sábado, 30 de novembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 30 de novembro de 2024. Sábado.


NOVEMBRO

Introdução

A intenção é fazer um texto reflexivo que represente o que sinto que sou, uma pessoa de esquerda. Tenho ouvido algumas lideranças de nosso campo dizerem que uma característica importante em alguém de esquerda é não ser pessimista, pois isso poderia passar uma crença de que está tudo perdido e que nada tem solução. Tendo a concordar com esse conceito. Eu não sou determinista, não acho que as coisas já estão dadas e acabou, que não tem mais jeito para as merdas que estão em andamento. Fui determinista quando cria em outras concepções de existência. Não sou mais assim e sei que o ser humano é uma espécie extraordinária e cheia de possibilidades. Temos a capacidade de aprendizagem e somos dotados de sistemas cerebrais evoluídos há milhões de anos. Então, gostaria de tentar ser realista, apontar as merdas pessoais e coletivas, deixar claro que há esperanças e elas estão em nós mesmos, e quem sabe, no texto, eu registre e defina algumas coisas para mim mesmo, pois quando releio meus diários acabo verificando se fiz ou realizei algo que planejei ou se ainda sinto o que sentia no momento da enunciação.

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Brasil

Começo fazendo algum registro sobre o nosso país, o nosso mundo, o lugar no qual a nossa vida se desenvolve. Dediquei pouco tempo à leitura política neste mês, de propósito. 

Até o mês passado, eu estava muito envolvido com as eleições, fiz campanha nas ruas e na internet. Não fugi de minha natureza e formação política, mesmo podendo gozar a vida de outra forma como muitos que conheço fizeram após se desligarem do banco público onde trabalharam e ou do movimento sindical e partidário. Fiz minha parte e tentei contribuir para nossos projetos políticos de esquerda nas eleições municipais.

A esquerda, como sempre, está muito dividida em relação ao governo Lula em seu terceiro mandato presidencial. Eu vejo a esquerda dividida há décadas. Óbvio que o passado é uma referência, mas os contextos são sempre únicos porque as sociedades mudam com o tempo. 

Em linhas gerais, a divisão sempre tem um conteúdo de concepção e prática, de leitura de conjuntura e de onde se quer chegar e como chegar lá. 

Parte de nós acha que o governo deve ir mais para o centro e centro-direita, "governabilidade" e tal; parte acha que o governo deve ir mais para a esquerda. Estou no grupo que acha que deveríamos ir mais para a esquerda, para mim o tempo de negociação e conciliação com os adversários políticos acabou. O que se tem hoje é a ascensão do fascismo. Não são adversários, são inimigos. Não se negocia com fascista, eles te traem e te matam.

Nosso governo de frente amplíssima com direita e ultradireita - os golpistas e bolsonaristas que compuseram com Lula - está executando medidas que agradam a uns e desagradam a outros em nosso próprio campo. Anunciou isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais, medida que atingiria mais de 20 milhões de pessoas, e no ajuste fiscal vai mexer com setores importantes das classes populares alterando direitos sociais históricos de outros tantos milhões de pessoas, as mais necessitadas do Estado. É foda!

Na área diplomática, eu já ando puto com o nosso governo faz tempo (e não me venham com esse papo que não se pode criticar erros de nosso governo!). Na minha leitura, deixamos de ter uma diplomacia "ativa e altiva" e voltamos a ser um país que fala grosso com os países subdesenvolvidos e falamos fino com imperialistas do Norte. O caso da Venezuela é um exemplo: é in-jus-ti-fi-cá-vel vetar o país nos BRICS por causa de umas merdas de atas eleitorais. Por outro lado, o Brasil deixa Israel fazer o que quer conosco e não faz nada. Nosso governo fica lambendo o governo francês que perdeu as eleições parlamentares e deu um golpe nos dias seguintes sem acatar a decisão do povo francês. Cara, puta que pariu esse comportamento na área externa!

Eu sinto que o governo Lula e os outros dois poderes, pensando o núcleo principal de ministros e alguns aliados da frente amplíssima (até os caras do judiciário), estão envidando todos os esforços para que o bolsonario não seja preso, estão pedindo pelo amor de deus para que ele fuja e que as autoridades não precisem prender o canalha. Eu estou falando e escrevendo isso há muito tempo. É uma gente covarde essa nossa! Em qualquer um dos duzentos países do mundo o salafrário já estaria preso preventivamente. O cagão já foi de travesseiro em mãos para uma embaixada e falou de novo em fugir. Eles planejaram matar autoridades de Estado e instalar nova ditadura e já sabem disso faz tempo. Os covardes de todas as instituições responsáveis estão tirando sarro da cara das pessoas sérias do país. Deixaram o inelegível (ainda) fazer campanha Brasil afora. Meu, eu já enchi o saco com isso!

