terça-feira, 9 de julho de 2019

090719 - Diário e reflexões - Desassossegado





Refeição Cultural

"Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal." (Livro do desassossego, Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa)


Feriado no Estado de São Paulo. Dia frio e com sol. Na hora do almoço, vou ao Shopping União e fico observando as pessoas passando pra lá e pra cá, enquanto aguardo a chamada da senha da comida. É um povão simples esse de Osasco. Gosto disso! Por esse motivo escolhi Osasco pra viver.

Desde a noite anterior fiquei pensando no presidente Lula. Vi a entrevista dele na TVT. A gente vê esse povão simples no shopping center... a gente sabe que o presidente Lula é apaixonado por esse povo ingrato. (aproveitei para me tornar um parceiro da TVT, esse importante projeto de comunicação popular: seja você também, clique aqui)

Lula reafirmou pela enésima vez que o que o mantém vivo naquela masmorra, preso por um conluio de juízes e procuradores canalhas, e que faz canalha e vigarista todo antipetista e odiador de Lula que apoia e endossa a canalhice, mesmo sabendo que ele é um preso inocente (afinal de contas, ele seria só um "petista" mesmo!). Enfim, apesar disso, Lula vive porque tem o desejo de ajudar esse povo miserável brasileiro.

A gente vê esse povo mestiço, desempregado ou subempregado, e procura encontrar no coração da gente a grandeza do presidente Lula. Não é fácil! Poucas figuras são injustiçadas, maltratadas, incompreendidas e seguem adiante em seus objetivos de melhorar a vida das pessoas pobres e ingratas. Lula e Mandela, pra citar dois presos políticos da história. Marielle Franco e Chico Mendes, pra citar dois líderes populares que não seguiram lutando pelos miseráveis porque foram assassinados pelos donos do poder que eles incomodavam.

Eu fico procurando encontrar um sentido nas coisas. É mais fácil quando você está envolvido em um processo de luta social como ocorre no movimento sindical ou estudantil como estive; este, movimento mais episódico para o estudante, por nos vermos nele enquanto estamos estudando; aquele, movimento mais perene por lidar com o mundo do trabalho ao longo de nossa vida laboral. Ainda temos (teríamos) que lutar para assegurar direitos após a vida laboral, para termos aposentadoria (mas a maior parte dos cidadãos de faixas etárias maiores está fora das atividades de lutas por direitos, infelizmente - sem contar que parte deles ainda apoia os ataques aos direitos, por falta de consciência política).

Amig@s, neste momento, final de noite e início de madrugada de 9 para 10 de julho, um grupo de seres humanos (animais humanos) está reunido no Congresso Nacional para acabar com a previdência pública e com a aposentadoria de dezenas de milhões de brasileiros e é público que foram gastos bilhões de reais para comprar os votos desses desgraçados. A destruição da previdência e das aposentadorias vai assassinar milhões de miseráveis brasileiros. Fará milhões de miseráveis que não seriam miseráveis. 

O povo não reage! As pessoas estão passeando nos shopping centers amortecidas pelas ferramentas de manipulação de massas (gente) e controle de consciências (de gente). Ficamos sem saber o que fazer para alterar a realidade (dessa gente). Tento encontrar a solução em alguma leitura, em alguma fonte de inspiração. Mas parece que não conseguimos organizar a resistência a toda essa destruição. As vítimas estão ao lado dos algozes. As que não estão, estão por aí, estão nem aí.

A gente deveria ler e estudar diariamente, cotidianamente. Deveríamos ler livros e autores que nos libertassem do jugo da manipulação. Pelo menos as pessoas que se colocam nas posições de vanguarda dos movimentos sociais deveriam ler os autores que dedicaram suas vidas para libertar o povo da exploração de meia dúzia de donos de tudo. Mas isso não ocorre no volume necessário - essa é minha impressão.

A gente pega mil coisas pra ler, acaba não seguindo em nenhuma delas. É desespero. A gente escreve, mas só alguns poucos leem. Os inimigos falam para milhões. Milhões! Milhões! A gente fala pra dezenas.

Eu peguei pra ler a entrevista de Marilena Chauí, de 2006 - "A ética Da política" e "Democratização e transparência: a tarefa do PT contra a despolitização e pela construção de uma ética pública", e fiquei tão encantado com cada página de aula dela sobre política, democracia, direitos sociais, papel do Estado, participação social, a prática como critério da verdade na ética da política, foram mais de 60 páginas apaixonantes, para se ler várias vezes e gritar pro mundo. 

Mas que adianta a leitura encantada dos ensinamentos de Chauí? Procurei fazer o que ela ensina em meus mandatos eletivos por quase duas décadas. Foi importante em meu percurso de representação. Passou. Hoje, se eu fizer uma postagem sobre o que li dos ensinamentos dela, serão poucos a lerem a postagem, talvez ninguém vá para a leitura direta do texto de Marilena Chauí. Nossa militância está lutando desorganizada contra os donos do poder. De novo, é a minha impressão.

Ao sair do Shopping União, vejo nessas bancas no meio do caminho, livros por baciada, todos a dez reais. Dez reais! E lá, vejo o livro de Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, de seu heterônimo Bernardo Soares. Dez reais! 10 reais. O preço de uma garrafa de cerveja por aí. 

Se formos pensar no preço das mercadorias, seriam necessários uns 15 livros de Pessoa para trocar por uma camisa amarela da CBF que custa mais ou menos 150 reais. Que equivalência, heim? Estudiosos de semiótica avaliam que a amarelinha virou símbolo do movimento de direita e do fascismo no Brasil pós golpe de 2016...

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"O coração, se pudesse pensar, pararia" (Bernardo Soares, Fragmento I, Livro do Desassossego)
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Apesar de tudo isso, a gente vai continuar procurando formas de contribuir para mudar esse estado de coisas injustas, bárbaras, corruptas, anti-humanas. Não tem outra coisa a fazer enquanto respiramos, enquanto estamos. Como dizia o poeta Antonio Machado, temos que caminhar, mesmo não tendo caminho. 

Eu talvez possa contribuir com algum conhecimento em alguma área que tenha acumulado experiência como, por exemplo, a do movimento organizado dos trabalhadores brasileiros reunidos na comunidade bancária e do banco público Banco do Brasil. Sei lá, quem sabe!

William

2 comentários:

Unknown disse...

Meu caro William, vc sempre provocante, sempre desafiando. Um abraço fraterno. Daqui dos confins do Extremo sul da Bahia.

William Mendes disse...

Tamo junto! Não há caminho a não ser caminhar e lutar por um mundo melhor, focado nas pessoas (todas) e não nas coisas. Abraços fraternos, companheiro!