Refeição Cultural
"(...) mas filosofia é uma cousa, e morrer de verdade é outra..." (p. 5)
Machado de Assis publicou este romance em 1891. É um dos grandes clássicos do Bruxo do Cosme Velho.
O personagem principal, Quincas Borba, apareceu no romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de 1881.
Quincas é o célebre criador da doutrina filosófica Humanitismo. A famosa frase "Ao vencedor, as batatas" vem dessa doutrina.
Eu diria que Machado brinca um pouco com as novidades científicas da época através do personagem Quincas e o Humanitismo ao fazer coro com a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin.
No romance, temos como personagens Quincas Borba, Rubião, Maria da Piedade, Cristiano Palha e Sofia. E o cão Quincas Borba. Depois vão aparecendo personagens secundários como o Freitas e o Carlos Maria e outros.
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ENREDO
Em breve sumário, podemos perceber o seguinte nos primeiros capítulos:
Rubião está no Rio de Janeiro, no ano de 1868, sede da Corte. Reside na Praia de Botafogo. Ele era professor e agora é "capitalista". Está bem de vida por ser o herdeiro dos bens de Quincas Borba, que não tinha família quando morreu. Quincas, por sinal, foi uma pessoa sem posses até que recebeu herança de um parente. Sabemos do passado de Quincas porque Machado nos remete ao outro romance, o Memórias Póstumas de Brás Cubas, quando ele dormia nas escadarias da igreja e teve contatos com o Cubas. Quincas foi viver em Barbacena, se enamorou de Maria da Piedade, irmã de Rubião, mas não casaram, pois ela morreu antes. Rubião deu um jeito de ser o herdeiro do Quincas. Ele agora tem um novo casal de amigos, Cristiano e Sofia. Rubião cuida do cão Quincas Borba.
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DIÁLOGO COM OS LEITORES
Machado falando com as leitoras e leitores é muito legal:
"Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada que os suspiros no namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a levou." (p. 3/4 do capítulo IV)
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O NOME DO CÃO QUINCAS BORBA
"Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba, - um cão, um bonito cão, meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto..." (p. 5)
E o filósofo explica por que colocou no cão seu próprio nome:
"- Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro..."
O motivo doutrinário para nomear o cachorro com o nome do dono é que o princípio da vida, "Humanitas", reside em toda parte, estando também no animal, que pode ter assim nome de gente.
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QUINCAS, O MAIOR HOMEM DO MUNDO
"(...) Crê-me, o Humanitismo é o remate das cousas; e eu, que o formulei, sou o maior homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas Borba está olhando para mim? Não é ele, é Humanitas..." (p. 8)
E para finalizar o capítulo seis, Quincas lança sua teoria de "ao vencedor, as batatas".
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AO VENCEDOR, AS BATATAS
"(...) Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas." (p. 9)
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FALECIMENTO DE QUINCAS BORBA
Neste romance, o autor mantém uma relação interessante com o romance anterior, do personagem Brás Cubas.
Rubião recebeu carta de Brás Cubas dando notícias da morte de Quincas, que estava hospedado em sua casa no Rio de Janeiro.
Machado de Assis inovou em tudo na literatura brasileira.
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A BELA SOFIA
"(...) Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco, - mas ia menos por si que para aparecer com os olhos da mulher, os olhos e os seios. Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para mostrar aos outros as suas venturas particulares. Era assim um rei Candaules, mais restrito por um lado, e, por outro, mais público." (p. 41/42, Cap. XXXV)
Lendo a respeito da personagem Sofia, de 1891, me lembrei do clássico "A mulher de trinta anos", de Balzac. Não sei se Machado leu Balzac, mas pode ser que tenha lido seus livros.
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Enfim, que delícia ler Machado de Assis!
Sigamos!
William Mendes
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