Outra coisa: já deu a paciência para o republicanismo estúpido da esquerda quando chega ao poder. Cara, fala sério! FHC, Temer e bolsonario nunca respeitaram burocracia alguma escrita ou consuetudinária na administração pública, estatal e ou de economia mista. É um republicanismo infantil, idiota, esse nosso! O Lula e o PT indicam quando são governo só porcaria nas instituições - do tipo STF e PGR - que depois vão foder ou eles mesmos ou os servidores públicos e os direitos caros aos trabalhadores. A esquerda precisa deixar de ser besta quando chega ao poder! Caraca, coisa básica isso! 

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ESPERANÇA - Tenho visto muita gente jovem nas manifestações de rua e nos movimentos que estão à frente de pautas importantes para mudarmos o mundo atual hegemonizado pelo capitalismo, consumismo, individualismo e que enaltece a ignorância. Isso é um alento de esperança. A tecnologia que pode ser usada para manipular milhões de pessoas através de algoritmos e sofistas canalhas, também pode ser usada para acessarmos quase todo o conhecimento humano produzido até hoje. Com um pouquinho de interesse e orientação, qualquer pessoa pode ou poderia aprender o que quiser, e em qualquer lugar. Eu tenho 55 anos e quero aprender um monte de coisa e quero passar adiante o que sei. Já que o movimento sindical não quis aproveitar a experiência que acumulei, estou escrevendo para quem quiser ler os temas que escrevo. É o que posso contribuir no momento. Passar gratuitamente o pouco de sei.

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Todo dia é dia para algo novo...

Ainda procuro sentidos

Estou vivo, estou aqui no mundo. Isso é uma oportunidade incrível. Sou um homem de sorte.

Acabei de voltar de Ushuaia, no Extremo Sul da Argentina. A vida é assim, todo dia é dia para algo novo, inusitado. No início deste ano voltei a Cuba, que não conhecia até o ano retrasado. Já conheci países que nunca imaginei pisar como, por exemplo, os Estados Unidos. Nunca se sabe o dia de amanhã. 

Eu havia planejado ainda como jovem adulto que iria fazer o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Não fiz o Caminho. De repente, a vida me colocou por semanas na Itália e Espanha, a trabalho. 

Se tivesse feito as besteiras que pensei nos tempos de depressão e revolta, não teria sido sequer um militante da classe trabalhadora que liderou lutas e teve sua relevância na construção de um mundo do trabalho mais justo e solidário. Sequer teria desfrutado da convivência de pessoas queridas da família e de pessoas que deixaram lembranças em meus pensamentos.

Fui agraciado pela natureza e pela casualidade e pelos destinos que as veredas que peguei me levaram a ter como, por exemplo, meus pais e familiares mais próximos todo esse tempo, até meus 55 anos de idade. E pelo que sei hoje, não infartei ou tive um tipo de acidente vascular como mais ou menos está na minha genética porque 10 anos antes passei a dar mais atenção à saúde ao ser gestor de uma operadora de saúde. 

Cerca de metade da população do Brasil e do mundo vai morrer ou ficar com sequelas por agravamento de doenças crônicas facilmente controláveis através de atenção primária e acompanhamento por medicina de família, eu fui um sortudo que ganhei 10 anos a mais de vida por isso. É uma pena que a autogestão que administrei deixou de focar o modelo que desenvolvemos por décadas lá. Muita gente como eu vai perder a oportunidade de viver uma década a mais.

Enfim, eu tenho a consciência que preciso viver, e preciso estar bem, até porque sei de minha importância para algumas pessoas queridas. 

Vou me esforçar para manter e se possível melhorar minha condição de saúde. Vou tentar ler e estudar e escrever algo a respeito nos próximos meses, como faço nos blogs. Vou tentar ser mais inteligente e ver o que faço para superar os grandes problemas cotidianos que me deixam descabriado pra caralho.

Minha companheira diz que eu não tenho medo. Eu tenho: tenho pavor de ser acometido por doenças degenerativas de meu cérebro, de minha identidade. Estou estudando para exercitar meus neurônios e fortalecer minha memória. E sei que agravamentos de doenças crônicas também causam riscos de danos nos sistemas circulatórios etc. Isso eu tenho medo. Confesso.

Sigamos lutando por um mundo sem o predomínio do capitalismo, causador da destruição do planeta e ameaça às diversas formas de vida na Terra, incluindo a espécie humana, que pode mudar o mundo para melhor porque conhecimento para isso já acumulamos.

William Mendes


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