Refeição Cultural
Osasco, 31 de outubro de 2025. Sexta-feira.
OUTUBRO
Um mundo bárbaro! Um mundo em colapso. É o sentimento que sintetiza a realidade que vejo. E com isso não quero dizer que devemos desistir de viver, sequer de lutar para mudar o mundo. Por isso mesmo é que devemos viver e atuar para mudar a realidade, porque viver é bom e a vida vale a pena.
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"O horror, o horror!"
Rio de Janeiro - Toda pessoa humanista ou ao menos com caráter que exista no Brasil deve estar se sentindo triste e compadecida com as famílias das vítimas da chacina policial promovida pelo governador do RJ nesta semana ao realizar uma operação nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou no assassinato de mais de uma centena de pessoas (121 vítimas até o momento). Ainda há pessoas desaparecidas.
O horror, o horror!, como disse o personagem Coronel Kurtz no livro "Coração das trevas", de Joseph Conrad.
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Memórias
Meus registros dos fatos e acontecimentos, assim como dos sentimentos sobre as coisas do mundo, vão ganhando importância para mim à medida que o tempo passa e nossas mentes vão se transformando em outra coisa, diferente das mentes que tivemos ao longo de séculos, até milênios. As big techs estão modificando de forma proposital a mente humana e estamos perdendo as qualidades animais que nos fizeram sermos seres humanos inteligentes.
O ser humano está colapsando assim como o planeta Terra está à beira de um colapso por causa dos animais humanos vivendo sob a hegemonia do modo de produção social capitalista, modo focado no lucro e na acumulação de uns poucos em prejuízo do restante das pessoas e formas de vida no ambiente terrestre.
Desde que surgiram as tecnologias de comunicação atuais, a internet e as redes sociais, a lógica de capturar a atenção dos usuários - a economia da atenção -, a utilização de aparelhos eletrônicos com algoritmos e IA que fazem com que as pessoas percam a capacidade de concentração, reflexão, memorização e criação de soluções para a vida cotidiana, há uma preocupação crescente de estudiosos em relação ao risco de o homo sapiens deixar de ser a espécie animal que criou o mundo como nós o conhecemos, para citar uma expressão do neurocientista Miguel Nicolelis, quando fala do cérebro humano, "O verdadeiro criador de tudo".
Por isso acho que as memórias são importantes, o passado coletivo é fundamental para entendermos o presente e definirmos o futuro, e fui convencido que a vida vale a pena através de um processo dialético do viver.
Cadernos dos blogs: estou num longo processo de sistematização de toda a minha produção textual de duas décadas. Dei uma cansada. Mas preciso seguir até terminar o trabalho. Sinto que só vou me sentir livre para iniciar um projeto qualquer após terminar isso.
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Curso de extensão
Terminei o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo - Colapso ambiental e alternativas", com 50 horas de duração e ministrado por professoras e professores excepcionais. O curso foi realizado pela Unesp e IDEC, e organizado através da Coordenadoria de Desenvolvimento Profissional e Práticas Pedagógicas da Unesp (CDeP3).
Tivemos entre julho e outubro 12 aulas com uma equipe de docentes marxistas com temáticas que nos fizeram refletir muito sobre a atual crise estrutural do capitalismo e alternativas para uma nova sociedade global. Relembrei minhas noções de economia e outras áreas do saber humano.
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O alimento cultural
Durante o mês, procurei me alimentar culturalmente com novos conhecimentos nas mais diversas áreas do saber.
Reli e resenhei no blog as entrevistas do livro "Leituras da crise" (2006) com Marilena Chaui (aqui), Leonardo Boff (aqui), João Pedro Stedile (aqui) e Wanderley Guilherme dos Santos (aqui). O livro foi central em minha formação política logo no início de minha jornada como dirigente sindical da categoria bancária.
Ganhei de presente do companheiro Luizinho Azevedo seu livro "Desafios do Sindicalismo no Brasil Contemporâneo" (comentário aqui). Gostei da abordagem do tema, Luizinho foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região nos anos oitenta e pertencemos ao mesmo grupo político, o Coletivo BB, da Articulação Sindical da CUT. Fui dirigente do Sindicato entre 2002-2014.
Conheci Isaac Asimov, finalmente. Já li quatro contos dele: "Um dia", "Amor verdadeiro", "Estranho no Paraíso" e "O melhor amigo de um garoto". Os textos compõem o livro "Os melhores contos de Isaac Asimov". Estou gostando dos contos do autor.
