“A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais") é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. Mais abrangente que a línguística, a qual se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico – Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciência etc.
A semiótica é um saber muito antigo, que estuda os modos como o homem significa o que o rodeia.”
Fonte: Wikipédia (algumas pessoas viram a cara para a enciclopédia livre, mas, prefiro ela aos copy right privados e caros)
Anabb e Banco do Brasil e a relação com os negros
Eu tenho por hábito folhear instantaneamente qualquer material que vejo, seja uma revista, folder, calendário etc. Entendo que nesse negócio de comunicação um pingo é letra e comunica algo.
É assim que vejo quem e de onde se está falando quando folheio uma revista semanal da grande mídia – essas das poucas famílias que dominam tudo aqui no país e que boicotaram a Conferência Nacional de Comunicação, como os grupos de comunicação privada O Estado, Abril, Folha, Organizações Globo.
Ainda hoje, essa mídia de direita e de elite “pobre de espírito” é a consubstanciação do velho Positivismo dos séculos passados que, dentre outras coisas, era usado para justificar a supremacia branca e eurocêntrica por aqueles que pregavam que nós – os latino-americanos “inferiores e selvagens” – só melhoraríamos à medida que a raça dessas terras do sul do Equador passasse por um processo de branqueamento.
Observem que não existem negros ou pardos nas revistas da grande mídia. Principalmente na metade delas que não é matéria ilustrada e sim propaganda, pois paga-se a eles por 100 páginas para ler umas 60 de propaganda de gente loira, “linda”, magra e que “significa” a ideia de que sucesso e coisa boa e “clean” é estar sob a ditadura do belo e artificial “humano” contemporâneo.
Não são só as revistas da grande mídia. Essa coisa do branco e clean está em tudo que representa os espaços burgueses da nossa sociedade “moderna”. Folheiem as revistas de bordo da TAM ou da Gol e me digam depois. Não há negros ou pardos – às vezes, eles “ilustram” alguma propaganda governamental nas revistas, só isso.
Calendários e cartões de final de ano da Anabb
Cheguei ao trabalho e folheei um calendário de mesa 2010 da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil - Anabb. Uma entidade que se diz “uma das maiores entidades de funcionários da América Latina”.
Achei o que vi até engraçado - partindo de quem vem. A entidade nunca aceitou fazer eleições sérias e democráticas. Além disso, durante o (des)governo FHC/Tucanos nunca esteve ao lado do funcionalismo e da Central Única dos Trabalhadores no enfrentamento contra a retirada de direitos e congelamento salarial. Pelo contrário, estava sempre a rondar as "negociações" da Contec. Os mais antigos lembram bem disso! O calendário da Anabb é semiótica pura. Vejamos:
Conforme vou virando as folhas dos meses vejo jovens homens e mulheres brancos; um casal branco – loiros (“Anabb de portas abertas...”); uma mão branca segurando uma casinha (“Coop-Anabb”); um papai jovem e branco segurando uma criancinha clarinha que é uma beleza! (“Anabbprev”); uma loirinha de olhos claros mostrando os dentinhos (“Odontoanabb”); uma mamãe loira e uma criancinha loira – parecem escandinavos! (“Seguros Decesso”); outra bela loira – o Brasil branqueou mesmo! (“Convênios...”); uma loira e uma garota oriental (“Assessoria Parlamentar”); uma mulher branca (“Prêmio Pontualidade”); um casal branco – seriam brasileiros? (“Comunicação”); entramos no mês de novembro com duas mãos brancas se cumprimentando (“Estratégia”) e, finalmente...
Não, eles não esqueceram que existem negros e pardos no Brasil. Mês de dezembro – temos ali uma bela criancinha negra para ilustrar que a Entidade se envolve em questões de “Cidadania”!
A semiótica é perfeita! Estaria a diretoria da entidade ou parte dela querendo “significar” que coisa de negros é uma questão de ação social? Coisa de “cidadania” fazer algo por essa “gente não branca” do Brasil?
Deixo a reflexão para os usuários do calendário de mesa “clean” da Anabb.
Cartão de Feliz Natal 2010 do Banco do Brasil SA
Já faz tempo também que observo os cartões e calendários do maior banco público do país – o BB.
Mal acabo de folhear o calendário de mesa da Anabb e vejo afixado o cartão de boas festas do BB.
“Em 2010, o Banco do Brasil vai continuar sendo todo seu”.
A capa do cartão tem um desenho de um pássaro e o papel está vazado para mostrar um casal – de brancos – em seu meio.
Em seu interior, dez belas pessoas – colegas do banco (“employees”) -sorriem e ilustram os valores da empresa.
Que beleza, heim! Colocaram uma pessoa negra no meio de nove brancas. Seria cômico se não fosse patético. O que o banco está comunicando ali? Seria uma empresa responsável socialmente, que aceita que existe diversidade?
Seria o Brasil um país de gente branca, mas que convive com as “minorias” de forma harmônica? Fala sério BB!
Aliás, o Banco do Brasil tem sido campeão em vender uma imagem que não condiz com a verdade. Diz respeitar normas e direitos trabalhistas nacionais e internacionais e, no entanto, tem praticado atos e perseguição antissindical a funcionários e dirigentes em suas agências no Paraguai, Uruguai (fechou) e Argentina. Faz o mesmo no Brasil: o que dizer da substituição de funções sem o devido pagamento?
O cartão é bilingue, ou seja, também vai para o público externo. Até podem me dizer que na revista interna ao funcionalismo – BB.com.você - tem mais gente negra, mas a imagem que ilustra o banco para o mundo – a imagem que “significa” – é outra coisa que observo há tempos dessa diretoria do banco ou parte dela.
A semiótica pode nos ajudar a conhecer a realidade do que certas entidades são e que, muitas vezes, pode ser o contrário do que dizem. Fiquemos atentos aos sinais e signos externalizados por grupos e empresas.
William Mendes
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