sábado, 27 de agosto de 2016
Mad Max, Impeachment sem crime e o futuro
Refeição Cultural
Quando a trilogia de Mad Max apareceu nas telas de cinema nos anos oitenta, nós humanos ocidentais vivíamos a chamada "Guerra Fria". O primeiro filme é de 1979, o segundo de 1981 e o terceiro de 1985.
Este que vos fala, era criança e adolescente num país da América do Sul que vivia sob a égide do Estado de Exceção, vivíamos sob ditadura civil-militar desde 1964. Vários países da América Central e do Sul estavam sob ditaduras sanguinárias, o povo não era nada. Todas, todas as ditaduras tiveram o apoio do imperialismo norte-americano.
Eu era adolescente em 1985. Vivia em Uberlândia, Minas Gerais. A vida do povo brasileiro não-proprietário e não-dono das riquezas concentradas do país era uma vida dura, para muitos milhões de brasileiros era uma vida de merda, uma vida de miséria, de fome e de nada possuir.
Passaram-se três décadas. Estou com 47 anos. Vi muita coisa em minha vida e já estou me sentindo velho em certo sentido nos últimos meses. Estou vendo um mundo desmoronando e outro vindo no lugar. O que está vindo é o mesmo em que cresci de 1969 à década de oitenta e noventa.
Quantos países vivem num mundo Mad Max depois das guerras que tiveram o dedinho do imperialismo americano - Kuait, Iraque, Líbia, Afeganistão, Arábia Saudita, Síria, países africanos... agora estão na lista por causa do petróleo que possuem Irã, Venezuela e brazil (a poucas horas de efetivar no Congresso Nacional o Golpe de Estado final, destituindo a presidenta Dilma Rousseff, eleita com 54,5 milhões de votos em 2014).
Talvez o meu desânimo não seja por falta de vigor para lutar, porque na minha função de representação eleita atual, estou lutando até o esgotamento de minhas energias vitais, para fazer o que deve ser feito pelos trabalhadores que represento.
Meu desânimo é pela total falta de leitura política, de formação política, dos milhões de jovens e trabalhadores que ascenderam nos anos de governos progressistas do PT no Brasil, ou na Argentina dos Kirchner, ou em demais países sul-americanos que viveram os últimos dez a quinze anos com governos que fizeram mandatos não subservientes aos imperialismos americano e europeu. Foram governos que focaram o povo pobre, excluído, trabalhador e explorado ao longo da história, que se esforçaram pela soberania nacional, para reverter o que denuncia Eduardo Galeano em seu clássico Veias abertas da América Latina.
Existe uma lógica que faz parte da ideologia da classe dominante (matar a política com a desculpa da "formação técnica" - tudo seria uma questão de decisão "técnica" e para isso seriam necessários os "mais preparados" pelas escolas da formação burguesa - canudos, diplomas, 'emebiei' etc).
Essa lógica de matar a representação política real nos parlamentos e executivos se infiltra pelos poros de nosso povo da classe trabalhadora por falta de formação política para eles.
Como todos os meios de comunicação, de fornecimento de leitura, materiais escolares do setor privado e até público, pertencem aos mesmos donos de tudo, as cinco mil famílias que detêm toda riqueza no Brasil, eles determinam o que nossos jovens, nossos trabalhadores e nossos pobres vão pensar, defender. E eles vão defender as ideias que privilegiam a classe dominante. Isso é ideologia. E funciona!
Talvez em menos de uma semana, estaremos vivendo num país sob um novo governo, após a derrubada do governo eleito pelo voto popular em 2014. (e olha que tod@s sabem que é um teatro, uma mentira, uma ficção as motivações "técnicas" dos órgãos "técnicos" e políticos). Dias depois vão começar a foder com a minha, a nossa aposentadoria de trabalhador com desculpas "técnicas", rasgar nossos direitos trabalhistas, sociais, políticos e humanos com desculpas "técnicas" defendidas por gente formada, de terno e gravata de marca, sapatos e carros caros. Que lixo esse que meus pares da classe trabalhadora não percebem!
Quais consequências teremos com o fim da crença na democracia em nosso país. Crença que eu mesmo sempre defendi, como liderança política de trabalhadores por quase duas décadas (antes, tudo que sentia era raiva e ódio de um mundo injusto).
Daqui a alguns dias, dois ou três, eu não terei mais base para defender as mudanças sociais via democracia, via voto (one man, one vote). Como fica o que eu sempre expliquei para os trabalhadores e para as pessoas que conheço? Que sempre achei que a Política é melhor que a guerra, porque na política se convive com as diferenças, e na guerra se extermina o diferente.
No mundo em que vivo, até os favorecidos pela "Ética da Política" dos governos do Partido dos Trabalhadores nos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff (e não pela falsa ética na política), enfim, até os favorecidos caem no engodo de achar que a técnica se sobrepõe à política. Os pobres, excluídos e trabalhadores favorecidos pelas políticas econômicas e programas sociais dos governos do PT entram na onda da ideologia da classe dominante, que aplica novo golpe no Brasil e exterminará quase três décadas de relativa paz social.
Ao mesmo tempo em que órgãos com funcionários públicos concursados (STF, MP, MPF, PF...) destroem nossa democracia, a pedido dos donos dos meios midiáticos, empresários, herdeiros do brazil-colônia etc, gente do meu lado da classe trabalhadora já reverbera os pseudo discursos criados pela máquina totalitária nauseabunda dos golpistas formatando corações e mentes da classe que vai sofrer as consequências de regressão de mais de século de conquistas.
Vislumbro um mundo Mad Max...
William Mendes
Cidadão que viveu para ver os anos passados voltarem
(texto feito ao som de "We don't need another hero", trilha do filme Mad Max - além da cúpula do trovão)
Post Scriptum - Eu preferiria muito mais um mundo com a política, do que com heróis.
Marcadores:
Brasil,
Cassi,
Comentários sobre filmes,
Dilma Rousseff,
Distopia,
EUA,
Guerras,
História,
Ideologia,
Mel Gibson,
P.I.G.,
Política,
PT,
Refeição Cultural,
Sociologia,
William Mendes
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário