Capa original do filme. Fonte: Wikipedia. |
Nesta madrugada, acabei de assistir à trilogia das cores de Krzysztof Kieslowski, cineasta polonês falecido em 1996, vítima de um infarto fulminante no auge da carreira.
O terceiro filme, A Fraternidade é Vermelha, é belíssimo.
É sobre a estória de uma jovem modelo que vive em Genebra - Valentine (Irene Jacob). Após atropelar uma cachorrinha pastor alemão, ela vai atrás do dono do animal - o juiz aposentado Joseph Kern (Jean-Louis Trintignant), que passa o dia escutando as ligações telefônicas dos vizinhos.
Neste filme da trilogia, além de vermos o renascer da esperança após cada tragédia pessoal, temos também a mão do acaso podendo mudar uma trajetória negativa da existência que pareceria inexorável.
A vida do juiz aposentado Joseph Kern, homem que viveu infeliz após uma traição na juventude, é um espelho do que poderia ser a vida do jovem juiz Auguste (Jean-Pierre Lorit), que padece do mesmo início de vida adulta que teve aquele juiz aposentado.
A esperança de uma virada na vida do jovem juiz está em Valentine, a jovem e bela modelo que busca viver dentro dos padrões de correção tanto social quanto de consciência. Ela se preocupa com o animalzinho atropelado, com o irmão problemático, com a mãe, com o juiz aposentado, com todo mundo.
CENA DO LIXO - NOSSA REDENÇÃO EM VALENTINE
Aliás, temos a bela cena da fraternidade neste filme. Os espectadores viram nos 3 filmes a cena de uma pessoa idosa tentando colocar uma garrafa no depósito de lixo na rua. A francesa Julie (Juliette Binoche) viu e nada fez para ajudar no primeiro filme. O polonês Karol (Zamachowski) também nada fez no segundo filme ao ver a cena. A nossa redenção vem com Valentine, que sai de seu momento de observação e vai em socorro da velhinha ao ajudá-la a colocar a garrafa no lixo.
COMENTÁRIO FINAL
A Liberdade guiando o povo - Eugène Delacroix (1830) |
A cena final após o naufrágio é muito interessante. É a Europa que estava ali representada. Era a esperança que havia duas décadas antes, a cena era o nascimento da União Europeia.
E agora? Do naufrágio real da crise europeia, que esperança há para franceses, poloneses, ingleses, suíços, espanhóis, portugueses, gregos e tantos outros?
Kieslowski não está mais entre nós para filmar os acasos e nos apresentar possíveis leituras e mudanças de rotas existenciais. Resta a nós mesmos cismarmos onde toda a crise europeia vai desaguar.
Na França, o povo escolheu um socialista para o próximo mandato presidencial. Na Espanha, escolheram um neoliberal. Em Portugal outro neoliberal. Extremas direita e esquerda crescem na Europa...
É isso! A ver...
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