sábado, 22 de outubro de 2022

Leitura: Perestroika - Mikhail Gorbachev



Refeição Cultural

Gorbachev escreveu este livro em 1987. Ele faleceu no último dia 30 de agosto, aos 91 anos de idade. A opinião pública a respeito dele varia absurdamente, tanto à esquerda quanto à direita do espectro político mundial. O líder soviético foi agraciado com o Nobel da Paz em 1990. Elogiado pelos donos do poder capitalista, Gorbachev é chamado por setores da esquerda como o "coveiro do socialismo".

Eu tinha esse livro em casa fazia muito tempo. Já tinha lido um terço da obra. No dia de sua morte, peguei o livro na estante e comecei a ler de novo. Agora li até o fim as 300 páginas. Uma das impressões que tive ao ler pensando o contexto de 1987 foi uma impressão ruim, ele não deveria ter exposto tanto seu país publicamente como o fez.

1987

O ano de 1987 foi um ano de mudanças em minha vida, de rupturas. No início daquele ano me mudei para São Paulo, saindo da casa de meus pais em Minas Gerais. Fui morar numa espécie de república, na casa de minha avó paterna e de uns primos que moravam com ela. Iria fazer 18 anos de idade. 

Eu não era politizado. Me lembro do zum zum zum sobre a Guerra Fria, União Soviética, Gorbachev etc. Eu era facilmente manipulado pelo meios de comunicação dos empresários brasileiros (casa-grande). Fui manipulado por eles, lógico! Eu e 99% do povo brasileiro. Sempre! Os veículos de comunicação na eterna colônia Brasil são papagaios de repetição do que o império do norte pensa.

2022

Ao ler agora "Perestroika", a primeira parte do livro, me lembrei o tempo todo de minhas duas décadas de participação no movimento sindical brasileiro, lembranças boas e ruins, porque a vida real na política é bem diferente daquilo que se apresenta no teatro da vida social. 

Ao ler tudo o que Gorbachev escreveu e publicou em meados dos anos oitenta fiquei perplexo com a exposição desnecessária de problemas internos do socialismo como se naquele momento não houvesse uma guerra de vida ou morte, de existência, entre o capitalismo e o socialismo, entre a URSS e o império norte-americano e seu braço armado na Europa, Otan. Fala sério, gente!

A atual guerra entre os EUA e a Rússia, usando a Ucrânia e seu povo como bucha de canhão, tem tudo a ver com a dissolução da URSS e as consequências de se confiar na boa vontade do inimigo, o Tio Sam. 

Foi só acabar a URSS que os caras do Ocidente começaram a putaria de cooptar todos os antigos países do Pacto de Varsóvia para entrarem na Otan, trazendo com isso riscos reais ao país russo, na maior cara de pau. 

Enfim, achei a primeira parte até meio inocente, coisa que ninguém envolvido numa disputa de hegemonia de poder faria.

A segunda parte, "As novas ideias e o mundo", tem uma pegada mais pacifista e envelheceu melhor do que a exposição das entranhas do socialismo na União Soviética.

Uma coisa que me chamou a atenção em Gorbachev é o relato dele de estar sempre nas bases de seu país gigante conversando com o povo, com os trabalhadores. Também o desejo dele de mais liberdade e democracia para o povo. Ele fala isso o tempo todo no livro.

DESARMAMENTO E RISCO DE GUERRA NUCLEAR

Gorbachev tinha uma intenção sincera de buscar acordos para diminuir o risco de guerra e destruição nuclear da humanidade. A 2ª metade do livro conta essa história. Os Estados Unidos não toparam nada e toda hora faziam uma sacanagem para melar as negociações de desarmamento.

A esquerda trás consigo uma certa ética e valores que permitem a ela pensar o futuro do planeta e as próximas gerações em relação à preservação do meio ambiente e das condições de vida dos povos. Percebi essa preocupação ao longo de toda a argumentação do líder soviético.

Essa ética dos valores humanistas e ambientais é impensável na direita ou no capitalismo - nem cabe o "ou" no conceito -, isso é impensável no capitalismo de direita e extrema-direita (e não haveria capitalismo sem colonialismo, racismo, misoginia, preconceitos e demais valores e ferramentas do fascismo).

Enfim, foi interessante ler o que disse ao mundo Mikhail Gorbachev no final dos anos oitenta. Tudo mudaria para sempre logo depois. A queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, a ideia de Fukuyama do "fim da história" e a vitória definitiva do capitalismo neoliberal etc.

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ELEIÇÕES NO BRASIL

Tensão total, ansiedade, alternância de momentos de alívio e de apreensão. Um cansaço acumulado por anos de torturas diárias praticadas com sadismo pelo fascista e genocida no poder do Estado.

No próximo domingo 30 de outubro a vida de todos nós brasileiros vai mudar. É verdade que a mudança é a única certeza na vida humana e no mundo material. Porém, em alguns momentos da história, as mudanças se dão de forma a definir marcos temporais, tudo muda depois de tal evento... Dia 30 é um dia desses em nossas vidas.

Eleger Lula e a frente ampla no cenário colocado - uma sociedade fascistizada pelos donos dos meios de comunicação (a culpa é deles!) - é termos uma chance de recuperar um pouco de civilidade no país, é uma chance à metade progressista da sociedade, se não progressista pelo menos não reacionária e canalha. 

Se o miliciano representante do mal conseguir continuar no poder com as fraudes nunca vistas na história de uma eleição, será um novo nazifascismo vitimando não só os brasileiros, mas quiçá o mundo.

Quem diria que o jovem que saiu de Uberlândia em 1987 e que não tinha compreensão do que estava acontecendo na política mundial estaria aqui no Brasil em 2022 participando de um dos momentos que marcarão uma mudança na história do nosso país e continente sul-americano... Se não percebia a história mudando em 1987, hoje tenho a consciência clara do que está em jogo dia 30.

Torço pelo bem, torço pela eleição de Lula. Nossos biomas, nossos povos sofridos, nossa história, merecem uma chance de ser feliz. Mas sei que não existe juízo de valor na história real. Se perdermos, os vencedores aprofundarão toda a destruição e assim será.

Já ia terminando e quis registrar a minha perplexidade no empate técnico das pesquisas eleitorais entre Lula e o monstro. Por mais que saibamos das fraudes, das mentiras, do uso de bilhões do orçamento secreto e da máquina do Estado comprando votos, a gente nunca quer acreditar que o síndico e o zelador do prédio, que o primo, que nossos conhecidos estão com o inominável... Como perdoar essa gente? Eles aderiram ao nazismo!

William


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