A Brasília das flores (não arranquei nenhuma delas, peguei todas no chão). |
Refeição Cultural - Diário 081217
Noite de quinta e início de madrugada de sexta-feira. E então chegamos a dezembro. Estou em Brasília. É o meu quarto dezembro nesta cidade e região do país. Estou sozinho no silêncio de casa. Estou nos últimos meses de meu mandato.
Há quatro anos, naquele dezembro, estava começando meu trabalho aqui. Estava conhecendo Brasília. Agora, desde junho deste ano, olho com muita atenção cada momento da natureza brasiliense. Aqui, cada mês do ano tem suas cores e seus sons - as flores, os frutos, a seca, o verde, os pássaros, os insetos de temporada.
Depois de mais um dia de trabalho na Cassi, vim para casa e apesar do olho pesado e do cansaço, saí para correr um pouco, assim como fiz na quarta-feira à noite.
Foi no final daquele primeiro ano aqui na capital do país que decidi voltar a correr. Tinha que fazer algo que me mantivesse em condição física e mental para enfrentar o estresse ininterrupto de ser gestor eleito da entidade de saúde dos trabalhadores que represento.
Entrei o mês de dezembro com o coração e mente repletos de sentimentos em relação ao trabalho que exerci nestes anos como gestor da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Definitivamente, sou uma pessoa muito intensa em meu fazer, em meu viver algo.
Eu não posso dizer que passou rápido esse período de lutas em defesa dos direitos em saúde dos trabalhadores associados da Cassi, em defesa da própria Cassi e de seu modelo assistencial, e por tabela, em defesa do banco público para o qual trabalho.
A minha dedicação foi tão grande e de maneira tão integral que eu estaria mentindo se dissesse que meu corpo e mente não estão cansados. Mas a disposição de lutar pela Cassi e o que ela significa é muito maior que o cansaço.
Além disso, de estar cansado pela jornada, mas com disposição de luta, posso dizer com franqueza que há um sentimento de amor e pertencimento no que fiz nos últimos anos pela Cassi e pelos trabalhadores que foi diferente de tudo o que fiz em toda a minha vida de lutas, e eu trabalho e luto desde uns 11 ou 12 anos de idade - já são mais de 35 anos vendendo minha força de trabalho para o sistema capitalista, sendo muitos anos sem carteira assinada e em trabalhos braçais.
Foram tão difíceis as batalhas que empreendi, e tantas delas são invisíveis para os associados que representamos, mas estou terminando o ano de 2017 com uma leveza de consciência que me permite ter espaço em meu coração para o sentimento de amor, de carinho, de solidariedade, e de paciência para tentar transmitir o inverso do que está acontecendo nas relações humanas em nosso cotidiano de um mundo em crise - os valores do momento são o ódio, a intolerância, a hipocrisia e o mau-caratismo.
Comecei a diminuir meu ódio do mundo e das coisas injustas do mundo quando entrei para o movimento sindical. Lá eu mudei como pessoa, melhorei.
Apesar de a todo instante ser tentado a sentir ódio ao ver o que estão fazendo com o povo que represento no Brasil, minha vivência de lutas na Cassi me resgata dos maus sentimentos e me dá uma sensação de esperança nas coisas boas, porque o que fazemos na Cassi é algo do bem para centenas de milhares de participantes. E tem coisas para corrigir e cometemos erros como entidade e como pessoas, mas pertencer ao sistema de saúde Cassi dá sentido ao esforço que fazemos em prol da coletividade.
É isso que estou sentindo neste momento de silêncio aqui em Brasília. Tenho muito amor aos meus entes queridos. Tenho amor ao que faço e ao que significa o nosso trabalho na Caixa de Assistência. Tenho uma gratidão grande a tod@s que se dedicam à Cassi.
William
Post Scriptum - e como não sentir raiva e indignação com o fascismo que toma conta do meu país, do meu mundo? O golpe perpetrado pelos empresários da comunicação monopolizada (PIG) e demais representantes da casa-grande e seus partidos políticos, com apoio estratégico dos Estados Unidos, segue destruindo os direitos sociais, a cidadania, a civilidade e a dignidade do povo brasileiro. Se eu não estivesse com um foco central na minha missão Cassi, eu não sei como estaria lidando com tanta injustiça e maldade contra o meu país e o meu povo. Felizmente tive a Cassi como causa nestes anos de destruição de meu país.
2 comentários:
Belo texto meu irmão. Posso te dizer que as tuas atribuições e lutas incessantes na CASSI foram teu foco e tua tábua de salvação. Toda essa putaria (não acho outra palavra) política-midiático-golpista (??), que aflige as terras de pindorama é de enlouquecer qualquer um. Se entrares no meu prontuário irás ver que acabei no Psiquiatra e Psicológo, fui obrigado a me medicar e buscar ajuda, para aqueles que vêem, que sabem e que tem a ânsia no coração de fazer um mundo melhor (ou ao menos um país melhor), toda essa conjuntura é como uma pedra pressionando sua cabeça, uma dor que não passa, uma tristeza profunda, insistente e desesperadora; a desesperança bate forte e pesado, não acredito mais em democracia onde esta é feita e controlada por uma máfia criminosa, queria ter sua força e esperança, mas confesso que estou no "automático", faço e participo de tudo por obrigação, não por crença de que resolverá alguma coisa. Criminosos e mafiosos tem que ser tratados como tal, tentar usar a lei (que eles controlam e modificam utilizando ao seu bel-prazer) contra eles mesmos soa ridículo e ingênuo. Já passou da hora de uma atitude mais enérgica e radical. Protestos, panfletos, campanhas, paralisações (?!), palavras de ordem, caminhadas, nada disso funciona mais, é só perda de tempo e de recursos materiais e humanos. Eles riem da nosssa cara e na nossa cara, e o que fazemos? microfone? Palavras de ordem? Eles transportam cocaína, matam posseiros, índios, ocupantes e quem se atravessar no seu caminho, saem impunes pois tem a "lei" na sua folha de pagamento, história velha, muito antiga, filme repetido inúmeras vezes por muitos anos, e continuamos a fazer de conta que as "instituições"são justas e vão resolver algo???? Minha intenção não é te pilhar mas tá na hora de pensar fora da caixa. Lênin tinha razão. Grande abraço do fundo da alma de um amigo que admira sua luta e postura.
Companheiro, eu sinto tudo isso que você descreveu. Não é fácil enfrentar a realidade, ainda mais quando vemos pouca possibilidade de reversão do quadro em curto prazo. Mas vamos juntos na luta, porque todo dia ao acordar temos que enfrentar toda essa merda que tá aí!
Fraterno abraço e sigamos firmes!
William
Postar um comentário