Portal da cidadela antiga, com Palacio Salvo e monumento a Artigas ao fundo. |
Refeição Cultural - Uruguai
A seguir, registro como memória, alguns dias que passamos no Uruguai.
070716 - quinta
Saímos de Guarulhos, em São Paulo, para passearmos alguns dias no Uruguai. Eu já havia estado no país a trabalho certa vez, quando fiquei na Capital.
Nosso pacote de viagem nos levaria a Montevidéu, a Punta del Este e a Colônia de Sacramento. A ideia era desligar um pouco do trabalho e da política, se bem que desta última, a tarefa é mais difícil. A cabeça dos pais, principalmente da mãe, estaria dividida entre o passeio e a preocupação com o filho, que já segue sua vida de jovem longe dos pais, lá no interior de São Paulo, onde estuda.
A viagem pela companhia aérea Gol foi tranquila. Saímos do Brasil quase às onze horas e chegamos à Montevidéu pouco depois das treze horas. Em homenagem ao Uruguai e pensando o contexto político em meu país e na América Latina, fui acompanhado das palavras de Eduardo Galeano, grande escritor e intelectual uruguaio.
Mensagem da juventude uruguaia para o sujeito interino na presidência de nosso país. |
Eu olhava as paisagens de Nuestra América na janela do avião e lia as descrições profundas de Galeano sobre as desgraças cometidas contra nós povos das Américas, por séculos, pelos imperialistas brancos europeus e norte-americanos.
Sua obra Las venas abiertas de América Latina, apesar de ter sido escrita e publicada no início dos anos setenta, é extremamente atual. Passamos por um período curto com um pouco mais de perspectivas de soberania nacional em nossos países, entre o final dos noventa e a atualidade, período que havia começado com a eleição de Hugo Chaves na Venezuela, e depois seguimos bem com a eleição de Lula da Silva, os Kirchner e diversos governos populares em nossos países. Este curto período mais popular e propício à soberania nacional está ameaçado com golpes e eleições de governos de direita mais recentemente.
Artigas esteve à frente de uma das primeiras reformas agrárias da América Latina, no início da República Oriental do Uruguai. |
Na van que levou o grupo de brasileiros aos hotéis em Montevidéu, fiquei calado em nome dos "dias de descanso" ao ouvir um casal e familiares do interior de São Paulo conversando e falando suas abobrinhas e perguntando se no Uruguai também tinha a Dilma ou não... (imbecis). Tenho me esforçado a não comprar discussões políticas gratuitas desde que deixei de ser dirigente sindical e assumi um outro papel de representação social. Mas às vezes essas coisas nos consomem. A vontade era de começar uma discussão dentro da porra da van explicando para aqueles palhaços que no Uruguai não tinha "Dilma" mas tinha seu grande apoiador Mujica, que fez seu sucessor nas eleições presidenciais uruguaias, Tabaré Vásquez. Enfim, mesmo em férias, a gente não deixa de pensar, ver, olhar e refletir.
Após o check in no hotel no centro de Montevidéu, pudemos dar uma andada ao final da tarde. Não estava tão frio quanto poderia estar nesta época do ano. O Uruguai estava lotado de turistas brasileiros.
080716 - sexta
Nosso dia foi marcado por uma saída a passeio para a cidade de Punta del Este. O ônibus nos pegou cedo no hotel e saiu pegando turistas por quase uma hora dentro de Montevidéu.
Casapueblo, idealizada por Carlos Páez Vilaró. |
Uma das atrações principais do dia foi a visita a Casapueblo, uma belíssima construção que foi ao mesmo tempo residência e ateliê de seu idealizador, o uruguaio Carlos Páez Vilaró, falecido em 2014, e hoje é museu e hotel. A Casapueblo está em Punta Ballena, que fica a 13 km de Punta del Este, no departamento de Maldonado.
Em Punta del Este, vimos nas areias da praia local a famosa escultura "La mano" ou "Los dedos" ou ainda "Hombre emergiendo a la vida", do artista chileno Mario Irarrázabal, obra feita entre 1981 e 1982. Bem interessante a escultura.
Obra de arte imponente em Punta del Este, Uruguai. |
O passeio incluiu uma passagem do ônibus por um bairro de gente rica e famosa, uma "Beverly Hills" de Punta del Este. Essa parte do roteiro me deixou enojado. Fiquei pensando no espírito de vira-latas que faz parte da cultura da burguesia latino-americana, construída a partir da ideologia da classe dominante branca e crioula (os descendentes dos imperialistas e colonizadores desses séculos de destruição de Nuestra América).
Nada seria mais interessante que desapropriar todas aquelas mansões vazias daquele bairro inteiro para transformar aquilo em um bairro para milhares de pessoas da classe trabalhadora...
O passeio durou o dia todo e voltamos a Montevidéu de noite. Almoçamos uma parrilla e tomamos uma Patricia, cerveja uruguaia. Comprei um livro interessante numa livraria local de Punta del Este com os contos completos de Edgar Alan Poe. Paguei algo como 54 reais.
090716 - sábado
O clima do dia contribuiu para que pudéssemos andar à vontade pela cidade de Montevidéu. Fez sol e um friozinho tranquilo. A ideia era tentar fazer uma visita guiada ao edifício mais famoso do país, o Palacio Salvo, construído entre 1923 e 1928 e que foi o prédio mais alto da América do Sul até 1935.
Observando e sendo observados pelo gigante de concreto Palacio Salvo, de 1928. |
Deu certo e a experiência foi bem legal. Eu gosto de construções engenhosas que ressaltam a capacidade e inteligência humana, quando o quesito é nossa capacidade de alterar a natureza, manusear os elementos constantes dela própria e nossa destreza humana em inventar coisas e resolver problemas. O mamífero humano é capaz das coisas mais extraordinárias possíveis, para o bem e, infelizmente, para o mal também.
