Refeição Cultural
Osasco, 18 de outubro de 2022. Noite chuvosa de terça-feira em Osasco.
"A frase 'isto é torpeza de branco' marca, de saída, a singularidade de seu abolicionismo. Mais do que uma exclamação momentânea, a sentença organiza um aspecto da interpretação jurídica de Gama, tanto em matéria criminal como civil e administrativa: que a escravidão, tomasse ela a circunstância judicial e o tipo normativo que fosse, seria, sempre, um crime próprio da torpeza de branco. Tal qual um imperativo categórico, portanto, a torpeza de branco seria, em seu argumento de combate, a razão fundadora da escravidão. Com esse princípio, o advogado iria às últimas consequências, como de fato foi ao sustentar que 'o escravo que mata o senhor cumpre uma prescrição inevitável de direito natural'.” (Bruno Rodrigues de Lima)
Até dias atrás eu não sabia nada sobre Luiz Gama, praticamente nada. Sabia que ele existiu. Só. E isso tendo sido eu um dirigente eleito (branco) da classe trabalhadora por quase duas décadas. Digo isso com humildade e com a consciência de saber que não sabemos quase nada de assunto nenhum, quase nada. E também afirmo que mesmo não sabendo quase nada da nossa história de lutas de classe, arrisco dizer que ainda sei alguma coisinha a mais que a ampla maioria de meus companheir@s e pares da classe à qual pertenço. Sabemos muito pouco das coisas, por isso é uma obrigação estudarmos até o último dia de nossas vidas. Sempre é tempo de aprender algo novo.
Já sei alguma coisa sobre Lula. Sobre Mandela. Alguma coisa sobre Machado de Assis. Alguma coisa sobre o movimento sindical bancário. Alguma coisa sobre autogestões em saúde. Dessas referências, sei alguma coisa a mais que a maioria das pessoas. Na minha experiência de vida já estudei um pouco sobre essas pessoas e essas abstrações criativas de nosso cérebro humano. Organizações sindicais e associações de saúde do trabalhador são criações dos seres humanos.
Comecei a ler um dos volumes de Obras Completas de Luiz Gama (1830-1882) - Liberdade -, uma coletânea fantástica organizada pelo pesquisador Bruno Rodrigues de Lima, que passou quase uma década de sua vida procurando e reunindo centenas de textos de Luiz Gama, um dos guerreiros pela liberdade do povo negro em nosso país.
-------------
Apresentação do oitavo volume de Obras Completas de Luiz Gama:
"O oitavo volume, Liberdade (1880-1882), demarca o surgimento de um tipo de literatura de intervenção que exigia a imediata abolição da escravidão. Apesar da condenação moral do cativeiro ser recorrente na obra de Gama, é somente em 1880 que a campanha pela liberdade ganha um corpus textual específico. Os artigos deste volume, portanto, são fruto da luta radical pela abolição e por direitos. O abolicionismo de Gama, como ficará patenteado nas páginas de Liberdade, exigia cidadania e igualdade de fato e de direito."
-------------
A leitura do livro é uma oportunidade que se abriu ao me inscrever em um dos cursos do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), curso com a temática "13 livros para compreender o Brasil". Hoje sei alguma coisa a mais do que sabia ontem... não falo que a gente tem que estudar até morrer!
Ser ignorante é uma merda! Vejam meus pares da classe trabalhadora que não tiveram oportunidade de estudar ou não quiseram estudar, quase a metade deles é manipulada para apoiar o mal representado pelo nazifascismo que tomou conta do Brasil - movimento fascista que se nomina hoje como bolsonarismo. Temos que estudar! Como diz o historiador e youtuber Carlitos: "cabeça vazia é oficina para Bolsonaro!"
---
LUIZ GAMA
Que homem esse Luiz Gama! Que homem!
Nasceu na Bahia em 1830, de mãe negra livre e guerreira - Luiza Mahin, que participou de diversas revoltas das causas de seu povo -, e de pai fidalgo português, que o vendeu como escravo de forma ilegal aos dez anos de idade, quando sua mãe havia partido para a luta.
O garoto Luiz Gama veio parar em São Paulo, de onde fugiu e lutou por sua liberdade, e onde se constituiu como jornalista, advogado, poeta, escritor, republicano e abolicionista e uma das maiores referências de nossa história nas lutas pelo fim da escravidão e pela liberdade de seu povo e de todos nós. Liberdade com igualdade e cidadania. Que homem!
Li até o momento as primeiras 60 páginas do livro, a apresentação da obra e a introdução feita por Bruno Rodrigues de Lima. Quanta informação nova! E que admiração que já sinto por ter entre nós uma figura como essa, Luiz Gama. Amanhã, terei o privilégio de assistir a uma aula presencial do curso do ICL sobre Luiz Gama, aqui em São Paulo.
É isso! Que sigamos estudando e nos tornando menos ignorantes e menos vulneráveis às manipulações dos meios ideológicos dos poucos donos do poder que estão destruindo a espécie humana e o mundo como nós o integramos ao nos desenvolvermos como homo sapiens no último minuto da história do planeta Terra, ao considerar o quanto somos recentes neste mundo de bilhões de anos e o quanto já o destruímos em tão pouco tempo, algumas centenas de anos.
William
Bibliografia:
GAMA, Luiz. Liberdade (1880-1882) - Obras Completas de Luiz Gama. Org. Bruno Rodrigues de Lima. 1ª edição. Editora Hedra: São Paulo, 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário