segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A suposta igualdade - A revolução dos bichos


O monstro da dor nas costas.
Deve ser o peso das reflexões.
Foto de composição: William Mendes


Refeição Cultural - (fev/2011)

CISMANDO COM AS LEITURAS...

Li a esmo um livro na estante: Vastas emoções e pensamentos imperfeitos, de Rubem Fonseca. Foi uma leitura descompromissada. Li umas 50 páginas e fui caminhar até a padaria, que é longe.

Após o café, fui mexer um pouco em minhas anotações sobre a primeira aula de Leituras Hispano-Americanas. Verei um tema interessante neste semestre, sobre autores argentinos e textos autobiográficos.

De tardezinha, ainda bastante incomodado com uma discussão política da semana que passou, em que houve um debate acerca de haver pessoas de primeira e segunda classe nos grupos do movimento sindical em que milito, peguei para reler A revolução dos bichos, de George Orwell.

Terminada a releitura à noite, é a terceira vez que leio o livro, fiquei a cismar com o tema.

"TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS
MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS
QUE OS OUTROS"

A questão é: e aí? Existe algum lugar onde não se possa aplicar essa frase famosa do livro?

-Não escolheu Sofia uma entre duas crianças?

-Não tem um médico, em meio a vários feridos, que usar critérios para escolher a quem salvar primeiro?

-Tome um tiro no abdômen meu pai e um desconhecido, alguém acha que terei dúvidas sobre qual deles tentarei acudir primeiro?

-Sofreram de câncer no estômago e intestino o ex-vice-presidente José Alencar e minha querida tia Alice, varredora de rua da Prefeitura Municipal de Uberlândia. Ambos têm convênio médico e ambos têm custos de tratamento pagos pelo SUS (raramente os convênios pagam o SUS). Por que será que abriram minha tia e decidiram não fazer nada (ela morreu em 3 meses) e já operaram o nosso estimado José mais de vinte vezes em mais de uma década e felizmente ele segue vivo?

Eu me questiono se nessas perguntas acima a resposta passaria pela ideia de haver pessoas de primeira e segunda classe em relação a cada grupo em que o caso se passa.

O que seria a igualdade de tratamento em instituições, sociedades e grupos?

NÃO ACHO A IGUALDADE ABSOLUTA E MATEMATICAMENTE POSSÍVEL, mas acredito piamente que ela deve ser buscada.

Estou na política sindical há quase uma década e, realmente, sempre me fiz ouvir. Já ganhei e já perdi debates e teses.

Mas, de fato, existem pessoas - em todos os grupos e lugares - que se acham ou são consideradas mais importantes que outras. Disso, eu não tenho dúvidas. E não estou dizendo que concordo com isso.

Ademais, só fiquei esse tempo que estou porque no meu grupo original, ou seja, no lugar onde exerço minha militância, existe certa paridade e respeito às opiniões contrárias e minoritárias.

Nunca fui "enquadrado" por alguém mais importante que eu e nem "enquadrei" ninguém, se é que existiu essa "hierarquia" de eu estar no meio de uma pirâmide de importância.

Desempenho tarefas (ou tento) debatidas e definidas sempre, SEMPRE, em algum fórum e nunca em acordos de gabinete.

Será assim comigo enquanto estiver no movimento sindical.

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