar de 1964-85 o Brasil está sob a comunicação de poucas famílias.
Desde que entendi como a coisa funcionava, passei a ter uma preocupação grande com esse domínio privado dos meios de comunicação num mundo altamente conectado e dependente dessas tecnologias para tudo: onde estavam guardados nossos dados? Por onde passavam nossas informações de email, redes sociais etc? Onde estava o meio físico da internet?
No sindicato, tivemos em 2004 um debate interessante na direção: se mantínhamos servidores próprios para nossos sistemas e bancos de dados e para nosso site, com os investimentos e eficiência necessários para mantê-los atualizados, ou se desfazíamos dessa estrutura e passávamos a hospedar site e banco de dados em servidores do mercado. Fui defensor ferrenho da tese de manter internalizados os sistemas e servidores. Felizmente prevaleceu essa tese na direção.
Ao mesmo tempo, cheguei a conversar com lideranças da CUT Nacional a respeito de ideias que tinha sobre essa questão estratégica de comunicação, informações do mundo sindical e da luta de classes. Eu entendia ser importante que entidades de trabalhadores não dependessem das estruturas de nossos adversários. A CUT, por exemplo, poderia investir num portal com servidores próprios e com capacidade para abrigar os sites e bancos de dados de seus afiliados.
O fato concreto é que sabemos hoje que poucos bilionários dominaram o mundo e isso extrapolou a questão empresarial. Estamos falando de domínio político do mundo e manipulação do comportamento dos bilhões de cidadãos em todos os continentes do planeta. Por mais que as instituições políticas discutam e aprovem leis e normas para regular minimamente essas big techs, os avanços da última década em relação a algoritmos chegaram a níveis perigosos. Até as democracias já não funcionam mais adequadamente por causa da sua influência política.
Em 2022, se não houver novos golpes, teremos uma oportunidade de salvar o Brasil e o povo brasileiro, interrompendo a tragédia do regime bolsonarista. Chance de reconstruir o país, cuja destruição atingiu todas as áreas e dimensões da vida brasileira.
Entendo que uma das propostas a se avaliar em um eventual governo Lula ou do campo democrático e popular é a criação de uma estrutura pública nacional que abrigue e disponibilize ao povo brasileiro todos esses sistemas fornecidos hoje pelas big techs, empresas que nos utilizam como commodities para faturarem bilhões de dólares em marketing baseado em algoritmos que, além de usar nossos dados para fazer publicidade de empresas, alteram nosso comportamento para nos influenciar a adquirir os produtos dessas empresas.
A criação de estruturas públicas de comunicação e redes sociais é uma forma de democratizar o direito ao acesso às diversas formas de redes sociais que existem, da mesma forma que bancos públicos são importantes para democratizar o acesso à bancarização.
Essas estruturas públicas de comunicação social devem vir acompanhadas de debates públicos de regulamentação de proteção de dados e de não utilização dos usuários como produtos, bem como com regras claras contra censura de governos e políticos. É necessário haver alguma regulamentação sobre o uso de algoritmos. O acesso a redes de comunicação públicas deve ser um direito do povo fornecido pelo Estado nacional.
William Mendes
Ex-dirigente sindical bancário
Desde os anos 90, as tecnologias da informação avançavam rapidamente e já era evidente que os sistemas de comunicação mundial seriam monopolizados por alguns players, o início das big techs que vemos hoje. Como dirigente sindical, vi o início do domínio do Google, Facebook, Twitter, YouTube, assim como já conhecíamos o domínio da Microsoft e Apple na área em que atuavam. Aliás, o domínio cartelizado dos meios de produção, inclusive de cultura e comunicação, não é novidade para nós. Desde a ditadura civil-militar de 1964-85 o Brasil está sob a comunicação de poucas famílias.
Desde que entendi como a coisa funcionava, passei a ter uma preocupação grande com esse domínio privado dos meios de comunicação num mundo altamente conectado e dependente dessas tecnologias para tudo: onde estavam guardados nossos dados? Por onde passavam nossas informações de email, redes sociais etc? Onde estava o meio físico da internet?
No sindicato, tivemos em 2004 um debate interessante na direção: se mantínhamos servidores próprios para nossos sistemas e bancos de dados e para nosso site, com os investimentos e eficiência necessários para mantê-los atualizados, ou se desfazíamos dessa estrutura e passávamos a hospedar site e banco de dados em servidores do mercado. Fui defensor ferrenho da tese de manter internalizados os sistemas e servidores. Felizmente prevaleceu essa tese na direção.
Ao mesmo tempo, cheguei a conversar com lideranças da CUT Nacional a respeito de ideias que tinha sobre essa questão estratégica de comunicação, informações do mundo sindical e da luta de classes. Eu entendia ser importante que entidades de trabalhadores não dependessem das estruturas de nossos adversários. A CUT, por exemplo, poderia investir num portal com servidores próprios e com capacidade para abrigar os sites e bancos de dados de seus afiliados.
O fato concreto é que sabemos hoje que poucos bilionários dominaram o mundo e isso extrapolou a questão empresarial. Estamos falando de domínio político do mundo e manipulação do comportamento dos bilhões de cidadãos em todos os continentes do planeta. Por mais que as instituições políticas discutam e aprovem leis e normas para regular minimamente essas big techs, os avanços da última década em relação a algoritmos chegaram a níveis perigosos. Até as democracias já não funcionam mais adequadamente por causa da sua influência política.
Em 2022, se não houver novos golpes, teremos uma oportunidade de salvar o Brasil e o povo brasileiro, interrompendo a tragédia do regime bolsonarista. Chance de reconstruir o país, cuja destruição atingiu todas as áreas e dimensões da vida brasileira.
Entendo que uma das propostas a se avaliar em um eventual governo Lula ou do campo democrático e popular é a criação de uma estrutura pública nacional que abrigue e disponibilize ao povo brasileiro todos esses sistemas fornecidos hoje pelas big techs, empresas que nos utilizam como commodities para faturarem bilhões de dólares em marketing baseado em algoritmos que, além de usar nossos dados para fazer publicidade de empresas, alteram nosso comportamento para nos influenciar a adquirir os produtos dessas empresas.
A criação de estruturas públicas de comunicação e redes sociais é uma forma de democratizar o direito ao acesso às diversas formas de redes sociais que existem, da mesma forma que bancos públicos são importantes para democratizar o acesso à bancarização.
Essas estruturas públicas de comunicação social devem vir acompanhadas de debates públicos de regulamentação de proteção de dados e de não utilização dos usuários como produtos, bem como com regras claras contra censura de governos e políticos. É necessário haver alguma regulamentação sobre o uso de algoritmos. O acesso a redes de comunicação públicas deve ser um direito do povo fornecido pelo Estado nacional.
William Mendes
Ex-dirigente sindical bancário
Fonte: este artigo de opinião faz parte do livro Depois da tempestade, com prefácio de Celso Amorim, organização Cleusa Slaviero, 1ª ed., Curitiba, PR. Compactos, 2022.
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