domingo, 11 de julho de 2010

Antonio Candido: Humanismo e Socialismo


Homenagem a Antonio Candido.
Foto: FPA

Estou fuçando em meus papéis, pilhas de papéis, para dar um jeito de reduzi-los, haja vista que já está difícil transitar em minha casa.

Peguei um texto de 14 páginas para ler sobre o mestre Antonio Candido. Eu o imprimi da internet faz quase um ano. São algumas citações de Candido postas no blog Viva Babel. O blog, por sinal, é muito bom e eu o recomendo aos amantes da cultura.

Cito aqui algumas frases também citadas no Blog sobre o texto de Candido "O direito à literatura", no livro Vários Escritos (São Paulo, Duas Cidades, 1995) e também de seu discurso feito no recebimento do troféu Juca Pato em 2008.

O PODER DOS CLÁSSICOS

O poder universal dos grandes clássicos: "ultrapassam a barreira da estratificação social e de certo modo podem redimir as distâncias impostas pela desigualdade econômica, pois têm a capacidade de interessar a todos e devem ser levados ao maior número".

CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO

"O processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante".

SER ESSENCIALMENTE PROFESSOR

Antonio Candido por si mesmo: "Tenho gosto e vocação para transmitir aos outros o que sei, e como costumava dizer Antônio de Almeida Júnior, o professor não é obrigado a criar saber, mas sim a transmiti-lo. Esta foi a tarefa que sempre me atribuí". (Antonio Candido em entrevista concedida em jun/1993 a Gilberto Velho e Yonne Leite, do Museu Nacional da UFRJ)

UM LEITOR CRÍTICO QUE VIROU PROFESSOR DE LITERATURA

Antonio Candido fala de como passou de "crítico titular" do jornal Folha da Manhã a professor de literatura.

"Foi nessa tarefa, não na Universidade, que me formei como crítico, pois sou licenciado em Ciências Sociais, não Letras, e naquele tempo (anos 40) dava aulas de Sociologia. O meu tirocínio foi portanto adquirido dentro da tradição franco-brasileira do jornalismo, o que me ensinou antes de mais nada a procurar clareza e simplicidade na escrita. Sou, portanto, um crítico de jornal que passou mais tarde ao ensino da literatura, o contrário do que é frequente em nossos dias".

COMENTÁRIO DO BLOG: que tristeza ver o que virou a grande imprensa e os jornalões após a eleição do presidente Lula no Brasi a partir de 2002. A imprensa comercial virou um Partido da Imprensa Golpista (PIG) e deixou de fazer o bom e velho jornalismo que tanto contribuía até para a formação social e da sociabilidade. Foi-se o tempo do jornalismo das grandes empresas...

INTELECTUAL SOCIALISTA CONTRA A DITADURA DO ESTADO NOVO

"Aquele momento era de intensa politização dos intelectuais, segundo o espírito predominante no decênio que sucedeu ao movimento armado de 1930. Eu embarquei nesse rumo, politizando talvez um pouco demais a minha atividade crítica, mas correspondendo assim ao ânimo de militância que era o dos intelectuais contrários à ditadura do Estado Novo. Afinado com as tendências radicais do momento, assumi então posições socialistas que não abandonei mais e continuam a nortear as minhas convicções relativas à necessidade de transformar profundamente a nossa sociedade desigual e mutiladora".

TRADIÇÃO DO HUMANISMO OCIDENTAL PÓS SÉCULO XVIII

"Segundo a qual o homem é um ser capaz de aperfeiçoamento, e que a sociedade pode e deve definir metas para melhorar as condições sociais e econômicas, tendo como horizonte a conquista do máximo possível de igualdade social e econômica e de harmonia nas relações. O tempo presente parece duvidar e mesmo negar essa possibilidade, e há em geral pouca fé nas utopias. Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade. E é o que favorece a introdução, mesmo parcial, mesmo insatisfatória, de medidas humanizadoras em meio a recuos e malogros. Do contrário, poderíamos cair nas concepções negativistas, segundo as quais a existência é uma agitação aleatória em meio a trevas sem alvorada".

COMENTÁRIO FINAL

Como disse um dia desses em uma postagem, nos enaltece como seres humanos termos entre nós pessoas como Eric Hobsbawn, Antonio Candido, Nelson Mandela, Maria da Conceição Tavares, Noam Chomski, Luís Inácio Lula da Silva, dentre outros ícones humanistas que nos ajudam a pensar e refletir sobre o "mundo mundo vasto mundo" (Drummond) que habitamos.

E não podemos perder a Utopia, pois acredito que outro mundo é possível!


Post Scriptum (17/1/16):

Relendo esta postagem mais de cinco anos depois, gostei muito dela. Muito atual! Alguns ícones meus morreram neste período como, por exemplo, Hobsbawn, Mandela e Saramago, mas a necessidade de acreditar num mundo mais humanista segue firme e imprescindível.

William

Post Scriptum 2 (18/1/16):

Fui reler horas depois a postagem novamente e acabei indo estudar o incômodo que me causava a palavra "papeis" escrita sem o acento agudo em meu texto de 2010.

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor em 2009, a palavra "papéis" continua sendo acentuada, porque só caíram os acentos dos ditongos abertos OI e EI quando estão na posição de paroxítonas; eles continuam na posição de oxítonas.

Desculpem a falha gramatical formal (eu sinceramente não ligo para isso, mas sei que muitos leitores ligam).

William


Post Scriptum 3 (0:33h de sábado 13/5/17):

Faleceu nesta sexta-feira 12 de maio, aos 98 anos de idade, o professor Antonio Candido. Que tristeza perder nossas referências! Professor Candido, presente!

2 comentários:

Elizabeth disse...

William, gostei também do seu blog e obrigada pela citação.Por incrivel coincidência, já trabalhei em bons tempos na imprensa dos Bancarios e fiz varios amigos lá.Ano passado estive para participar de um projeto lá do qual nao tive resposta até agora. Mas as coisas andam assim.Também façoo doutorado em Letras, portanto, temos muito em comum, grande abraço
E a poesia do Paes é demais.

William Mendes disse...

Valeu colega! Vamos partilhando conhecimento e lendo o que há de bom pra ler e divulgar.