Um dos poucos passeios que pude fazer quando estive em Nova Iorque a trabalho, anos atrás, foi encarar a fila gigante para uma visita ao Empire State Building, de 1931, com 102 andares e 381 metros até o telhado. Quando estive em Buenos Aires, na Argentina, não entrei no Palacio Barolo, irmão do Palacio Salvo, mas pude bater umas fotos estando em frente a ele. Assim como no Brasil sou grande admirador do Edifício Martinelli, no centro de São Paulo, também torre mais alta das Américas em seus anos iniciais, inaugurado em 1929, com 39 andares e 130 metros de altura (abriga nosso Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região).
Torre Antel - outro arranha-céu de Montevidéu, abriga a empresa estatal de telecomunicações, inaugurada em 2002, com 32 andares e 158 metros de altura. |
Nosso grupo ganhou um extra raro na visita de sábado porque no momento em que descíamos da torre do Palacio Salvo, o morador do apartamento mais alto, único no andar, estava lá e nos convidou para entrar, o que nos permitiu ir até a sacada de 360º vendo toda a cidade de Montevidéu. Foi bem interessante!
Além disso, no passeio guiado fomos também ao terraço do 10º andar. Hoje, o edifício é residencial e tem centenas de moradores.
Ainda o sábado...
Teatro Solís, obra majestosa de Montevidéu. Tivemos o privilégio de assistir à peça O Otelo Oriental. |
Quando fomos à tarde visitar o belo Teatro Solís, inaugurado em 1856, aproveitamos a oportunidade de haver sessão à noite e voltamos às 21h para assistir a uma peça teatral - O Otelo Oriental. Pudemos conhecer o teatro por dentro da melhor forma possível. É belíssimo! A peça foi interessante e abordou a questão da influência inglesa sobre o Uruguai nos anos vinte do século 19, num enredo em que Brasil e Argentina disputavam espaços comerciais no país e ao final, saiu vencedor um terceiro, os ingleses com um tratado de livre comércio. Ai ai ai..., me lembrei do Eduardo Galeano e d'As veias abertas da América Latina...
E para o sábado ser mais completo ainda...
Una carne ancha y una cerveza Patricia en el Mercado del Puerto. |
Antes da noite teatral, fomos ao Mercado del Puerto comer as famosas carnes uruguaias e tomar uma cerveja Patricia. Enfim, foi um sábado repleto de cultura, diversão e comilança.
100716 - domingo
O domingo foi o nosso último dia em Montevidéu. Como o sábado foi intenso, resolvemos pegar leve. Fizemos o passeio no ônibus que passa pelos principais pontos turísticos da cidade. Mas não descemos em lugar nenhum porque as principais atrações estavam fechadas (ex: Assembleia Legislativa e Estádio Centenário). Foram duas horas de tour.
Assembleia Legislativa, palácio inaugurado em 1925 com arquitetura do neoclassicismo. Não conseguimos fazer a visita guiada porque era fim de semana. |
O passeio no bus turístico foi o que achei mais caro em Montevidéu. Diria que não valeu a pena. Foram 572 pesos cada, ou seja 1.144 pesos, que daria algo como 140 reais o casal. Só para se ter uma ideia do quanto foi caro, o passeio guiado no Palacio Salvo custou 200 pesos cada (algo como 50 reais o casal). E a peça de teatro no Solís custou 300 pesos o casal (uns 36 reais).
Por fim, comemos de novo no Mercado del Puerto e retornamos ao hotel. Fiz fotos bem bonitas em Montevidéu. Li um pouco do livro de Eduardo Galeano, Las venas abiertas de América Latina (1971).
Una calle en julio... |
Nos dias seguintes, estivemos na Colônia de Sacramento.
110716 - segunda
Logo pela manhã, demos saída no hotel em Montevidéu e fomos de van para a Colônia de Sacramento, fundada em 1680, distante 177 km da capital uruguaia, indo para o lado ocidental, adentrando ao Río de la Plata. Chegamos quase ao meio-dia.
Um belo Pôr do Sol em Colônia de Sacramento, Uruguai. |
Enquanto não podíamos fazer o check in antes das 14h, saímos para andar e já conhecer a parte histórica da Colonia. Almoçamos no centrinho velho e retornamos para dar entrada na pousada que ficamos até quarta-feira. Posada Del Virrey (muito agradável).
Numa única andada, deu para ver as ruínas da antiga cidade, as muralhas, a torre, a igreja principal e os casarões seculares. À noite, saímos para comer.
Ali, pensei comigo, seria boa oportunidade para ler e dormir, andar e refletir um pouco antes da volta à rotina desgastante em que minha vida se transformou nos últimos anos de militância política como representante eleito por trabalhadores, primeiro em entidades sindicais, e agora em entidade de saúde.
120716 - terça
Leseira... leitura pela manhã... Las venas abiertas de América Latina...
Saímos a flanar por las calles da Colônia. Subimos ao topo do farol para ver o Pôr do Sol no Río de la Plata.
Farol de Colônia, erguido sobre uma das antigas torres do Convento São Francisco Xavier. |
130716 - quarta
Leseira pela manhã e última saída a caminhar pela Colônia de Sacramento.
Andamos mais de 5 km indo da pousada até a antiga Plaza de Toros, de 1910. Depois pegamos um ônibus local com moradores e trabalhadores, que andou pelos bairros até chegar novamente ao centro histórico. Almoço... um café... e Pôr do Sol no cais local. Imagens fantásticas!
Saímos do Uruguai na manhã de quinta-feira.
Valeu a pena o passeio! Postarei mais fotos no blog anexo a este (clique aqui).
William
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