Reflexão à luz de
Drummond e Hamlet
Meu tempo
atual tem sido o tempo descrito no verso tão forte do grande poeta Drummond.
A vida tem
sido uma ordem, sem mistificação alguma. A minha vida tem sido assim.
Eu relaciono cada verso deste poema ao que tenho enfrentado nas últimas semanas. No passado,
cada música marcava algo em minha vida. Hoje, cada verso dos poemas que gosto
marca meu viver.
Ontem em
uma difícil reunião política, ofereci este poema aos participantes. Era um
sinal de que apesar das discussões dentro dos edifícios, a vida prossegue e as
mãos seguirão tecendo o rude trabalho.
Sempre em
benefício da luta pela libertação da classe trabalhadora do jugo explorador do
Capital e da alienação determinada pela classe dominante.
Os
ombros suportam o mundo
Chega um
tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade,
em Sentimento do Mundo, 1940)
Acrescento ao poema de Drummond uma famosa reflexão de Hamlet de 1603 (Shakespeare) sobre o SER OU NÃO SER. O que ficou para a posteridade nesses séculos foi somente esta parte da reflexão.
A expressão
abre uma reflexão profunda e angustiante do jovem príncipe da Dinamarca Hamlet
sobre seguir vivo ou não, diante de tamanha tragédia vivida por ele. No fundo
de sua dor, ele se questiona se não seria melhor o sono da morte, mas o que a
morte nos traz? Ninguém de lá voltou para nos dizer. O dilema do jovem é
viver... morrer...
Apresento
para vocês a reflexão completa sobre o:
“SER OU NÃO SER...
Eis a questão. Que é mais nobre para
a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se
contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes?
Morrer... dormir... mais nada...
Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes
infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.
Morrer... dormir... dormir... Talvez
sonhar...
É aí que bate o ponto. O não
sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando ao fim desenrolarmos
toda a meada mortal, nos põe suspensos.
É essa ideia que torna verdadeira
calamidade a vida assim tão longa!
Pois quem suportaria o escárnio e os
golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a
agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o
desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter
sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo,
se não por temer algo após a morte – terra desconhecida de cujo âmbito jamais
ninguém voltou – que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males
conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?
De todos faz covardes a consciência.
Desta arte o natural frescor de
nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se
desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem.
Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela
Ofélia.
Em tuas orações, ninfa, recorda-te
de meus pecados.”
COMENTÁRIO
FINAL
Os dois
clássicos, Drummond e Shakespeare, cada um a seu modo, põem-me a seguir
diariamente acordando e saindo para a luta por meus ideais que são os de lutar
por um mundo melhor, mesmo quando o meu mundo está em conflito como aquele
vivido pelo jovem Hamlet.
A vida
sempre prossegue, e assim deve ser para uma pessoa de ação como devemos ser
todos nós, agentes da transformação.
“Teus
ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança”
e ele não pesa mais que a mão de uma criança”
É isso!
Bibliografia:
ANDRADE.
Carlos Drummond. Sentimento do Mundo. Editora Record. Rio de janeiro e São
Paulo. 10ª edição, 2000.
SHAKESPEARE.
William. Hamleto. Coleção Universidade de Bolso. Tradução de Carlos
Alberto Nunes. Ediouro 10983.
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