Estou lendo lentamente o livro "Infância" (1945), de Graciliano Ramos. Cada capítulo é uma espécie de pequeno conto que aborda um evento ou temática da vida do garoto, personagem da história. Ler Graciliano é um privilégio, o escritor é incrível!
Vi dois filmes antigos muito bons e que me deixaram reflexivo: "O Show de Truman: O Show da Vida" (1998), dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol e "O patriota" (2000), dirigido por Roland Emmerich e escritor por Robert Rodat.
O filme com Jim Carrey antecipou em décadas o fenômeno dos Reality Show e a forma extremada de propagandas e vendas através de uma transmissão pela televisão. As pessoas são coisas, tudo está em função do like e do lucro... incrível como a história é semelhante ao mundo fake no qual vivemos em 2025.
O filme estrelado por Mel Gibson é interessante porque aborda uma questão histórica, o processo de independência da ex-colônia inglesa. Óbvio que a narrativa tem toda aquela presepada patriótica enfiada goela abaixo dos povos do mundo pela indústria cinematográfica de Hollywood, mas sabendo filtrar essa questão, é possível assistir às quase 3 horas de filme com olhar crítico. Foi o que fiz ao rever a película.
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Livro de memórias sindicais
Durante o período de isolamento da pandemia mundial de Covid-19 e sobrevivendo no Brasil de Jair Bolsonaro, escrevi memórias sindicais em meu blog A Categoria Bancária. Ao longo de quase dois anos fui escrevendo reminiscências dos tempos de trabalhador da categoria bancária que depois virou representante dos colegas em diversos mandatos sindicais.
Os 39 textos de memórias foram importantes para o autor porque o ajudou a através aquela longa noite de terror que o povo brasileiro viveu durante os anos de governo de destruição do clã bolsonarista e seus asseclas. Cada texto é independente e completo, trata de alguma questão específica. Em essência, os textos lembram ao autor e às pessoas que leram e que venham a ler as concepções e práticas políticas de sindicatos cutistas. O trabalho de base é central nessa experiência.
Após a exposição dos textos no blog, e as postagens tiveram um acesso surpreendente, surgiu a ideia de editar as memórias em livro, e então fiz uma edição impressa para presentear pessoas que fizeram parte de minha formação política ou que estejam atuando na luta incessante da classe trabalhadora explorada pelos donos do poder, os capitalistas.
O mês de outubro foi diferente em relação ao meu cotidiano. Além das participações em eventos políticos que já realizo normalmente, encontrei algumas pessoas queridas para um café ou almoço para presentear o livro de minhas memórias.
A ansiedade de entregar a alguém um livro que você escreveu é algo que jamais pensei sentir. É estranho, confesso! Fiquei relutante desde o início se deveria fazer um livro de minhas memórias.
Eu adquiri o hábito de fazer textos dizendo o que sinto, penso ou compartilhando algo que aprendi em meus blogs, mas parei de mandar os textos para pessoas e grupos. É uma forma de ficar na minha, e de respeitar o tempo das pessoas. Se alguém quiser saber o que escrevi é só acessar os textos na internet.
Fazer um livro é voltar ao modo antigo, de quando eu tinha a prática de me manifestar porque entendia ser necessário quando representava pessoas e grupos. Ainda me sinto pouco à vontade com relação ao livro, que por sinal ficou muito bonito e bem editado por Cleusa Slaviero e sua Editora ComPactos.
Tive um contratempo com a gráfica, que fez 20% das unidades com erro de impressão nas primeiras páginas, um transtorno indescritível e irreparável, pois posso ter presenteado alguém com uma edição com erro dei impressão... foda isso! Os serviços estão muito ruins atualmente. Não culpo a editora, culpo a gráfica, que deveria ter algum controle de qualidade no que faz.
Enfim, minhas memórias estão ganhando o mundo, viajando no espaço e no tempo, sendo preservadas por aí algum tempo a mais que no mundo virtual, da internet e das nuvens.
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Meu corpo segue integrado à natureza
Finalizo essas reflexões e registros a respeito de meu mês de outubro.
Anoto para eu mesmo ler no futuro ou alguma pessoa de minha relação, que minha saúde não está lá essas coisas. Sigo disciplinado nas atividades físicas, mas meu corpo cansou da jornada extenuante que percorreu. Percebo isso. Sou natureza.
William
(21h31)

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