domingo, 3 de setembro de 2017
Casa-grande & Senzala - Leitura do 1º Capítulo
Refeitório Cultural
Não foi fácil terminar o primeiro capítulo do ensaio de Gilberto Freyre (de 1933). Além de ser uma leitura lenta, complexa, eu fui metódico e li todas as notas ao final do capítulo. Para se ter uma ideia sobre a importância das notas e referências, enquanto o capítulo teve 53 páginas, as notas ocuparam 28, sendo a letra destas minúscula.
Com o Prefácio à 1ª Edição, do próprio Freyre, já tinha se dado o mesmo: foram 25 páginas de explicações sobre a obra e várias notas em 10 páginas.
Apesar da leitura cansativa, e eu só posso me dedicar a estudos assim em finais de semana, eu já acrescentei em minhas reflexões visões novas e interessantes em relação ao pensamento a respeito da formação do Brasil e do povo brasileiro. A questão da má alimentação e da fome do brasileiro ao longo dos séculos, eu já havia lido em Celso Furtado - Formação Econômica do Brasil (1959), mais na forma de comentário que de aprofundamento. Clique AQUI para postagens sobre Celso Furtado.
No entanto, ao ler a obra neste momento, no Brasil do século 21, no pós Golpe de Estado em 2016, e vendo a destruição de nosso País e do patrimônio público e dos direitos do povo, a leitura ganha uma importância maior, eu diria de resistência ao torpor em que o povo foi colocado e segue sendo mantido pelos meios empresarias de manipulação de massa.
O capítulo primeiro se chama "Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida". Me lembrei de toda a obra de Machado de Assis, onde o locus era exatamente esse no século 19. Clique AQUI para postagens sobre Machado de Assis.
Se eu tivesse fôlego, faria uma longa postagem com várias passagens que achei interessantes, mas tenho pouco tempo para isso. Fica a sugestão de leitura aos nossos amig@s leitores.
UM PAÍS DE SENHORES E ESCRAVOS
A conclusão a que chega Gilberto Freyre ao final do capítulo segue bem atual: somos um país de senhores e escravos.
"Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, como já salientamos às primeiras páginas deste ensaio, um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e a indígena. A europeia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabeto. Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo". (pág. 116)
MÁ ALIMENTAÇÃO, POR CAUSA DA MONOCULTURA DO AÇÚCAR, E SÍFILIS ("OS MALES DO BRASIL SÃO", PARAFRASEANDO MACUNAÍMA)
Na questão da colonização portuguesa e na ocupação exploradora de grandes espaços geográficos como foi o nosso caso, eu ainda não tinha ouvido falar, de forma tão contundente, em uma explicação que desviasse do lugar-comum pejorativo ao achincalhar o povo brasileiro por causa de sua característica miscigenação. Freyre diz que dois fatores que prejudicaram muito o povo que surgia da colonização foram a fome e a má alimentação, por causa da monocultura do açúcar, e a sífilis, trazida pelos europeus desde o início do século 16.
"Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas: o Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado..." (pág. 110)
"Sob o ponto de vista da miscigenação foram aqueles povoadores à toa que prepararam o campo para o único processo de colonização que teria sido possível no Brasil: o da formação, pela poligamia - já que era escasso o número de europeus - de uma sociedade híbrida..." (pág. 110)
"A sifilização do Brasil resultou, ao que parece, dos primeiros encontros, alguns fortuitos, de praia, de europeus com índias. Não só de portugueses como de franceses e espanhóis. Mas principalmente de portugueses e franceses. Degredados, cristãos-novos, traficantes normandos de madeira de tinta que aqui ficavam, deixados pelos seus para irem se acamaradando com os indígenas; e que acabavam muitas vezes tomando gosto pela vida desregrada no meio de mulher fácil e à sombra de cajueiros e araçazeiros..." (pág. 111)
Enfim, como disse a vocês, gostaria de fazer várias citações, em relação à questão da fome e da má alimentação, tanto entre os escravos quanto na casa-grande, por não haver opções de alimento. É lógico que muito pior a condição na senzala.
Também tem explicações e teses sobre o porquê do Brasil não se separar em diversos países como foi no caso da América espanhola.
Meu desejo é voltar em outras postagens ainda sobre o prefácio e sobre o capítulo um, antes de continuar a leitura do livro.
Clique AQUI e leia postagem anterior sobre o livro, onde comento uma introdução feita por FHC em 2003. E clique AQUI para a primeira postagem sobre o livro.
Abraços aos leitores!
William
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